Afiada e pronta no canto, Portela faz ensaio com bom rendimento nos demais quesitos e segue evoluindo na preparação para o desfile

Nem o calor que mais uma vez assolou o Rio de Janeiro, e se fez bastante presente na divisa de Oswaldo Cruz com Madureira, tirou do portelense a energia e a alegria de cantar e brincar o samba em homenagem ao “Bituca”, o cantor Milton Nascimento. Ensaiando, dessa vez, coladinha com a linha do trem, na rua Carolina Machado, onde o terreno é mais plano, os portelenses mostraram estar prontos e afiados no canto do samba para o carnaval 2025. Maturidade dos quesitos foi o que pode se ver e constante evolução, do conjunto de bonitos guarda-chuvas e a surpresa presente na comissão de frente, passando pelo bom entrosamento do casal, com os componentes pulando e cantando o samba, impulsionados pela dobradinha Gilsinho e mestre Nilo Sérgio. A escola mostrou que o trabalho vai bem adiantado para que daqui a duas semanas possa apresentar um desfile ainda mais maduro no ensaio técnico e chegar a Sapucaí em março prontinha em tudo para trazer a proposta que certamente será pautada pela emoção, mas que não poderá prescindir da técnica, afinal de contas é ela que baliza o julgamento. Nisso, a Portela mostrou evolução em relação aos últimos ensaios tendo bom rendimento de todos os seus quesitos.

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Antes do treino do último domingo, o presidente Fábio Pavão falou aos portelenses sobre a importância dos ensaios e sobre a preparação que a Portela vem fazendo para o próximo grande passo nesta jornada que será o ensaio técnico daqui a pouco menos de duas semanas.

“Faltam cinco semanas até o carnaval, nós estamos nos preparando para chegar lá, nossa confiança é cada vez maior, a gente está fazendo o barracão, fantasia já indo para o nosso ponto de apoio. Nosso samba está avançando muita coisa e isso é com vocês, na forma que vocês cantam o samba, que vocês compraram essa briga com amor, está chegando a hora gente”, disse o dirigente.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

O intérprete Gilsinho, após o ensaio, avaliou para a reportagem do CARNAVALESCO, a qualidade do ensaio e de como a escola pode manter esse forte canto.

“É o mérito muito grande da nossa harmonia, trabalha muito o canto da comunidade e sem dúvida nenhuma comunidade que tá aguerrida. Está cantando muito bem, forte, evoluindo junto. Então, a gente fica satisfeito com esse resultado. A alegria da gente é ensaiar, a gente sente que o componente vem com o coração aberto, vem com o coração feliz. Isso é muito importante para a gente manter o nível. A alegria deles fazendo bons trabalhos e eles estão vendo que o trabalho está sendo bem feito, dá um retorno pra gente, que é a alegria deles, é um canto forte, é esse show maravilhoso aí”, afirmou o cantor.

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O diretor geral de harmonia, Juninho Fonseca, conta que o objetivo nesse momento do quesito é manter o nível de canto até o ensaio técnico para a escola poder dar esse recado ao público do samba.

“É um trabalho que já vem acontecendo tem uns quatro meses depois da escolha, a gente não parou mais de ensaiar, ensaiar, o canto. Isso, a partir do trabalho de quadra, dos trabalhos individuais cada ala, e na rua é só colocar em prática esse trabalho junto com o carro de som, junto com a comunidade e vamos manter essa pegada aí até nosso primeiro ensaio técnico daqui a duas semanas”, entende o profissional.

Em 2025, a Portela vai encerrar a terceira noite de desfiles do Grupo Especial levando para a Marquês de Sapucaí o enredo “Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”.

Comissão de frente

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Primeiro de tudo a comissão,comandada por Leo Senna e Kelly Siqueira, tem aquilo que mais pede o enredo: musicalidade e dança. Sem isso, não se pode falar de Milton Nascimento. E também é pautada pela leveza e doçura dos movimentos, o que também é muito característico da vida e obra de “Bituca”. Os movimentos dos componentes casavam muito bem com o que era retratado no samba, em cada momento, ainda que não se preocupasse em retratar palavra por palavra, ou pontuar as expressões da obra. Era na cadência e na identidade de cada movimento. No final, o “lance” dos guarda-chuvas que se modificaram do preto para o “girassol” produziam uma lindo efeito e apresentavam como a carreira de Milton apresentou diversas faces. Muito positiva a apresentação com muita interação com o público, fazendo com que os bailarinos pudessem sentir o calor do público, o que é fundamental no ensaio de rua, principalmente para a comissão.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

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Em preparação para entrar no segundo ano juntos, Marlon Lamar e Squel Jorgea demonstram franca evolução no entrosamento, maior naturalidade nos movimentos, mais conhecimento de cada um sobre o corpo do outro. Neste ensaio, a dupla apostou em um bailado mais tradicional, com passos mais característicos de casal de mestre-sala e porta-bandeira, sem procurar muito pontuar trechos do samba, ou apresentar muitos passos coreografados. A dupla se buscou o tempo inteiro, e se preocupou sempre em valorizar o pavilhão. Boa apresentação e como algo que não conta ponta, mas, muito bonito de se destacar, foi a forma como eles vibravam e dançavam durante o início do ensaio quando Gilsinho ainda cantava o alusivo que continha a música “Maria Maria”, de Milton Nascimento.

Harmonia

Destaque do ensaio, o canto dos componentes, impulsionado por mais um grande trabalho do carro de som, que dessa vez contou com a presença do intérprete oficial Gilsinho, mostrou que o samba está na ponta da língua, e mesmo não tendo as mesmas qualidades da linda obra que foi ” Um defeito da cor” de 2024 foi totalmente comprado pelos componentes no sentido de entenderem que é o hino que vai para a Sapucaí e está sendo valorizado pelo portelense. Alguns trechos eram cantados de forma ainda mais entusiasmada como o bis “Quem acredita na vida…” e o refrão principal. Além disso, mesmo passistas, comissão de frente, alas coreografadas, bateria, todos cantaram a obra toda com muita garra. Alto rendimento. O canto está pronto para Sapucaí, o desafio é manter esse nível e não deixar cair até o dia oficial em março.

Samba-enredo

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A obra de Samir Trindade, Fabrício Sena, Brian Ramos, Paulo Lopita 77, Deiny Leite, Felipe Sena e JP Figueira tem uma característica mais melodiosa, uma “vibe” de nostalgia, também presente nas músicas do “Bituca”, bastante ilustrativa, fazendo algumas referências ao repertório musical do artista. Com o andamento um pouco para trás, o samba permite um ritmo muito “gostoso” para a “Tabajara do Samba”, cadenciado, dançante, que ajuda a destacar alguns naipes da bateria com a batida de caixas e os desenhos do agogô. Como pontos altos, podemos destacar as fortes palavras do refrão principal “Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar…”, ainda que um pouco repetitivas, mas dentro da homenagem. Outro ponto forte, está no “Quem acredita na vida”, bis presente na segunda do samba que é cantado com grande vigor pelos componentes. No ensaio, a obra está rendendo, muito levantada pelo trabalho de Gilsinho e Nilo Sérgio impulsionando o canto da comunidade, que vem sendo o grande destaque nos ensaios.

Evolução

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Na evolução, ainda há uma margem pequena a se alcançar para a garantia do 10 no quesito. E ela não está na compactação, pois a escola veio sim bem compacta, sem buracos ou alas emboladas, ocupando como devido o seu espaço na pista de ensaio. Também não foi espontaneidade, pois a escola, ainda que fizesse coreografia, no geral isso não atrapalhou que o folião brincasse o carnaval, ao contrário, só abrilhantou ainda mais. Algumas alas coreografadas no início mostraram estar bem ensaiadas e produziram um bonito efeito. E uma ala no final, logo a frente do terceiro casal de mestre-sala e porta-Bandeira, em particular, fez uma coreografia com grande teatralização, uma performance, em que os componentes primeiro mostravam sofrer em um trecho mais tenso do samba, nos versos “Venceram as lutas que travavam…”, e depois chegavam a alegria a partir do “quem acredita na vida …”. No refrão final uma grande explosão de felicidade bem expressa nos rostos dos componentes que mexiam com o público na rua inclusive.

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Mas, na evolução, o único ponto que ainda pode melhorar um pouco é a fluidez, no sentido de ela ser mais homogênea. Em alguns momentos a escola evoluiu um pouquinho mais rápido talvez do que o necessário e que a cadência do samba pedia, isto em pontos esporádicos, no geral, no teste como um todo a fluidez está bacana. Só trabalhar para ela chegar nesse ponto de estar mais igual para que o quesito chegue mais perto da perfeição e possa garantir a nota máxima.

Outros destaques

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A rainha Bianca Monteiro, além do samba no pé, protagonizou, mais uma vez, o momento fofura ao sambar com a criançada no final do ensaio, já virou rotina e um dos momentos esperados. As musas Vick Campos e Amanda Oliveira foram bastante festejadas pelo público quando passavam com muito samba no pé. Assim, como os passistas, comandados por Nilce França, também muito aclamados, principalmente os mirins que vinham à frente. No esquenta do ensaio, mais uma vez, o carro de som cantou a música “Maria Maria”, de Milton Nascimento, em ritmo de samba, com bateria e tudo.