A paradisíaca cidade de Paraty não merecia nada menos que um tão estupendo desfile de carnaval. Já cantada por outras agremiações, em 2023, foi a vez da Acadêmicos do Tatuapé cantá-la com uma apresentação com forte canto da comunidade, apresentação muito segura do casal de mestre-sala e porta-bandeira e clara identificação do enredo. Apesar dos ótimos pontos, a escola teve um problema em um detalhe no carro abre-alas e uma Evolução irregular para defender o enredo “Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia”, encerrado com 62 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
Harmonia
Comandada por Edu Sambista, o chão da agremiação da Zona Leste paulistana, mais uma vez, teve grande destaque. A região, conhecida pelas escolas de samba com forte canto dos componentes, honrou a tradição. Diversos staffs no corredor da passarela pouco se preocupavam com a execução do samba-enredo pelos componentes – Eduardo Santos, um dos presidentes da agremiação, que acompanhou boa parte do desfile na entrada do recuo da bateria, embora estivesse tranquilo, pedia para que os harmonias “não deixassem cair” o canto.
Outro desafio do segmento teve alguns poucos problemas. Por pelo menos três vezes, staffs precisaram pedir para que os componentes se atentassem ao alinhamento das alas. Nada, entretanto, que pudesse comprometer o ótimo desempenho do quesito.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Com a fantasia “Paraíso de Belezas Naturais, Preservação e Sua Biodiversidade”, Diego do Nascimento e Jussara de Sousa desfilaram representando tudo o que o cenário da cidade do sul fluminense traz para artistas – e, claro, para quem visita a cidade.
Dos casais mais celebrados do carnaval paulistano, o casal, mais uma vez, veio bastante leve e exalando carisma e segurança – combinação rara e bastante desejável para qualquer dupla. Vale destacar que os componentes, ao contrário de outros parceiros de segmento, giraram bastante, não economizando no bailado, sem interagir tanto assim com o samba-enredo. Importante destacar, também, a leveza de Jussara – que, em determinados momentos, sentia-se à vontade para girar mesmo com Diego observando-a, com olhar de quem está satisfeito com o que vê.
Enredo
Buscando sintetizar a rica história da cidade, a Acadêmicos do Tatuapé criou um enredo contando como a própria escola estudou, observou e interagiu com séculos de existência ao sintetizar o enredo “Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia”.
Cada setor mostrava, de maneira bastante clara por meio das fantasias, qual ponto era o objeto de análise em questão. Nos primeiros espaços, segmentos exaltando índios, europeus e produtos que deram fama à cidade. Depois, a imensa lista de eventos que acontecem na cidade ganha espaço. O terceiro fazia menção a locais do município e, também, exaltava a fauna e a flora – em pontos bastante distintos de amarração complexa. Por fim, no final, surge o recado de preservação da natureza e da biodiversidade.
Samba-Enredo
Um dos tantos sambas elogiados pela crítica e pelo público, a canção que embalou todo o desfile teve desempenho bastante elogiável – como era notado em ensaios de quadra e técnicos. A música teve ótima condução da parte de Celsinho Mody, intérprete da agremiação, mais uma vez conclamando a escola e a arquibancada a cantar junto com os componentes.
Destaque também para a Qualidade Especial, bateria da Acadêmicos do Tatuapé, comandada por Mestre Higor. Executando dois apagões ao longo da apresentação, ela empolgou desfilantes e espectadores com diversas bossas. Uma delas, um breve apagão em um verso no qual todos cantavam um simples “Ê ê ê ê,”, movimento a instituição durante toda a exibição.
Comissão de Frente
Representando o mar, tão belo e abundante em Paraty (e obviamente intitulada “Belezas do Mar), o primeiro segmento da escola, coreografado por Leonardo Helmer, tinham peixes conduzidos pelo canto da sereia – citado no samba-enredo e com a personagem mitológica com uma fantasia diferenciada dos demais. Com todos os componentes com maquiagem artística, eles antecediam o quadripé “Portal: Paraty”, cheio de seres marítimos.
A fantasia, inteiramente azul e branca (cores da escola e do mar de Paraty, obviamente), tinha barbatanas que se movimentavam, trazendo dinamismo. A sereia, destacada, tinha um visual mais azul que branco. Em toda a performance, não foram observados erros de coreografia, com muitos sorrisos e segurança na dança de cada componente. Os bailarinos, por sinal, marcavam o samba-enredo em uma coreografia que durava uma única passagem do samba.
Fantasia
Tal qual tudo que foi idealizado pelo carnavalesco em protótipos, tudo foi visto na prática bem como imaginado. Se as partes mais próximas dos componentes não tinham tanto luxo, os complementos (como adornos, esplendores e costeiros) tinham materiais mais caros. Em momento algum foi visto problemas com o acabamento de fantasia alguma.
Alegorias
O carro abre-alas, acoplado com dois chassis e intitulado “Jazida do Mar Onde Canta a Sereia”, veio predominantemente azul e deixando clara a riqueza da biodiversidade do mar do local – e, por isso, tinha diversas esculturas de peixes, polvos e etc), com destaque para uma escultura de Netuno, deus grego dos mares. Também haviam escultura dos Tritões, filho da referida entidade da Grécia Antiga.
A cultura indígena marcou presença no Carro 02, com o nome “Ancestralidade Indígena: Arte Esculpida Pelas Mãos”. Com as pinturas características dos nativos, a escultura de uma cabeça de índio saindo da água tinha destaque, com roupas e acessórios típicos.
O famosíssimo Centro Histórico da cidade marcou presença no Carro 03, que ganhou o nome de “Centro Histórico, Lendas e a Gastronomia Criativa da “Veneza Brasileira”. A igreja de Santa Rita, ponto turístico do município, tem as ruas de pedra típicas e o sobe-e-desce das ondas – que deram origem ao apelido da cidade, de “Veneza Brasileira”.
A alegoria que fechou o desfile, com o nome “Paraíso de Belezas Naturais, Preservação e Sua Biodiversidade”, representava a abundante natureza da cidade, com e montanhas, cachoeiras, florestas, parques e, claro, o mar. O fato de ser considerada Patrimônio Mundial tombado pela UNESCO, órgão ligado à ONU, também ganha destaque.
No desfile, praticamente tudo que foi exibido estava a contento com o que era esperado. No carro abre-alas, que soltava divertidas bolhas de sabão, entretanto, houve um pequeno deslize: um dos peixes, que estava na lateral da alegoria, balançava mais que o normal por conta da queda de alguns detalhes que circundavam a escultura. Os demais carros não tiveram erros notados.
Evolução
O terceiro carro da escola chegou inteiro ao Setor C do Anhembi com mais de quarenta minutos de desfile. A apresentação, que tinha Evolução tão tranquila quanto o balanço das ondas de Paraty, passou a ter ritmo bem mais ágil, com passadas mais largas na exibição. No final, o encerramento do desfile com “apenas” 62 minutos (ou seja, três minutos antes do limite permitido pelo regulamento), deixou claro que tal andamento mais acelerado no terço final da apresentação não era algo tão necessário assim.
Outro ponto de observação da Acadêmicos do Tatuapé foi a entrada da Qualidade Especial no recuo de bateria. Com o carro abre-alas na metade do espaço destinado aos ritmistas, os componentes começaram o movimento. Graças ao elevado número de componentes (bem mais que os presentes no ensaio técnico), ficou a impressão de uma entrada mais morosa da escola no recuo. Para ocupar todo o local, “apenas” Muriel Quixaba, rainha de bateria da escola. A ala seguinte teve andamento tão moroso quanto. O descrito movimento inteiro durou cerca de 200 segundos.
Vale destacar, também, que o carro abre-alas não ficou parado, como o restante da escola, para que os componentes adentrassem no recuo. Eduardo dos Santos precisou chamar atenção dos staffs mais de uma vez para que isso acontecesse.
Outros destaques
Os harmonias da Acadêmicos do Tatuapé, boa parte deles vestidos de marujos, estavam tranquilos a ponto de conversar com alguns repórteres para pedir a opinião dos mesmos sobre os desfiles. Também vale destacar o alinhamento da Qualidade Especial, com alguns instrumentos que não eram surdos nas laterais – algo que não é tão comum nas escolas de samba paulistanas.