Por Matheus Vinícius, Juliana Henrik, Gabriel Radicetti e Raphael Lacerda

A Acadêmicos do Grande Rio escreveu mais um capítulo memorável de sua trajetória neste sábado, em sua quadra em Duque de Caxias. Com casa cheia e clima de celebração, a escola escolheu o samba que vai embalar o enredo “A nação do mangue”, assinado pelo carnavalesco Antônio Gonzaga. O hino de 2026 é de autoria dos compositores Ailson Picanço, Marquinho Paloma, Davison Wendel, Xande Pieroni e Marcelo Moraes. A tricolor caxiense será a terceira escola a desfilar na terça-feira de carnaval na Marquês de Sapucaí.  A noite também marcou momentos simbólicos: Virginia Fonseca foi coroada rainha de bateria e Paolla Oliveira recebeu a faixa de rainha de honra, levando a comunidade ao delírio.

Um dos grandes nomes do concurso, o compositor Ailson Picanço comemorou o bicampeonato na Grande Rio. “A emoção é indescritível. A Grande Rio é grandiosa, valoriza o samba e honra seus sambistas. Ser bicampeão hoje é algo inestimável. No ano passado conquistei a vitória com A Mina e o Cocoriô e, neste ano, com Manamaue Maracatu. Caxias demonstrou um engajamento total”, disse.

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Compositor Ailson Picanço

Para ele, um dos versos explica a força do samba: “Creio que o trecho ‘A vida parecida com as águas, não é doce como o rio nem salgada feito o mar’ ressoou profundamente na comunidade”.

Vindo do Pará, o compositor Marcelo Moraes ressaltou o significado cultural da vitória. “É uma satisfação muito grande. Ano passado vencemos com A Mina é Cocoriô, que explodiu na Sapucaí, e agora trazemos de novo esse movimento da Nação do Mangue, do Manguebeat. Ser bicampeão na Grande Rio é indescritível. Esse samba é um manifesto”.

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Entre os trechos preferidos, ele destacou: “A parte que eu mais gosto é ‘Freire, ensine um país analfabeto que não entendeu o manifesto’. Tenho certeza que a Grande Rio vai mais uma vez emocionar a Avenida e lutar pelo título em Caxias”.

O também bicampeão Marquinhos Paloma resumiu em poucas palavras a sensação. “A emoção de ser bicampeão pela Grande Rio é algo que não dá para explicar. Estou superfeliz. Vai ser muito bonito, muito legal, muito empolgante desfilar esse samba na Avenida. Vamos embora, Grande Rio”.

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Gonzaga aposta em identidade própria

Carnavalesco da Grande Rio em 2026, Antônio Gonzaga falou sobre o desafio de assumir o projeto após a saída da dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

“A Grande Rio é uma escola que eu já conhecia, tenho amigos aqui e me sinto em casa. A diferença é entender as características próprias da escola: o que gosta de vestir, cantar, como quer se ver na Avenida”.

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Segundo Gonzaga, o diálogo com os compositores foi essencial: “Tivemos uma safra excelente, e o samba escolhido se encaixa perfeitamente no projeto plástico e no discurso que vamos levar para a Sapucaí. Os protótipos estão prontos, a reprodução já começou e o barracão caminha muito bem. Estou confiante em um grande carnaval”.

Milton Perácio: ‘Caxias está em festa’

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O presidente da Grande Rio, Milton Perácio, lembrou a fundação da escola e enalteceu a noite de festa. “Hoje a cidade está em festa. Daqui a dois dias, a Grande Rio completa 37 anos. Quando fundamos esta escola, sonhávamos em criar uma vitrine cultural para a nossa cidade, e hoje isso se tornou realidade. É uma noite histórica, que celebra o samba e a nossa comunidade”.

Helinho Oliveira: ‘Os protótipos das fantasias estão maravilhosos’

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O presidente Helinho Oliveira mostrou confiança no trabalho do carnavalesco e no projeto plástico. “A Grande Rio sempre entra para fazer espetáculo. Fantasia e alegoria são quesitos que trazemos de casa. O protótipo foi um espetáculo. O Gonzaga já deu respostas e tem a confiança da diretoria. O meu dez ele já tem”.

Thiago Monteiro: ‘O melhor projeto plástico da história’

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Diretor de carnaval, Thiago Monteiro projetou o desfile de 2026. “O Carnaval de 2025 foi bom, mas queremos mais. Estamos 100% focados no enredo do Manguebeat. O nome do Gonzaga foi natural, ele tem a identidade que a Grande Rio precisa. O projeto plástico é o melhor de todos os tempos. Pretendemos manter 3.200 componentes e os ensaios de rua começam no fim de novembro”.

Evandro Malandro: ‘Cantar na Grande Rio é único’

Intérprete da escola, Evandro Malandro falou sobre a preparação para gravar os sambas concorrentes. “Não foi fácil, mas consegui chegar próximo da excelência que todos esperavam. Meu jeito de cantar é único porque busco clareza, palavra por palavra. Isso casa com a identidade da Grande Rio”.

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Ele também destacou a parceria com mestre Fafá: “O Fafá é muito musical. Quando acaba a disputa, ficamos até de madrugada pensando em novidades. É uma parceria de irmãos.”

Mestre Fafá: ‘Uma segunda chance’

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Após a perda do título em 2025 tendo bateria penalizada, mestre Fafá disse que 2026 será a redenção. “Foi doloroso, mas serviu de aprendizado. O enredo sobre Chico Science é muito musical, e isso nos dá uma nova chance de mostrar a força da nossa bateria. Já estudamos maracatu, coco e outras misturas. Queremos chegar fortes na gravação e na Avenida. A bateria nunca esteve tão unida”.

Clayton e Jefferson: ‘Harmonia é família’

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Os diretores de harmonia, Clayton e Jefferson, destacaram a parceria dentro e fora da escola. “Somos irmãos de vida, e essa união se reflete no trabalho. Além de nós dois, temos o Andrezinho e o Kaká. A comunidade de Caxias é nota mil. Trabalhar com Fafá e Evandro é fora da curva, é um casamento perfeito”.

Daniel e Taciana: ‘Um enredo que inspira’

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel e Taciana, exaltou o figurino e o enredo. “Em 2025, conquistamos 40 pontos mesmo enfrentando desafios, como a gravidez da Taciana. O figurino de 2026 é deslumbrante. O Gonzaga nos surpreendeu com um trabalho primoroso. O enredo é riquíssimo, vai inspirar uma coreografia especial baseada em referências como maracatu e dança do coco”, disse o mestre-sala.

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Taciana completou: “A riqueza de detalhes impressiona. Vamos estudar muito para entregar uma apresentação inesquecível. Mais uma vez, a Grande Rio vai brigar pelo título”.

Como passaram os sambas na final

Parceria Pérola do Samba (Recife): “DOBRA SURDO DE TERCEIRA E ALFAIA/ NESSE ‘GRANDE RIO’ DE LAMA VOU PLANTAR MINHA RAIZ”. O refrão do meio também apresentou carisma. Infelizmente, a segunda parte do samba teve uma queda de rendimento ao longo da apresentação. No fim, não conseguiu levantar o público da quadra.

Parceria de Samir Trindade: A parceria de Samir Trindade foi a segunda a se apresentar na final da tricolor. Trouxe uma torcida animada, mas a performance não cativou o público caxiense presente na quadra. O samba tem uma melodia dinâmica, ora acelerada, ora cadenciada. Um dos trechos mais destacados foi “EM CAXIAS, BATIDA ECOOU/ É BAIXADA E RECIFE A LUTAR/ DOIS MUNDOS, O MESMO CLAMOR/ MANGUEBEAT, UM PAÍS, MEU LUGAR!”. Além disso, o refrão principal é marcante, com imperativos de fácil memorização, que têm potencial de permanecer na lembrança do sambista.

Parceria de Marcelinho Santos: A composição de Marcelinho dos Santos e Cia teve como intérpretes Tem-Tem Jr, Ito Melodia, Vitor Cunha e Thiago Brito. Além de contar com a torcida mais animada entre as três primeiras apresentações, foi o samba que mais movimentou a quadra. O refrão principal é “chiclete” e aguerrido, com os versos “Caranguejo em movimento não aceita ser refém” e “O tambor da Grande Rio não se rende para ninguém”. O “Anamauê aueia ae” recupera a segunda parte quando ela começa a perder rendimento. Vale reforçar que o início da primeira parte demonstra força até o verso “A voz que vem do lamaçal”.

Parceria de Ailson Picanço: Interpretado por Dodô Ananias e Fábio Moreno, o samba encabeçado por Ailson Picanço se mostrou aguerrido. Os trechos “FREIRE, ENSINE UM PAÍS ANALFABETO” e “CHICO! MANGUEBEAT ESTÁ NA RUA/ CAXIAS COMPROU A LUTA” foram os mais cantados. A preparação para o refrão principal é intensa, com “RESPEITE OS TAMBORES DO MEU ILÊ/ RESPEITE A CADÊNCIA DO MEU GANZÁ”. Já o refrão do meio apresenta uma metáfora bem fundamentada. Por último, o refrão principal se destaca pelos versos “EU SOU DO MANGUE, FILHO DA PERIFERIA” e “A REVOLUÇÃO JÁ COMEÇOU!”.

Parceria de Myngal: A parceria que fechou a noite foi a de Myngal e Cia, interpretada por Charles Silva e Tinguinha. A estrofe “O POVO ANTENADO NA PERIFERIA/ NUM BEAT APERREADO PRO BAQUE VIRAR/ O NOSSO MANGUE É DUQUE DE CAXIAS/ ME ORGANIZEI PRA DESORGANIZAR” introduz com muita eficiência o refrão principal. O segundo refrão é cativante, com os versos “Daruê malungo ê” e “Paruê malungo ê”. No entanto, o público não acompanhou a animação transmitida pelo samba e pela torcida.