Por Gustavo Lima e Will Ferreira

Poucas finais de concurso de samba-enredo eram tão aguardadas no ciclo carnavalesco de 2025 quanto a dos Gaviões da Fiel. Com uma elogiadíssima safra, a agremiação do Bom Retiro realizou a decisão da escolha da canção na sexta-feira (20 de setembro) e contou com boa presença de público – entre torcedores, sócios da escola de samba e da torcida organizada e amantes do carnaval como um todo. A obra escolhida foi a composta por Grandão, Sukata, José Rifai, Ovelha JB, Juliano, Guga Pacheco, Gabriel Lima, Japa Mooca, Wesley, Morganti, Andrezinho, B. Cardoso, Gladzik, Renne Rocha e Dentinho do Morro, que escreveram o Samba 01 para embalar o enredo “Irin Ajó Emi Ojisé”, idealizado pelos carnavalescos Julio Poloni e Rayner Pereira.

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Fotos: Gustavo Lima e Will Ferreira/CARNAVALESCO

Horas e horas de samba

Se o evento começou com um DJ, por volta das 23h20 já era possível ouvir o esquenta da Ritimão, bateria comandada por mestre Ciro Castilho. Formou-se, então, um cortejo para saudar o pavilhã – pela ordem: casais, Harmonia, Velha-Guarda, Baianas, Comissão de Frente, destaques de chão, grupos cênicos e passistas. A ala musical, já no palco, executou o hino do Corinthians e mais dois alusivos. Veio, então, uma sequência para pulsar mais forte o coração de quem é dos Gaviões: “Agradeci a Deus” (exaltação), “A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente” (1994, reeditado em 2009), “As Cinco Deusas Encantadas Na Corte Do Rei Gavião” (2003), “No Jogo Enigmático Das Cartas, Desvendem Os Mistérios e Façam Suas Apostas, Pois a Sorte Está Lançada!” (2015), “Corinthians… Minha vida, minha história, meu amor” (2010) e “Um não sei que, que nasce não sei onde, vem não sei como e explode não sei porquê…” (2020). Por fim, também foi executada a paródia da torcida para a clássica “Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)”, de Tim Maia – hit na Neo Química Arena.

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Aí, começou o show da coirmã Mocidade Alegre, apresentando sambas-enredo e de exaltação da doze vezes campeã do carnaval paulistano – e atual bicampeã da folia em São Paulo. Vale destacar o ótimo número de componentes da escola, alguns deles fantasiados e coreografados. Dentre os presentes, estavam a presidente Solange Cruz e Marcos Rezende dos Santos Nascimento, o mestre Sombra, comandante da Ritmo Puro – bateria da agremiação. Chegou o momento das apresentações finais de cada uma das obras. A primeira a se apresentar foi o Samba 05, composto por Renato do Pandeiro, Lubé LK, Edmilson Silva, Fabinho do Cavaco, Kadu, Juninho da Vila, Guipa e Wilsinho Medieval.

O samba campeão veio logo em seguida, e vale destacar que os presentes, tão logo acabaram as seis execuções da canção (duas sem e quatro com bateria) começaram a gritar “é campeão”.

Por fim, veio a vez da execução do samba 02, composto por Cacá Mascarenhas, Rica Leite, Vini, Luciano Rosa, Gi Martins, Souza, Don Costa, Fernando Souza, Henrique de Ogum, Willian Tadeu e Minuetto. Alguns dos presentes também cantaram “é campeão” após o final da exibição.

Após cerca de meia hora de votação, o resultado foi revelado. Além da alegria dos presentes, vale destacar que alguns soltaram o grito de “Tricampeão”, já que parte dos vencedores também venceram o concurso nos Gaviões em 2014 (“R9 – O Voo Real do Fenômeno”) e em 2022 (“Basta!”).

Comemoração e agradecimentos

Ao falar da sensação pela vitória, Grandão, um dos compositores, relembrou todo o histórico dele na instituição: “Estamos em disputa há mais de 20 anos. O trabalho foi difícil, grandes sambas disputando, quero agradecer toda a nossa parceria, parabenizar a diretoria e todos da escola. É difícil, mas é uma alegria que a gente vive a escola, somos corinthianos, é muito feliz, é uma alegria que ganhei infinito”, disse, falando sobre o enredo anterior da agremiação – intitulado “Vou Te Levar Para o Infinito”, com o qual a agremiação ficou na quarta colocação e retornou ao Desfile das Campeãs após treze anos.

B. Cardoso preferiu relembrar o quanto os Gaviões estão presentes na vida dela: “Eu vim nos Gaviões quando eu tinha cinco anos de idade. A emoção para mim é muito grande. Hoje meu pai e meu irmão que me trouxeram se foram. O meu outro irmão é da bateria. Eu não tenho como descrever esse momento. É maravilhoso. É uma sensação que eu estou curtindo e não sei como explicar. Vou comemorar até segunda-feira!”, desabafou.

Outros compositores foram citados por Grandão: “Eu quero dedicar também este samba aos nossos parceiros ao José Rifai. Quero dedicar ao Thiago Meiners também, nosso parceiro que está no Rio de Janeiro e não pôde estar aqui, mas é um cara que representou a gente e estamos sempre juntos”, relembrou.

Dificuldade?

Ao ser perguntada sobre o quanto a temática afro tornou-se um desafio, Cardoso não negou que as palavras em outro idioma foram um fator a ser levado em conta: “O afro é bem difícil nas palavras, mas a gente tentou fazer da melhor maneira para as pessoas conseguirem pronunciar e apresentar o samba”, afirmou.

Mas, de acordo com ela própria, tudo se resolveuda melhor maneira possível: “Eu acho que foi uma das partes mais bonitas quando eu vi todo mundo cantando e gostando do samba. Até quando eu estava entregando a letra, falavam comigo: ‘Eu gosto do seu samba, eu quero que ele ganhe’. Mas você nunca sabe o que vai acontecer. A gente tem aquela fé que vai dar tudo certo”, pontuou.

Resultado agradável

Como dito anteriormente, a safra dos Gaviões era uma das mais elogiadas do carnaval paulistano. E todos os entrevistados pelo CARNAVALESCO fizeram questão de destacar não apenas o vencedor como também todos os participantes. Erica Jacobucci, uma das integrantes da Harmonia Guerreira (comissão do quesito dos Gaviões) foi uma delas: “Hoje é um dia muito importante para nós. Fizemos um trabalho bem legal ao longo dessa semana e a gente acredita que esse samba é bom – além da safra ser muito boa, qualquer um dos três que viesse seria bom. Temos um bom samba para levar para a avenida”, destacou.

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A opinião de Carlos Eduardo Guedes, o Pantinho, diretor de carnaval e com o mesmo apelido do mestre de bateria da Ritimão e presidente da instituição entre 2009 e 2011, seguiu a mesma linha: “Estamos felizes com o samba vencedor, mas é importante ressaltar que os três sambas finalistas estavam dentro do enredo. Qualquer um dos três que ganhasse representaria bem os Gaviões na avenida”, pontuou.

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Responsável por comandar a Ritimão, mestre Ciro Castilho aprovou a escolha e elogiou todas as obras finalistas: “Vamos muito bem para a avenida! Esse ano a gente ficou muito feliz porque as obras vieram muito fortes. Foi o comentário geral em toda a comunidade carnavalesca de São Paulo, é o que está todo mundo comentando. Quem ganhasse nos representaria muito bem, e a obra vencedora foi merecedora”, disse.

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As obras também foram aprovadas por Julio Poloni e Rayner Pereira, dupla de carnavalescos dos Gaviões. Perguntado se a canção fazia jus à sinopse assinada por eles, Julio pontuou que essa não é uma preocupação: “Perfeitamente! a safra dos Gaviões veio muito forte, muito boa, e com certeza a gente chega na avenida com um samba que tem todas as condições de representar o enredo e trazer a potência do desfile que a gente pretende em 2025”, comentou.

Rayner focou na exibição do samba vencedor ao falar: “A gente teve nove sambas – e, na final, os três que mais se identificaram com o nosso enredo vieram para o palco. O vencedor tocou o nosso coração de uma maneira especial”, disse.

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Ernesto Teixeira, intérprete da agremiação e conhecido como “A Voz da Fiel”, aprovou a escolha: “Acredito que esse é um grande samba. Do que a gente está ouvindo e já vimos na semifinal do samba, o desempenho dos finalistas foi muito bom. Uma coisa é a gravação, outra coisa é o desempenho do samba na quadra. Todo mundo se apresentou muito bem e o nosso escolhido, certamente, vai representar muito bem os Gaviões”, confiou.

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Por fim, o casal de mestre-sala e porta-bandeira preferiu focar na canção vencedora do concurso: “É o samba que os Gaviões escolheram, então pra gente foi o melhor. E é esse hino que a gente vai levar pra avenida e vamos dar o nosso melhor. É um samba bonito, lindo, está inteiro na sinopse e é isso que importa. É um samba que contagiou todo mundo que estava aqui hoje. É o samba que vai, é o nosso hino, é o escolhido e vamos lá”, pontuou Wagner Lima. Carolline Barbosa, porta-bandeira alvinegra, concordou: “O samba está contando a história do nosso enredo e ambos são bem bonitos. A nossa expectativa é chegar no Anhembi e trazer o melhor para a nossa escola”, destacou.

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Trabalho apenas começando

Os segmentos entrevistados também destacaram o quanto a rotina pensando no desfile está se iniciando. Erica, por exemplo, aproveitou para falar um pouco sobre o trabalho da Harmonia Guerreira: “A gente faz um trabalho que sempre envolve toda a comunidade dos Gaviões, todas as alas. Independentemente de que cada uma tenha o seu Harmonia designado, a gente também faz um trabalho geral. Eu acredito que nesse ano, o samba escolhido vai dar uma motivação extra, já é um samba diferente do que oS Gaviões estão acostumados. A gente tem algumas estratégias diferentes para esse ano para que o samba vá para a avenida explosivo como a gente está acostumado – e como a arquibancada gosta de ver os Gaviões”, comentou, prometendo surpresas.

Pantinho tratou de tranquilizar todos os torcedores falando sobre o andamento do cronograma alvinegro: “Está tudo dentro do cronograma que foi traçado no começo do ciclo. Está tudo dentro da logística. Já estamos em execução de fantasias e dos carros legóricos. Já está tudo andando conforme a nossa programação. Ele aproveitou para falar, em primeira mão para o CARNAVALESCO, a próxima data importante ligada à escola: “Semana que vem, dia 27 de setembro (sexta-feira), vai ser a nossa Festa dos Pilotos, com apresentação das fantasias para a comunidade e para todos os interessados”, revelou – destacando, também, que será realizada, pelo menos, a Festa das Passistas, além dos tradicionais ensaios.

Ciro destacou que a cabeça do mestre de bateria já está borbulhando pensando em como será a apresentação no Anhembi: “Esse samba mexe com a cabeça não só do mestre, mas dos diretores – que me ligam todo dia para falar do tema. Eles me mandam vídeos, também. A gente já tem algumas bossas pensadas. Sobre as ideias… não tem como um enredo e um samba desse não não ser inspirador. A gente já está vendo muita coisa, já estamos trabalhando. Vai ser fantástico!”, prometeu.

Precavidos

Intérprete dos Gaviões de 1985, Ernesto Teixeira revelou-se um grande estudioso sobre as obras que foram finalistas – e, claro, sobre a canção vencedora: “A gente está sempre ouvindo, as canções. Estamos fazendo só uma semifinal e uma final. Quanto mais você ouve o samba ao vivo, mais você vai pegando a mensagem de cada um deles, pegando a melodia de cada um deles… e, aí, vai vendo o que fica bacana, colocando o seu jeito de fazer. Agora, com a nossa escolha, a gente vai ouvir mais uns dias para colocar a nossa cara de vez no samba”, detalhou.

Por fim, mostrando que os Gaviões estão prontos para tudo, o casal de mestre-sala e porta-bandeira surpreendeu. Ao serem perguntados sobre os movimentos que pensam em fazer de acordo com a obra escolhida, a reportagem foi interrompida por Wagner: “Nós já tínhamos a nossa rotina de movimentos para os três sambas finalistas. Não ficaríamos na mão de maneira alguma”, afirmou. Carol completou: “Desde a semifinal do samba-enredo a gente já estava pensando em quais movimentos poderíamos fazer pensando no encaixe com a história que será contada na avenida”, finalizou.