A Acadêmicos do Cubango divulgou fotos de algumas fantasias que apresentará no carnaval de 2019, quando cantará, na Marquês de Sapucaí, o enredo “Igbá Cubango – a alma das coisas e a arte dos milagres”, desenvolvido pela dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Segundo os artistas, as fotos selecionadas expressam o conceito da narrativa do tema, que é complementado com fragmentos literários e trechos de canções:

“Seguindo a linha do ano passado, apostamos em um trabalho que dialoga com a experimentação. O enredo não é apenas “mais um enredo religioso”, mas uma visão poética do poder dos objetos, coisas materiais que possibilitam conexões com aquilo que julgamos sagrado. Por isso misturamos elementos “reais” a soluções mais comuns do universo carnavalesco. A farofa da ala dos ebós é feita com farinha de verdade, por exemplo. Também usaremos pipoca, cabaças, fitas do Bonfim compradas e benzidas no próprio Bonfim, na Bahia, serragem, argila, entre outros elementos”, explica Haddad.

Bora apresentou alguns detalhes do processo criativo:

“Escolhemos para essa divulgação quatro roupas de cada um dos setores, com exceção do primeiro (a abertura). Nas roupas do segundo setor, que trata dos objetos de pedir proteção, como carrancas, balangandãs e relíquias, predominam o verde e o branco da escola, tudo pontuado de ouro, prata e palha. No terceiro setor, que mostra objetos de pagar promessas, cada fantasia expressa um ponto de peregrinação mapeado pelo projeto “Ex-Votos do Brasil”. Inserimos Guararapes porque em Jaboatão, na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, foi pintado aquele que para alguns pesquisadores é o primeiro ex-voto do nosso país, um painel em agradecimento pela expulsão dos holandeses. Nessa parte do enredo, quando predominam os tons terrosos, mostraremos a diversidade dos tipos de ex-votos, como casas, barcos, cabeças, membros humanos em geral, cartas, fotografias”, explicou ele, concluindo ainda sobre o quarto setor.

“Por fim propomos uma reflexão crítica sobre a comercialização a preços abusivos de objetos que não necessariamente operam milagres, um retrato bastante irônico (daí o diálogo com “O Rei da Vela”) do avanço neopentecostal que politicamente estamos vivendo. O “voto sagrado” inclusive se “converte” em voto eleitoral, uma troca que, via de regra, gera lucros para poucos, mantendo muitos na miséria – justamente o que vemos na peça de Oswald de Andrade, mais do que atual. O colorido foi extraído das criações de Hélio Eichbauer. Encerramos o desfile com a ideia de que, na contracorrente, como afirma o livro “Fogo no Mato”, a religiosidade popular sobrevive e ‘’re-existe’’ nas frestas e nas festas, nas folhas sagradas cultivadas nos quintais, nos pequenos amuletos que carregamos no dia a dia e nas velas que acendemos de coração aberto, na esperança de dias melhores – e não para garantir uma “vaga no céu”, semeando preconceitos”

A Cubango será a sexta e última escola a desfilar no sábado de carnaval de 2019, pela Série A. Os protótipos das fantasias foram confeccionados pela equipe comandada por Alessandra Reis. A pesquisa do enredo também é assinada por Vinícius Natal, antropólogo da UFRJ e gestor do Museu da Escravidão e da Liberdade.

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