Por Gabriel Gomes e Lucas Santos
Acompanhe abaixo a primeira parte da análise dos minidesfiles das oito primeiras escolas que passaram pela Cidade do Samba.
União do Parque Acari
Estreante na Série Ouro, a segunda escola mais jovem do grupo, perdendo apenas para o Acadêmicos de Niterói, iniciou sua apresentação ainda com o dia claro com muita alegria e se mostrando muito concentrada para fazer uma boa apresentação. A equipe de harmonia a todo momento incentivava os desfilantes. Leozinho Nunes desenvolveu bem o samba, se mostrando já se sentir em casa após anos de São Clemente e impulsionou o desempenho do samba ao lado da Tainara Martins. A obra que homenageia o bloco “Ilê Aiyê” e comemora seus 50 anos teve seus momentos de destaque também através da bateria de mestre Daniel Silva e Erik Castro que apresentou bossas referentes a ritmos da Bahia. O canto dos componentes, porém, foi tímido, ainda que como falado anteriormente, fosse bastante cobrado dos diretores de harmonia.
O tripé que abriu a apresentação logo depois de comissão e casal de mestre-sala e porta-bandeira, ainda que não tão grande, estava bem acabado, com soluções estéticas eficientes e representando de forma singela o símbolo da agremiação. O colorido na roupa das alas e fantasias de alguns componentes como musas, por exemplo, deu um bonito efeito para um desfile que ainda aconteceu a luz do dia. O primeiro casal, Vinícius Jesus e Layne Ribeiro, abusando do bom gosto nos tons de rosa em sua vestimenta, apresentou um belíssimo bailado, com passos pontuando o samba e o enredo em homenagem ao Ilê Aiyê aproveitando de toda a musicalidade do tema. Uma apresentação ainda um pouco fria no geral, até pelo horário, muita gente ainda não havia chegado. * VEJA FOTOS
União de Maricá
A União de Maricá pisou com pé direito no primeiro mini desfile de sua história na Série Ouro. A Comissão de Frente, comandada pelo experiente coreógrafo Patrick Carvalho, que também exerce a função no Salgueiro, era composta por homens vestidos de malandros. No final da apresentação, um dos bailarinos, que representava o homenageado Guará, era erguido. O experiente casal de mestre-sala e porta-bandeira da Maricá, Fabrício Pires e Giovanna Justo, em sua estreia pela escola, fez, mais uma vez, grande apresentação, apostando em uma dança com elementos clássicos. A dupla portava uma bela roupa dourada. O samba-enredo da escola, composto por Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Junior Fionda, Camarão Neto, Victor do Chapéu, Jefferson Oliveira, Marquinho Abaeté e André do Posto 7, funcionou bem na pista da Cidade do Samba, com o refrão, sobretudo o trecho do “Maricá é meu país/ meu país é Maricá”, muito impulsionado pelo trabalho dos intérpretes Nino do Milênio e Matheus Gaúcho e da bateria “Maricadência”, do mestre Paulinho Esteves.
O samba foi bem cantado pela comunidade, ao longo de todas as alas levadas ao mini desfile. Na evolução, o único senão da escola foi uma certa dificuldade na saída da bateria do box, o que foi rapidamente resolvido pelos diretores de harmonia. Importante ressaltar também a presença de torcedores da escola nas arquibancadas da Cidade do Samba, que contribuíram para o canto da obra da União de Maricá ao longo da pista. Em 2024, a União de Maricá levará para avenida o enredo “O Esperançar do Poeta”, do carnavalesco André Rodrigues, que homenageia os compositores, tendo como fio condutor o compositor Guaracy Santanna, o Guará, autor de sucessos do samba e do clássico “33: Destino Dom Pedro II”, da Em Cima da Hora. * VEJA FOTOS
Sereno de Campo Grande
De volta à Sapucaí depois de 10 anos, a Azul e Branca da Zona Oeste fez uma apresentação no mini desfile da Série Ouro evoluindo de uma forma bem fluída, sem correria, cadenciada, aproveitando bem o trajeto, brincando com o público. Muitos levam balões de ar nas cores da escola que produziam um efeito interessante no tapete cromático da agremiação, principalmente olhando de cima. Outro destaque foi a comissão de frente que ainda que não tenha apresentado uma indumentária tão desenvolvida fez uma coreografia com muito vigor, demonstrando muita espiritualidade, representando todo o sincretismo que representa Santa Bárbara, cuja festa é homenageada no enredo.
E também é importante destacar a apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yago Silva e Lohanne Lemos, também se fazendo uso do vigor, mas com bastante sensualidade e apostando na técnica. Bonitos giros e bandeiras da porta-bandeira que mostrou um grande domínio do espaço e teve momentos de protagonismo. O samba, uma obra com boas soluções harmônicas foi bem interpretado por Antônio Carlos e Igor Pitta, ainda que o canto do restante da escola tenha sido um pouco mais tímido. Estreante, mestre Vinícius se mostrou bastante tranquilo e trouxe algumas bossas na Swing da Coruja. Apresentação correta. * VEJA FOTOS
Em Cima da Hora
Quarta escola a se apresentar na noite de mini desfiles da Série Ouro, a Em Cima da Hora teve o desempenho impulsionado pela força do samba-enredo e da bateria da Azul e Branca, sob a responsabilidade do experiente Mestre Léo Capoeira, que demonstrou bom entrosamento com o intérprete Rafael Tinguinha, com excelente desempenho. No início da sua apresentação, a escola de Cavalcanti prestou homenagem ao Diretor de Harmonia Wanderson Sodré, que faleceu na última semana. Comandada por Luciana Yegros, a Comissão de Frente da escola tinha bailarinos representando trabalhadores do campo. O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Marcinho Souza e Wiinie Lopes, vestidos no azul da escola, fizeram apresentação segura, com uma dança que mesclava elementos tradicionais com coreografias em cima da letra do samba.
A escola trouxe, ainda, um tripé revestido de tecidos com diferentes estampas. A evolução da Em Cima da Hora, no entanto, foi destaque negativo no mini desfile, com a abertura de um clarão no momento de saída da bateria do box, após a ala de passistas da escola avançar. Na harmonia, o canto da escola, mesmo com contingente reduzido, foi irregular durante toda a apresentação no mini desfile. No carnaval de 2024, a Em Cima da Hora levará para avenida o enredo “A nossa luta continua”, do carnavalesco Rodrigo Almeida, que contará a história do trabalhismo no Brasil. * VEJA FOTOS
Arranco
Pelo segundo ano consecutivo na Série Ouro, o Arranco deu mostras de estar mais adaptado neste retorno a Sapucaí. Com uma apresentação marcada pelo colorido e pela alegria dos componentes, a agremiação passou bem no mini desfile. Só alguma atenção com a evolução que foi um pouco mais corrida e com alguns pequenos clarões. Mas, destaque para a bonita fantasia, ainda que simples, da comissão de frente, que pelo colorido gerava um bonito efeito na coreografia, trazendo as “mandalas em cores” citados no enredo que homenageia com afeto a doutora Nise da Silveira tratando a loucura de uma forma científica e valorizando os tratamentos desenvolvidos pela importante cientista e profissional da saúde que procurava humanizar de toda forma o paciente.
A bateria de mestre Gilmar também deu uma cadência ao melodioso samba, que foi outro destaque da noite pela força do canto dos intérpretes Thiago Acácio e Pâmela Falcão. A dupla esteve a vontade e muito entrosada e fez com que a obra tomasse um tom leve e alegre, retratando toda a “loucura” do enredo, mas com vigor. Os dois são grandes talentos dessa nova geração de cantores do carnaval carioca. O que também foi bem legal de ver foi o número de jovens na bateria do Arranco, sinal do trabalho que mestre Gilmar vem fazendo com os “crias” do bairro. O canto da comunidade foi um pouco mais tímido, ainda que com alguns destaques em algumas alas. * VEJA FOTOS
Unidos da Ponte
Impulsionada pelo grande samba-enredo, composto por Júnior Fionda, Tem-Tem Jr, Carlos Kind, Léo Freire, Vitor Hugo, Léo Berê, Marcelinho Santos, Jefferson Oliveira, Alexandre Araújo e Valtinho Botafogo, a maestral apresentação do intérprete Kleber Simpatia e o show da “Ritmo Meritiense”, do Mestre Branco Ribeiro, a Unidos da Ponte pisou forte na Cidade do Samba em seu mini desfile. A Comissão de Frente, comandada pela coreógrafa Déia Rocha, se apresentou apenas com bailarinas mulheres, vestidas em roupas brancas e com saias de palha, realizando uma forte dança, com elementos afro. O primeiro casal, Emanuel Lima e Thainara Mathias, rumo ao segundo carnaval juntos na escola, demonstraram total entrosamento na dança.
Ao longo do mini desfile, a bateria da escola esbanjou ousadia nas bossas, que encaixaram perfeitamente no ótimo samba e na condução do cantor. Em uma das paradinhas, eram soltados fogos no meio da bateria de Mestre Branco Ribeiro. A escola passou sem grandes sustos em evolução. O canto, porém, poderia ter sido mais forte por parte de alguns componentes da comunidade. No carnaval de 2024, a Unidos da Ponte levará para avenida o enredo “Tendendém, o axé do epó pupá”, do carnavalesco Renato Esteves, que contará a saga do dendê, desde a África até o Brasil. * VEJA FOTOS
Vigário Geral
Indo para o seu quarto ano consecutivo no principal grupo de acesso da folia do Rio de Janeiro e consequentemente na Marquês de Sapucaí desde a volta em 2020, a Vigário trouxe um pouquinho de São João para o carnaval do Rio de Janeiro. Na comissão de frente, os componentes trajados com as “caipiras”, roupas de festa junina, apresentaram, como não podia faltar, uma coreografia de quadrilha, mas com samba no pé. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira foi outro ponto positivo pela beleza da coreografia, mais tradicional, valorizando a postura dos passos e o cuidado com uma apresentação mais clássica e singela.
A escola veio organizada, compacta e não teve grandes problemas de evolução, se deslocando pela Avenida com fluidez e cadência. A organização da escola foi outro ponto positivo. Logo no início do desfile, a Vigário trouxe um pequeno mas bem desenvolvido tripé com o nome da agremiação, um formato de livro e com bastante efeitos de luz. O canto da comunidade ainda é algo que precisa de melhora, apesar do excelente rendimento do cantor Danilo Cezar, em seu segundo ano no carnaval da Série Ouro, vindo da folia de Vitória, agora na Tricolor da Zona Norte. A Swing Puro de mestre Luygui também mexeu bastante com o público. * VEJA FOTOS
Unidos de Bangu
Um show à parte, assim pode ser definido o mini desfile da Unidos de Bangu na Cidade do Samba. Antes da apresentação, a rainha de bateria da escola, Wenny Isa, fez uma chegada apoteótica, em cima de um tripé. A Comissão de Frente, comandada por Fabio Costa, foi formada por componentes homens e tinha o ápice com labaredas de fogo, o que provocou reações das arquibancadas. Além do fogo, a escola também utilizou bastante recursos como fumaças brancas e vermelhas e papéis picados nas cores da escola. O casal da Vermelha e Branca, Jorge Vinicius e Verônica Lima, rumo ao primeiro carnaval na Bangu, prestigiou o público presente com a utilização de fantasia de desfile. A apresentação foi marcada por um bom entrosamento da dupla.
O trabalho do intérprete Igor Vianna, alinhado à bateria “Caldeirão da Zona Oeste”, de Mestre Laion, impulsionaram o samba da escola, composto por Tem-Tem Jr, Dudu Senna, Marcelinho Santos, Jefferson Oliveira, Rafael Ribeiro, Ronie Oliveira, Cândido Bigarin, Binho Percussão VR, Jorginho Via 13, Juca, Renan Diniz e Denis Moares. O trecho da obra que exalta o bairro da escola, “Bangu é religião”, foi o mais cantado pela comunidade, que esteve em bom contingente e teve bom canto ao longo do mini desfile. A escola passou sem sustos e de maneira leve e fluída em evolução. Em 2024, a Unidos de Bangu contará o enredo “Jorge da Capadócia”, do carnavalesco Robson Goulart, que contará a história de São Jorge. * VEJA FOTOS