Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Segunda escola a desfilar no Grupo de Acesso II neste sábado, a Unidos de São Lucas, claramente, mostrou poder de investimento e ótima capacidade de realizar carros alegóricos bastante imponentes e belos. Também chamou atenção o samba-enredo, dos mais aclamados de todo o carnaval paulistano, e a evolução do casal de mestre-sala e porta-bandeira – que, pouco a pouco ao longo do ciclo carnavalesco, melhoraram e tiveram exibição bastante segura. O canto da agremiação, entretanto, foi irregular (e abaixo no segundo setor) e o tripé da comissão de frente tinha ao menos uma rodinha aparente. O desfile para defender o enredo “O Canto das Três Raças… o grito de alforria do trabalhador!” durou 58 minutos.

Comissão de frente

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Coreografada por Paula Andari e intitulada “O Anúncio do Lamento Imortal”, os componentes interagiam com o público e com o tripé em diversas oportunidades, chamando o pessoal para cantar. O segmento era composto por diversos bailarinos vestidos como araras, com um belo esplendor (chapéu) e roupas que variavam entre azuis, verdes e amarelas. O tripé, que simulava um navio, tinha um outro componente, fantasiado como explorador; e tinha detalhes como caveiras – dando a entender que os portugueses, em especial, agiam como piratas na época da chegada ao país. Não houve grande interação entre quem estava no chão e o tripé em si – que, por sinal, tinha pelo menos uma das rodinhas bastante aparente.

Mestre-sala e Porta-bandeira

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Após um primeiro ensaio técnico de pouco brilho e uma segunda apresentação com muita evolução, Erick Sorriso e Victória Devonne completaram uma Jornada do Herói própria. Com atuação bastante segura e em franca evolução, ambos não tiveram erros técnicos em nem um dos quatro módulos, optando pela segurança em todo o trajeto. Vale destacar o belíssimo figurino de ambos, com vários adornos indígenas – ela com um misto de cores, ele com predominância do vermelho e do azul.

Enredo

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A proposta da agremiação é falar das lutas dos trabalhadores por direitos, justiças e condições melhores para desenvolver a própria labuta. A exaltação a cada um deles foi inspirada na música “O Canto das Três Raças”, imortalizada na voz de Clara Nunes – e a canção, por sinal, foi importante para permear o fio condutor de toda a apresentação. Nos primeiros segmentos, os exaltados serão os povos originários (com direito ao carro abre-alas e ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira); depois, chegou a vez dos afrodescendentes; por fim, os povos europeus (que também exploraram) são citados. A última das onze alas, chamada “Grito Coletivo de Alforria” dava o tom para tudo que a escola queria passar ao público: depois de toda a luta, era chegada a hora de se livrar de toda e qualquer amarra. A linha cronológica da temática foi muito bem apresentada ao longo de todo o desfile.

Alegorias

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Chamou atenção a altura dos carros alegóricos da vermelho, preto e branco da Zona Leste. O abre-alas, intitulado “Essa Terra Tem Dono!”, bastante alto, representava o Brasil na época da chegada dos europeus, com muito verde e índios – e esculturas bastante bonitas e bem acabadas. Já o segundo, “Fortaleza de Zumbi”, representava todo o Quilombo dos Palmares – com diversos escravos fugidos e que era reconhecido pela maneira bastante eficiente de trabalho internamente.

Fantasias

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Na cabeça da escola já era possível ver que o conjunto de fantasias estava bastante belo. As araras da comissão de frente, utilizando fitas e um belo esplendor, deixaram isso claro; a ala seguinte, “Os Invasores Portugueses”, tinha vários navios com velas e a cruz de malta lusitana. Ao longo de todo o desfile, as fantasias permaneceram em ótimo estado de conservação no geral – e, também, se mantiveram com belo efeito estético. Como erro, a reportagem notou, apenas, que uma das correntes de uma das pedras dos guardiões do casal de mestre-sala e porta-bandeira estava presa na pedra, e não colada – como todas as demais

Harmonia

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Tido como um dos melhores sambas do Grupo de Acesso II (e, por que não, de todo o carnaval paulistano), a escola teve canto irregular no desfile como um todo. A cabeça da agremiação tinha bom canto, com destaque para a já citada ala “Os Invasores Portugueses”. Após o carro abre-alas, entretanto, o volume da escola diminuía sensivelmente. E, depois da segunda alegoria, os componentes voltavam a cantar em bom tom.

Samba-enredo

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Como dito anteriormente, a canção da Unidos de São Lucas foi muito celebrada desde quando foi apresentada à comunidade e ao público – e, além da inspiração, não havia cacofonia ou excesso de repetições silábicas na obra de Well Pereira, Cacá Camargo, Osmar Menato, Henrique Hoffmann, Kátia Rodrigues, Luiz Jacaré, Bruno Pasqual e Paulinho Valença. Se o desfile optou por mostrar grupos de trabalhadores, a canção ilustrava alguns atos marcantes na história – como a Inconfidência Mineira e a construção e queda do Quilombo dos Palmares. O único momento no qual o samba-enredo trazia alguma referência ao clássico de Clara Nunes foi o verso “Ôôôôô… o grito do povo marcado de dor”. Também vale ressaltar Tuca Maia, intérprete da escola, que estava fantasiado de bombeiro e tentava chamar o público para cantar com a agremiação.

Evolução

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De maneira bastante uniforme, a escola progrediu ao longo do Anhembi sem qualquer tipo de sobressalto. Um dos poucos pontos negativos nesse quesito foi o recuo da bateria: em um movimento simples, indo à direita quando o carro abre-alas ainda estava na metade do espaço do box, a agremiação ficou cerca de dois minutos para completar o movimento. A agremiação optou por paralisar toda a escola enquanto a ação era feita, e a ala posterior, “Jesuítas – Exploração e Opressão”, foi pouco célere para ocupar todo o espaço.

Outros destaques

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Mostrando muito entrosamento com a agremiação, a corte de bateria teve três destaques nas cores da agremiação. Pepita, madrinha da Bateria USL, estava de branco; Pamela Lino, a musa, estava de preta, e Juliana Fenix, a rainha, veio de vermelho.