O carnavalesco André Rodrigues, da Portela, fez uma publicação nas redes sociais, na manhã desta quarta-feira, sobre o Dia do Trabalho e falou da relação com o carnaval das escolas de samba. Veja abaixo na íntegra.

andre rodrigues
Foto: Emerson Pereira/Divulgação

“Dia do trabalho, né? Que bom celebrar o esforço, os acordos, os direitos para quem trabalha. Acordei e me olhei no espelho, lembrei da data e um filme -involuntariamente- passou na minha cabeça. Pela primeira vez, desde 2012, trabalharei em apenas uma escola. Sem humilhação.

Passei 12 anos trabalhando em mais de um barracão ou mais de um projeto, para conseguir o que eu mais queria: vida digna, conforto e não depender da minha mãe para sobreviver. 12 anos acordando muito mais cedo e indo dormir muito mais tarde. Cansado, ansioso e cheio de esperança.

12 anos, colecionando poucos contratos assinados de fato. Tendo poucas oportunidades de registrar o processo. Fazendo meu nome na raça mesmo. Coleciono 2 demissões por falta de respeito ao meu trabalho. Coleciono alguns passos para trás. Muitos para a frente.

Carrego mentiras sobre mim, meu jeito de trabalhar e de tratar o trabalhador. Carrego amigos, muitos, dos que fizeram de mim o profissional que sou e que nesses 12 anos de duplas/triplas jornadas me estenderam a mão. 2025 completarei 18 anos trabalhando com escola de samba.

18 anos e sinto que minha carreira finalmente está começando, mesmo sendo sempre muito perigoso que esteja próxima do fim. 18 anos. 12 trabalhando em 2 ou 3 estados diferentes. Em mais de um projeto. Lembrei agora do dia que enfaixei a mão para continuar desenhando e não parar.

Sempre tive um compromisso muito grande com a entrega dos meus trabalhos. Sempre reflito muito sobre o que eu poderia fazer a mais por quem trabalha e também é pouco reconhecido, mas tem um senso sobrenatural e passional de entrega dos acordos e na maioria das vezes é esquecido.

O dia do trabalho, dia dos direitos, dia dos acordos, serve para que pensem sobre os acordos não pagos, os dedicados não remunerados, os esforçados não reconhecidos e por ai vai.

Tenho muito orgulho da minha trajetória de trabalho. Tenho muito orgulho do que faço, não troco por quase nada. Mas sonho de verdade com a valorização trabalhista dos profissionais do carnaval. Não é simples, sao trabalhos difíceis de quantificar, de abranger, mas é necessário.

Um beijo pra minha mãe, para todos os profissionais das escolas de samba, pro meu espelho, pra quem me deve, pra quem eu devo, pra quem sonha e para quem não tem mais sonho nenhum. O que importa no fim de tudo é o direito, papel e caneta”.