O diretor da ala de passistas, Alex Coutinho, e a rainha de bateria, Mayara Lima, ambos do Paraíso do Tuiuti, assumiram neste ano os postos de coreógrafos do concurso para a Corte do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024. A dupla é responsável por elaborar toda a parte artística da apresentação das candidatas nas cinco etapas do processo de escolha da Rainha e das duas Princesas da folia carioca. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Alex e Mayara falaram sobre o convite da Riotur, além da importância do trabalho realizado pelos dois junto às competidoras.
“Tanto eu quanto a Mayara ficamos surpresos quando recebemos a ligação, a mensagem da Riotur, nos convidando para fazer parte desse novo formato do concurso para eleger a Rainha do Carnaval de 2024. E para nós está sendo um prazer estar aqui, porque é uma valorização para o seguimento de ala de passistas, um seguimento que nós conhecemos muito de perto, principalmente porque é dentro das escolas, é perto do passista, que o samba traz a sua verdade”, afirmou Alex Coutinho.
“É incrível estar em um projeto assim. Ao longo da minha vida, eu fui passista, musa, princesa e hoje sou rainha de bateria, mas sempre levo o nome da classe passista junto. É de onde eu vim e o que eu mais sinto orgulho é poder carregar isso comigo. Então, onde eu estiver, onde eu puder, eu vou falar sobre a classe passista, uma classe linda, incrível, que eu fico muito feliz e satisfeita de fazer parte. Se eu não fosse passista, se eu não passasse por esse processo, não seria quem eu sou hoje. É muito do meu agrado ver o que a Riotur está realizando neste concurso, dando voz para tantas meninas de comunidade. A gente está aqui para ajudar, ter essa empatia, essa troca, esse acolhimento com elas e eu estou muito feliz de estar junto com o Alex nessa missão”, disse Mayara Lima.
Para eleger a Corte do Carnaval do Rio de 2024, a Riotur adotou um novo modelo de disputa, em que cada escola de samba e bloco carnavalesco pode indicar uma representante. Ao todo, mais de 100 mulheres se inscreveram e participaram da primeira eliminatória do concurso, realizada entre os dias 01º e 04 de agosto.
As 64 classificadas irão seguir, agora, para uma segunda etapa, em que elas foram separada em dois grupos com 32 duas participantes. Nesta fase, apenas 40 delas irão para a terceira fase, que ocorre em um único dia. Na sequência, as 20 melhores disputam a semifinal e apenas dez vão para a grande final. A vencedora fatura R$ 45.500, enquanto as princesas eleitas recebem R$ 32.500 cada. Ao comentar sobre este formato, Alex Coutinho e Mayara Lima elogiaram a maior representatividade dele.
“Essas passistas nunca teriam voz se a Riotur não tivesse dado esse pontapé inicial, feito essa democratização, até porque muitas não acreditam nelas. A coroa real sempre esteve muito distante, se tratava apenas de um sonho. Normalmente, para uma menina ser Rainha do Carnaval do Rio de Janeiro, que é o maior espetáculo da Terra, ela se prepara por meses, anos. Quando tem a escola de samba envolvida, se escolhe uma pessoa que está pronta e que, às vezes, a própria menina não acredita no seu potencial. Então, isso é muito importante até mesmo pra estimular, para fazer com que ela acredite nela mesma. Esse novo modelo é um sucesso total e só tenho a parabenizar a Riotur e a Prefeitura do Rio de Janeiro”, enalteceu Alex.
“É uma responsabilidade e a gente está fazendo um trabalho de empatia. É um ajudando o outro. A gente ajudando elas a se apresentarem, dando toques, e elas ajudando a gente na hora da coreografia, de representar o nosso trabalho para o público. Estamos fazendo tudo da melhor forma possível, sempre nessa troca muito grande. Queremos auxiliar, sem diferenciar uma candidata da outra, porque aqui todos estão em prol de algo maior. Pela gente, se pudesse ganhar todas, a gente botava a coroa na cabeça de cada uma. Então, a gente vai fazer isso de uma forma igual para todo mundo. Nosso trabalho aqui é coreografar, é mostrar um trabalho conjunto, uma coisa limpa para o público em relação à coreografia, mas a gente não deixa de pegar essa parte individual. É aí que vemos o potencial delas, de como elas se prepararam, se estudaram, se sabem o que vão falar e apresentar no palco”, destacou Mayara.
Alex Coutinho ainda acrescentou que a dupla aprende muito com as candidatas e o retorno que elas dão se reflete no trabalho dos dois. “O feedback que elas dão é muito importante. Às vezes, elas por só verem a gente em uma rede social, elas julgam a gente ou acham que nós somos de uma certa forma, mas quando chega aqui e veem o tratamento que damos, percebem essa diferença. Acho isso muito importante, principalmente porque nós sabemos que nem todos tiveram a mesma preparação”, ressaltou.
“Não queremos que alguma menina, no próximo ano, desista de representar a escola de samba dela por conta de uma resultado ruim. Queremos que ela entenda que esse ano aqui é uma experiência, para que no futuro ela possa vir mais forte. Não podemos deixar que elas vejam esse palco como uma distância, mas sim que se sintam cada vez mais confortáveis para que a nossa bandeira do passista, do samba no pé, do sambista, da musa, da rainha, cada vez seja mais levantada, mais alto e mais alto, para que possamos tomar o nosso lugar que é de direito”, complementou o passista.
Biquíni padronizado
Também na conversa com o site CARNAVALESCO, Mayara Lima e Alex Coutinho comentaram a decisão da Riotur em determinar o uso de um biquíni padronizado nessa primeira fase eliminatória do concurso. Na visão da dupla, trata-se de mais uma medida para colocar de igual a igual cada candidata presente na disputa.
“Essa questão do biquíni é válida para não existir indiferenças. O padrão tem que ser seguido para a coreografia, para a apresentação individual e assim também para a roupa. Deixa mais para frente essa exibição de cada uma com suas roupas. As exclusivas só na final, só as dez garotas que chegarem lá. Então, essa padronização é super importante para tornar mais igualitária a competição”, elogiou Mayara.
“Como diretor da ala de passistas da Paraíso do Tuiuti, eu sempre cobrei muito isso, que as passistas usem uma mesma roupa em uma apresentação. É muito deselegante, muito desnecessário, até constrangedor, quando uma passista tem um dinheiro e a outra não e quando você coloca elas no mesmo palco com figurinos distintos. Acaba ressaltando mais a roupa do que propriamente o samba no pé. É essa diferença que a Riotur combate quando estabelece uma padronização”, pontuou Alex.
Escolha do Rei Momo
E a partir da fase semifinal do concurso para Rainha do Carnaval, terá início a disputa entre os postulantes a Rei Momo para definir qual deles assumirá o cargo. O vencedor, além da faixa e da coroa, levará um prêmio de R$45.500. Durante a entrevista ao site CARNAVALESCO, Alex Coutinho relatou o que diferencia o trabalho que ele e Mayara irão desenvolver para esses candidatos, em comparação ao que estão realizados com as mulheres.
“Eu acho que a principal diferença é manter a figura masculina, manter a essência dos antecessores no posto. A Corte do Carnaval do Rio de Janeiro, principalmente a questão do Rei Momo, sempre foi muito bem representada. Não só na fala, mas no samba no pé, na empatia. Os Reis Momos sempre foram muito acessíveis, eles estudam muito. O masculino ainda é um pouquinho mais diferente do feminino. O feminino ela ainda consegue trabalhar mais o corpo, trabalhar o samba no pé, trabalhar o visual de uma fantasia. Já o Rei Momo, ele está contido exatamente na fala, na essência e na vivência dele. É isso que faz virar um novo Rei Momo. A vivência dele, a fala dele, o entendimento do Carnaval, seja o de bloco, o da Intendente Magalhães ou o da Marquês de Sapucaí. Eu acho que é essa diferença que os candidatos devem ter. Não é biotipo físico e sim o entendimento do que é ser Rei Momo. Por que que ele quer ser o Rei Momo? Quer ser por que se vê na figura ou por querer aparecer? Qual é a diferença? Então, eu acho que é esse o entendimento que os meninos que estão vindo tem que ter. Para você ser Rei Momo não é para você aparecer, pegar uma coroa e sambar na Avenida. Você vai estar representando uma legião de pessoas. Você pega a chave da mão do prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Isso é muito importante. É ancestralidade, é respeito, é entendimento de um cargo”, analisou Alex.
Berço do samba no pé
A dupla de coreógrafos, mais do que estarem na Paraíso do Tuiuti, possuem uma longa história e uma forte identificação com a escola. A trajetória de Alex Coutinho na agremiação começou ainda adolescente, no Carnaval de 2003, onde desfilou pela primeira vez e já como passista. Ao longo dos anos, adquiriu experiência até se tornar diretor da ala e ter o trabalho realizado nela reconhecido com diversos prêmios. Para Alex, ele assumir a parte artística de um evento como concurso da Corte do Carnaval do Rio é mais um fruto dessa valorização.
“É o reflexo de uma consagração. Quando a gente trabalha com samba no pé, a gente não consegue muitas vezes fazer uma auto avaliação. E você vê que a Prefeitura do Rio de Janeiro, que toda a organização da Riotur, observou e viu que nós somos capazes disso é uma surpresa para nós, mas ao mesmo tempo é merecimento. Trabalhamos muito para estar aqui e agora é fazer valer a pena o momento”, avaliou.
Já a história Mayara Lima com a Paraíso do Tuiuti começou aos 14 anos, quando passou a frequentar a quadra da escola e ingressou na ala de passistas. Posteriormente, ela virou destaque de chão até chegar ao cargo de princesa de bateria para o Carnaval de 2022. Na ocasião, faltando aproximadamente um mês para o desfile, um vídeo dela dançando de maneira sincronizada com os ritmistas da Super Som viralizou nas redes sociais e alçou Mayara à fama. Diante de diversos apelos, ela foi coroa rainha e fez sua estreia no posto em 2023. É com base nessa trajetória que a beldade garante que o Tuiuti pode ser sim considerado um berço do samba no pé.
“O Tuiuti pode sim receber esse título. Eu sou um exemplo vivo disso. Eu me fiz, cresci dentro do Tuiuti. É a escola que abriu as maiores portas para mim, onde eu tive as maiores oportunidades dentro do Carnaval. Sou rainha de bateria hoje, mas eu cheguei ali como passista do Alex. Fico emocionada toda vez que falo da minha trajetória, porque é realmente incrível que eu vivi. Sempre procuro relembrar tudo que eu passei, até para poder me centralizar e sempre manter o meu pé firme no chão. Mas, realmente, o Tuiuti é uma escola que sempre dá oportunidade para as meninas. A minha cunhada Carol foi rainha, tivemos Pâmela também que foi uma rainha da comunidade, o Tuiuti sempre foi uma escola que, sem exceção, deu oportunidade para as meninas, muito antes mesmo de existir essa mídia social que acrescenta ainda mais nesse processo e impulsiona muitas vezes o crescimento das passistas. Então, digo com orgulho que fui passista, musa, princesa até chegar em rainha de bateria. Ali eu tive a oportunidade e o espaço para poder ser quem eu sou hoje. E também todas as nossas musas são da comunidade. Então, com certeza, o Tuiuti pode sim receber esse título de berço do samba no pé”, defendeu.
Rainhas de comunidade
Além de Mayara, atualmente outras quatro rainhas de bateria do Grupo Especial carioca são originárias das comunidades de suas respectivas escolas. Dessas, Evelyn Bastos, da Estação Primeira de Mangueira, é quem está por mais tempo no cargo, desde o Carnaval de 2014. Já Bianca Monteiro, da Portela, fez sua estreia no posto no desfile de 2017. Já Maria Mariá, da Imperatriz, e Lorena Raíssa, da Beija-Flor, debutaram neste último ano. Diante desse cenário atual, Mayara Lima não esconde o desejo de ver ainda mais crias das agremiações reinando à frente dos ritmistas.
“O meu maior sonho é esse. A gente está construindo isso aos pouquinhos. Já somos quase metade das rainhas do Grupo Especial. Temos a Bianca, que é apresentadora aqui do concurso, a Evelyn e a Raissa de Oliveira que construíram um legado incrível. Eu cheguei pra somar. Agora chegou também Maria Mariá, Lorena Raíssa, e a gente está mudando esse cenário aos poucos. Como tudo no Carnaval, nada acontece de uma hora pra outra, eu acho que essa questão das rainhas de bateria é uma coisa que um dia eu espero que aconteça de todas serem meninas da comunidade”, relatou Mayara.