O brasileiro é competitivo por natureza, quando se fala de futebol ou qualquer competição ele se joga de cabeça e não entra para perder. Com as escolas de samba não é diferente, é algo que arrepia e estremece as estruturas. Quando você vê, está torcendo, vibrando e roendo as unhas na leitura das notas. E os apaixonados? Aqueles que não vivem sem o carnaval. Seja desfilando, trabalhando no ateliê, no barracão, torcendo nas arquibancadas e camarotes ou simplesmente assistindo na TV de qualquer lugar do Brasil. Como começou o amor pelo carnaval e pela agremiação? Será que este amor passa de pai para filho com o DNA? A série “Apaixonados por carnaval” está aí para ouvir esses amantes dos desfiles.
O site CARNAVALESCO conversou com Renato Souza, de 25 anos, que mora em Realengo. Ele dedica bastante tempo do seu dia trabalhando em prol de movimentar as redes sociais “Independente na Identidade”. Isso poderia ser óbvio de acontecer, já que sua mãe foi passista da própria Mocidade. Mas, o destino quis tirar o pequeno menino dos seios da escola.
“Minha mãe era passista, porém, quando ela engravidou da minha irmã, começou a sair do mundo do samba. Nasci no Rio, mas nos mudamos para uma cidade na Região dos Lagos e fiquei longe fisicamente do mundo do carnaval”, comentou Renato.
A mãe de Renato contava sobre a época em que era passista, e isso fez o menino Renato sonhar acordado com o mundo do carnaval. Aos oito anos de idade, assistindo ao desfile da Mocidade de 2002 pela TV, despertou ainda mais este encanto.
“Abra as cortinas do seu coração
Nossa arte é vida, cheia de emoção
Vem sonhar acordado
Esse mundo encantado
É fascinação“ – Mocidade 2002
“O desfile do Circo Místico foi aquele que eu me lembro de ter visto pela primeira vez na televisão e ter ficado encantado com a escola”, relembrou.
Para dar uma esperança para o pequeno garoto, quando ele tinha 15 anos, finalmente, foi morar em Realengo, próximo a tão sonhada escola. Mas, nem tudo são flores: “Viemos para o Rio de Janeiro, porém, ninguém queria me levar para a Mocidade, e eu como era menor de idade não pude ir. Foi então que veio o carnaval de 2014”.
Quem não se lembra, os preparativos para o carnaval de 2014 foram um dos mais conturbados para escola de Padre Miguel, o presidente renunciou ao cargo, a escola mudou de direção e um comunicado mudaria a vida de Renato.
“Louco de paixão, sempre vou te amar
Luz da emoção no meu cantar
Independente na identidade
Com muito orgulho, eu sou Mocidade” – Mocidade 2014
“Antes do carnaval Pernambucópolis, quando já tinha os 18 anos, a escola convocou a comunidade para ajudar a finalizar o carnaval. Com a cara e a coragem, sem conhecer ninguém, que fui lá na Cidade do Samba, nem sabia como era, nunca tinha ido lá, e ajudei na confecção daquele desfile”, disse orgulhoso.
Renato conheceu pessoas e ajudou a fundar a torcida Loucos de Paixão, onde participou da direção até 2019. E, se “jogando” no mundo da Mocidade, foi que em 2015 ele até perdeu um ingresso que comprou para assistir aos desfiles.
“No carnaval de 2015, eu comprei um ingresso para assistir aos desfiles, porém, preferi ir para concentração. Fiquei tempos lá parado, a escola era a terceira de domingo, desfilei com uma chuva e o ingresso se desfez”, conta dando rizadas.
“Invade, se joga na felicidade
Fazendo a vontade do seu coração
Hoje é o dia vem se “acabar”
Deixa a Mocidade te levar!” – Mocidade 2015
E o desfile que ele mais vibrou foi o de 2017. “Nós que estávamos desfilando foi fantástico, pura emoção e depois de tempos você via a Mocidade fazendo um desfile digno. Aquele ano foi maravilhoso”, afirmou com entusiasmo.
“Abre-te Sésamo que o samba ordenou
Mil e uma noites de amor
Põe Aladdin no agogô, tantan nas mãos de Simbad
Meu ouvido é de mercador” – Mocidade 2017
Assim, ele ficou ainda mais apaixonado, sabendo como funcionava o organismo da escola, foi então que antecedendo o desfile de 2020 ele fundou o “Independente na Identidade”. Renato explica ao site que não é uma torcida organizada, mas um projeto para as redes sociais onde ele brinca com a linguagem dos memes e preenche o lado do torcedor nas lacunas às vezes deixadas pela escola.
“A comunicação da escola é boa, e ela que alimenta as nossas informações, porém, aquela linguagem do meme e do deboche nós fazemos. Eu participo também de grupos no Facebook e no Whatsapp para ver as aptidões e o que a galera busca. Não só isso, a escola posta a notícia e eu tento preencher uma lacuna afetiva do torcedor, através da linguagem das redes sociais”.
“É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção” – Mocidade 2020
Renato diz que toca quase tudo sozinho nas redes sociais, ele tem ajuda das amigas Fernanda e Carol, e do seu namorado Fabrício para conseguir atualizar as postagens. Mas, mesmo assim, é feliz no trabalho que presta. Perguntado qual recado ele daria para o torcedor da Mocidade, ele não fez de rogado:
“A torcida da Mocidade merece parabéns. Nas redes sociais ela é ativa, tudo participa e isso é ótimo, porém, essa intensidade faz com que eles peguem pesados em alguns aspectos. O que tenho que dizer é que a participação dos torcedores é ótima, mas em alguns momentos tem que pegar mais leve, ponderar”.