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Ala Rainha das Rainhas – representatividade e resistência trans no desfile da Paraíso do Tuiuti

O Paraíso do Tuiuti trouxe para a Sapucaí um desfile que dá voz e visibilidade à comunidade trans, homenageando figuras históricas como Xica Manicongo e Eloína dos Leopardos. A ala batizada de “Rainha das Rainhas” se destacou como um símbolo de resistência, representatividade e inclusão.

Composta por mulheres trans e travestis, participantes do projeto Transcidadania no Samba, iniciativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) em parceria com o Paraíso do Tuiuti. O grupo homenageia Eloína dos Leopardos, a primeira rainha de bateria da história das escolas de samba, que desfilou à frente dos ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis em 1976. Eloína, uma figura icônica, foi uma das primeiras a quebrar barreiras e abrir caminho para a presença de mulheres trans em posições de destaque no Carnaval.

A ala é formada por passistas, bailarinas e artistas que, além de representar a comunidade trans, carregam consigo histórias de luta, superação e orgulho. Para muitas delas, desfilar na Sapucaí é mais do que uma realização pessoal; é um ato político de visibilidade e resistência.

Vozes da Ala: experiências e significados

Mykaella Nazário, de 28 anos, artista e estudante de administração, compartilhou sua emoção ao desfilar pela primeira vez no Carnaval do Rio: “É uma honra representar a comunidade trans em um enredo que fala sobre nossa resistência e história. O Tuiuti está mostrando ao mundo que somos mais do que estereótipos, somos potência e parte fundamental da sociedade”.

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Rebeca Souza, de  34 anos, destacou a importância da homenagem a Chica Manicongo, uma figura histórica da resistência trans no Brasil: “A escola está trazendo à tona uma história que muitos desconhecem. Xica Manicongo viveu no século XVI e é um símbolo de luta. Ver isso no Carnaval é um passo enorme para a visibilidade da nossa comunidade”.

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Larissa Duarte, 36 anos, bailarina, refletiu sobre o impacto do projeto Transcidadania no Samba em sua vida: “Esse projeto mudou tudo para mim. Além de me dar a oportunidade de desfilar, me ajudou financeiramente e profissionalmente. Agora, sou uma Larissa mais confiante e preparada para ocupar outros espaços na sociedade”.

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Já Serena da Silva, de 44 anos, cabeleireira, falou sobre a evolução do reconhecimento da comunidade trans no Carnaval: “Ainda há muito a melhorar, mas vejo avanços. A Tuiuti está dando um exemplo ao abrir espaço para nós. Precisamos que outras escolas sigam esse caminho e nos permitam ocupar todos os lugares, seja na comissão de frente, nas alas ou como musas”.

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O Projeto Transcidadania no Samba: transformando vidas

O projeto Transcidadania no Samba, criado pela ANTRA em parceria com o Paraíso do Tuiuti, teve como objetivo oferecer formação em samba e dança mulheres trans e travestis, além de proporcionar bolsas de estudo e apoio financeiro. Para muitas participantes, o projeto representou uma mudança radical em suas vidas, não apenas no aspecto profissional, mas também na autoestima e no reconhecimento social.

Mykaella, Rebeca, Larissa e Serena são exemplos de como o projeto tem impactado positivamente a vida de suas participantes. Além de aprenderem técnicas de samba e dança, elas ganharam confiança para ocupar espaços que antes pareciam distantes. “O projeto me ajudou tanto profissionalmente quanto financeiramente, agora tenho essa experiência no samba, o que foi uma mudança para mim. Era uma Larissa e agora sou outra”, declarou.

 

Resistência e luta contra a opressão

A luta contra a opressão ressoa profundamente com as histórias das integrantes da Ala 28. Ao homenagear Chica Manicongo e Eloína dos Leopardos, a escola não apenas celebra o passado, mas também reforça a importância de continuar lutando por direitos e visibilidade no presente.

“O Carnaval é um espaço de alegria, mas também de denúncia e conscientização”, disse Rebeca. “Ao trazer a história das mulheres trans para a avenida, estamos mostrando que nossa luta é antiga e que merecemos respeito e igualdade”, concluiu.

O futuro da representatividade trans no carnaval

Apesar dos avanços, as integrantes da Ala  concordam que ainda há muito a ser feito para garantir a inclusão e o respeito à comunidade trans no carnaval e na sociedade como um todo. “Precisamos que mais escolas abram espaços para nós, não apenas como passistas, mas em todos os cargos e alas”, afirma Serena.

Para Larissa, as escola precisam abrir mais espaços para que as pessoas trans ocupem espaços no mundo do samba. “E se as mulheres trans e travestis ocuparem os espaços que elas quiserem? E se ela quiserem estar na ala das Baianas, na Comissão de Frente, num carro como destaque, como musa, como passista? As escolas precisam abrir mais espaços para nós”, declarou.

O Paraíso do Tuiuti, com sua Ala “Rainha das Rainhas”, está dando um passo importante nessa direção. Ao celebrar a história e a resistência trans, a escola não apenas faz história, mas também inspira outras agremiações a seguir o mesmo caminho.

A Ala “Rainha das Rainhas” do Paraíso do Tuiuti é mais do que um grupo de passistas; é um símbolo de resistência, orgulho e representatividade. Ao desfilar na Sapucaí, Mykaella, Rebeca, Larissa, Serena e tantas outras mulheres trans estão mostrando ao mundo que suas vidas importam, que suas histórias merecem ser contadas e que o Carnaval pode ser um espaço de transformação e inclusão. Como diz Mykaella: “Nós somos muito mais do que aquilo que pensam de nós. Somos parte da sociedade e estamos aqui para transicionar o mundo”.

O legado de Eloína dos Leopardos e Chica Manicongo vive na Sapucaí, e a Ala Rainha das Rainhas é a prova de que a luta por visibilidade e respeito continua, com samba no pé e muita resistência.

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