Por Fábio Martins e Lucas Sampaio
O Águia de Ouro apresentou na noite do último sábado seu enredo para o carnaval de 2024: “Águia de Ouro nas ondas do rádio”. O tema vai abordar os 100 anos da Rádio Nacional, que foi completado no dia 7 de setembro de 2022, e terá como grande parceiro Eli Corrêa, radialista de longa data.
A primeira transmissão radiofônica no mundo foi feita nos Estados Unidos, em 1906. Pois no Brasil, no dia 7 de de setembro de 1922, com transmissão de receptores, o presidente Epitácio Pessoa abriu a ‘Exposição Internacional do Centenário da Independência’. E no mesmo dia a ópera ‘O Guarani’, de Carlos Gomes, foi transmitida em alto-falantes. Era o início da rádio no Brasil, e da primeira estação, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgar Roquette-Pinto.
Na apresentação do Águia, a história apareceu, iniciando com Padre Landell, depois o presidente Epitácio e também a ópera, além do momento tenso da guerra e da vibração com a Copa de 1958.
Enredo
De volta a casa, Victor Santos, está totalmente envolvido com o enredo escolhido em seu retorno à agremiação da Pompeia, Zona Oeste de São Paulo, em conversa com o site CARNAVALESCO falou sobre sua volta e também a escolha do enredo.
“Primeiramente estou assim, estado de graça de voltado ao Águia de Ouro, pois foram grandes carnavais que fizemos aqui, carnavais muito polêmicos, falamos de pedofilia, tivemos santa proibida pela igreja, enfim, muitas histórias bacanas. E a proposta do enredo, analisamos várias propostas, mas precisávamos de uma que desse condições de desenvolver um desfile de escola de samba, que às vezes tem o tema, mas não tem condições, elementos, de ir até o fim e desenvolver um bom desfile. E o rádio, dá esses elementos para você, traz uma nostalgia, ele marcou momentos importantes para o nosso país. Além do fato da questão das ondas, que identificamos mais na história do Padre Landell, que foi um pesquisador que desenvolveu o rádio e que tinha esse contato com as energias, falava de energias do corpo também, descobriu a energia que hoje conhecemos como áurea, fotografadas pelas fotos Kirlian”.
Em complemento sobre o enredo, o carnavalesco da agremiação contou: “É um enredo que você passeia pela história do país, vários momentos do país, e você se lança para o futuro. Pois hoje em dia nós temos o wi-fi, internet, todas as possibilidades que nós temos, mas esquecemos que isso começou lá na invenção do rádio como eles falavam na época do Landell, a caixa mágica, pois ninguém achava que era possível. Os próprios pesquisadores, cientistas, diziam que era impossível transmitir o som sem utilização de fios, já tinha o telégrafo, os códigos, mas assim, a voz, o som, eles achavam uma coisa sobrenatural, foi acusado de bruxaria, satanismo. É uma variedade de situações que vamos poder apresentar na avenida. Esse tema ganhou por causa disso”.
Outro artista que retornou para o Águia de Ouro é o Claudio Cebola, mas em uma nova função, como um diretor artístico geral da agremiação. E colaborou na apresentação que a escola fez do enredo.
“Estou na função de diretor artístico geral do Águia de Ouro, Victor vem como carnavalesco, e estamos junto nessa parceria, junto com o presidente, trazendo o aparelhinho que revolucionou a história do Brasil e do mundo que é o rádio. O que seria da evolução do ser humano sem o rádio, e através dessas nuances que mostramos hoje, será contado o carnaval do Águia em 2024. A importância e relevância de momentos históricos. O rádio ele engloba muita coisa, primou pelos momentos mais relevantes do rádio no Brasil, e com certeza desde o Padre que foi o causador disso tudo, padre cientista, deu no que deu. O rádio foi uma expressão fundamental para o brasileiro, desde o alfabetismo, de tentar reeducar as pessoas, e o mundo imaginário, de ondas sonoras, você está viajando naquilo que o locutor está transmitindo, essa é a mensagem que o Águia vai deixar. Vem de um fato importante que foi o centenário da Independência e foi justamente no Theatro Municipal, que foi o Guarani, de Carlos Gomes, temos também as cantoras do rádio, a época de ouro da Rádio Nacional, o rádio como veículo introspectivo, trazer o humor, esporte, lazer, rádios novelas, e vamos vir com essa homenagem dos 100 anos”.
Não para por aí, somente na história, o passado, os 100 anos serão contados desde a base, e chegando na atualidade, como o rádio tem sido atualmente. Hoje vemos muitos podcasts, rádios com transmissão ao vivo através da internet.
“Isso também não podemos deixar, é uma nova forma de apresentar aquele mesmo modelo, só que de uma nova maneira. Agora você vê as pessoas no estúdio e tal, mas a gente vai chegar neste ponto, pois hoje em dia se tem o wi-fi e toda essa capacidade fantástica da internet, isso tudo devemos ao nosso iniciador que foi o rádio”.
Presença do Eli Corrêa
O presidente Sidnei Carrioulo também teve participações durante toda apresentação envolvendo o rádio, e sua história, comentou principalmente sobre Eli Corrêa: “Foi uma série de conversas, a gente tinha mais ou menos esse enredo já pré-desenvolvido e aí depois da chegada do Eli (Corrêa) para poder dar uma incrementada melhor nesta história. Pois nós sabemos muito bem a história de 50 anos para trás, muito registrada. Mas a fase dele, de 50 anos, começou em 1959, são 53 anos, é muito tempo. Acrescenta muito, sem dizer que é uma muito querida, humilde, e assim, estamos em desenvolvimento. O enredo não é sobre o Eli, é sobre as ondas de rádio. Mas é uma pessoa que vai somar muito para gente”.
Seguindo o seu presidente, o diretor de carnaval, Cebola deixou sua opinião sobre presença do Eli Corrêa: “Nesses 100 anos não dá para falar do rádio sem falar de Eli Corrêa que é um dos maiores locutores da história do rádio, é essa figura carismática, sempre sorrindo, e é com esse homem sorriso que o Eli vem contando a trajetória do rádio e termina neste grande podcast, o que será, uma interrogação, o que será 100 anos com o rádio”.
Quem é Eli Corrêa? Radialista de 71 anos, marcado pelo bordão “Oiiiii, gente!” e conhecido como homem sorriso do rádio. Tem uma vasta experiência e carreira dentro das rádios brasileiras, portanto terá um papel importante guiando a agremiação no projeto.
Com isso, Sidnei disse que espera contar bastante com essa ligação junto ao grande radialista: “Até colocando todo staff dele, que é grande, com a gente para conhecermos melhor. Apesar de que temos pesquisado muito e já estou quase especialista de rádio”.
Setorização e estética
Em relação a toda apresentação da escola que durou cerca de 30 minutos no palco, com direito a momentos específicos marcantes do rádio como Padre Landell iniciando, a guerra, a Copa de 1958, entre transformações, o carnavalesco Victor Santos pediu calma em relação a setorização e detalhes do desfile.
“Ali a coisa não está mostrada como setores da escola, nós demos uma pincelada no que nós vamos apresentar, mas assim, tem muitos segredos, o carnaval tem que ter, você sabe qual o tema, mas tem aquele momento da avenida que você não esperava. Já temos pontos estratégicos que sabemos que vão causar muita emoção nas pessoas que vão assistir”.
Já em relação a estética deu um recado interessante: “Tenho analisado a forma de desfilar do Águia de Ouro, a gente nota que quanto menos peso, o componente tiver, mais ele pode evoluir, claro que a fantasia precisa ter uma volumetria para ela poder montar uma ala. Temos também que pensar em que tipo de quadro vamos compor com aquela ala, mas vou procurar ao máximo tirar o peso de cima das pessoas, fazer fantasias que realmente você possa estar belo na fantasia, e possa evoluir colaborando com o conjunto, que não atrapalhe o movimento”.
Vivência com o rádio
O carnavalesco Victor Santos também relatou sobre seus momentos com o rádio: “Ali ficou a coisa, não está mostrada como setores da escola, nós demos uma pincelada no que nós vamos apresentar, mas assim, tem muitos segredos, o carnaval tem que ter, você sabe qual o tema, mas tem aquele momento da avenida que você não esperava. Já temos pontos estratégicos que sabemos que vão causar muita emoção nas pessoas que vão assistir”.
Em busca do vigésimo carnaval no Águia de Ouro, Serginho do Porto também falou sobre sua relação com o rádio e comentou sobre o próprio carnaval ter iniciado com transmissão no rádio.
“Vou te falar mais ainda, vou falar da minha vivência no Rio de Janeiro, lá tinha o banho de mar a fantasia, você não via na televisão, você ouvia no rádio, era uma emoção louca, pois a gente sintonizava o rádio na Rádio Nacional e fazia uma peça dentro de casa, você imagina, muitos do que estarão lá vendo o desfile, não só no Anhembi, mas dentro de casa, vai reacender a memória de todos aqueles momentos gostosos que a gente curtiu. Águia acertou no enredo, quando você fala do rádio, todos são pioneiros, todo povo do carnavalesco veio da comunicação e a comunicação é o rádio, não podemos deixar morrer essa válvula acesa”.
Intérpretes opinam e já falam sobre o samba
A cara, ou melhor, as vozes da Pompeia têm Douglinhas Aguiar e Serginho do Porto, dupla que tem bastante história na casa, e seguem para 2024. Em relação ao enredo escolhido, ambos opinaram em conversa conosco. Primeiramente, Douglinhas mostrou otimismo com o que está por vir.
“Foi emocionante o lançamento do enredo, é um grande enredo, 100 anos da história do rádio é um assunto muito rico para história do Brasil. Tenho certeza absoluta que vamos vir se não for o melhor samba do carnaval, será um dos melhores”.
Serginho do Porto seguiu seu parceiro de palco, e relatou: “É muito importante o enredo do Águia de Ouro, tinham outros quatro enredos para serem escolhidos, mas como a escola optou por esse enredo para falar do centenário do rádio no Brasil, é muito importante até mesmo fazendo uma homenagem ao Eli, vejo a Águia com o carnaval de 2007, quando falou do artesanato, e de 2013 quando falou de João Nogueira, estamos falando do que é nosso, do que representa. Eu, com pouca idade, mas vivi um pouco da era do rádio. Ouvia rádio o tempo todo, ouvia Rádio Globo, Rádio Tupi, Rádio Nacional, eu me vi, o Victor contando ali, eu vivi momentos ouvindo meu pai e minha mãe contar do programa do Ary Barroso, que era um programa musical onde os calouros iam cantar, ouvir o Paulo Gracindo na rádio Nacional fazendo rádio novela, então isso é muito importante. E assim, te leva uma nostalgia muito louca, aguarde que 2024, o coro vai comer e o bicho vai pegar sério”.
Em relação às eliminatórias, Águia fará aberto, e Serginho do Porto explicou um pouco de como funcionará o sistema da agremiação para o samba-enredo de 2024.
“Vai ter eliminatórias, a escola vai distribuir a sinopse e vai entregar aos compositores, só que vão ser todos entregues no barracão ao presidente, e ali a escola vai fazer a escolha, não sei quantos sambas vão dar. Se der 10 sambas, a escola vai escolher três ou quatro, e o carro de som vai cantar para a comunidade e ver qual fica melhor na avenida. Apresentação aberta para o público”.
O desfile do Águia de Ouro, está marcado para o sábado, dia 10 de fevereiro, às 2h50, e será no embalo das ondas de rádio no carnaval de 2024.