Por Luan Costa, Guibsom Romão e Rhyan de Meira
A escola de samba Deixa Falar, do Grupo Especial de Belém fez história no Rio de Janeiro. Os compositores Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho, Marcelo Moraes vão assinam o samba-enredo da Grande Rio para o Carnaval 2025. O resultado foi divulgado por volta de 3h30 deste domingo, em Duque de Caxias, após uma apresentação épica da parceria campeã. No ano que vem, a Grande Rio levará para a Avenida o enredo “Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.
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O CARNAVALESCO ouviu mestre Damasceno e ele falou sobre a conquista na Grande Rio e a emoção de vir do Pará e ganhar no Rio de Janeiro.
“Muita alegria, muita felicidade. Até pela distância que a gente vem, a gente vem atravessando o oceano, se encontrando com os amigos da capital do Pará. Concorrendo samba em meio de nove sambas no Pará. Consegue levar, classificar. Chega no Rio, concorre com os caras famosos. E a gente consegue ser o campeão para o carnaval da cidade de Rio. É uma felicidade, uma sorte, emoção e alegria para o povo do Pará, do Rio de Janeiro e do Marajó”.
O compositor Ailson Picanço falou ao CARNAVALESCO da sensação de vencer na disputa de samba-enredo da Grande Rio para 2025.
“É uma sensação incrível porque a comunidade nos abraçou desde o primeiro dia, desde o dia do lançamento. A comunidade não se importou se o samba era do Pará ou do Rio de Janeiro. Ela queria saber se o samba era bom, independentemente de onde vinha. Receber todo esse apoio e carinho não tem preço, é indescritível. Fizemos o melhor que pudemos para chegar nesse momento aqui. E, se Deus quiser, a Grande Rio terá muito sucesso no carnaval, se as caboclas e as juremadas permitirem”.
O compositor Marcelo Moraes também comemorou a conquista no Rio de Janeiro. “A sensação é a melhor possível. Não tem como descrever, isso aqui é um sonho para os compositores do Pará. Para a gente, não tem preço. Essa vitória não é apenas dos compositores da parceria, é uma vitória do Estado do Pará. Está na boca do povo, é uma celebração de todos. E vamos com tudo para o campeonato, porque, se Deus quiser, a Grande Rio vai levar esse título para casa”.
Intérprete da parceria campeã, da escola Deixa Falar, Fábio Moreno ressaltou ao CARNAVALESCO a força das escolas de samba de Belém e dos compositores locais.
“Os nossos sambas, os nossos compositores em Belém são compositores que exportam muitos sambas para a nossa região, sambas para Macapá, para Manaus e tem um leque muito bom, mas nós nunca tivemos um nível de alcance como esse trabalho agora que teve aqui na Grande Rio. Nós tivemos sorte e fomos agraciados pela Nossa Senhora de Nazaré com a safra que tivemos lá na disputa que tivemos lá, que com todo o respeito, mas dois sambas vindo de Belém ainda foi pouco, porque nós tivemos muitos sambas com condições de chegar aqui e dar o seu recado. Realmente é absurdo o que está acontecendo, parece que às vezes eu vou acordar desse sonho”, afirmou o cantor.
O compositor Davison Jaime sobre a emoção de ganhar: “É a realização de um sonho, a gente disputa samba há um tempo, seja no Pará, seja em outros estados, mas isso aqui é um sonho realizado de infância e a gente parece que nem acredita, estamos todos muito felizes. É difícil dizer o que mais gosto nesse samba, o samba possui várias partes com sustentações que me mantém ele sempre lá em cima, então não consigo dizer o que gosto mais”.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, o diretor de carnaval da Grande Rio, Thiago Monteiro, falou o que é possível esperar do desfile da escola, falou sobre ter caído na terça-feira e comentou a sinergia da agremiação com as escolas de samba de Belém.
“Podem esperar que vamos disputar o título, respeitando todas as coirmãs, claro, todo mundo está se preparando da melhor maneira possível, mas a gente também está se preparando muito, muito bem, e a gente tem plena consciência do que a gente quer buscar, que é o melhor carnaval da nossa história e brindar o público com um grande espetáculo. A referência que a gente tem hoje é o desfilar na segunda. E sempre foi, para nós, visto com bons olhos, uma vantagem. Além de você ter mais dias de preparação, você de fato vê o que já aconteceu na pista. Terça-feira você tem um dia a mais. Inclusive, a Grande Rio escolheu, optou por isso, porque no sorteio a bola maior saiu para a gente e nós optamos. É lógico que é uma incógnita, mas pegando a analogia da antiga segunda-feira é uma vantagem. Foi maravilhosa parceria com Belém, não só com a Liga, mas com todo mundo que se envolveu nessa disputa. O presidente da Liga foi fantástico na condução. Agora fica esse intercâmbio, já é uma vitória do carnaval, já é uma vitória do samba”.
O presidente da Grande Rio, Milton Perácio, falou sobre a confiança da escola com o enredo de 2025, a sinergia com o governo do Pará e como será desfilar na terça-feira de carnaval.
“A Grande Rio está certa que irá fazer um grande desfile. O enredo nos permite dizer isso. É um grande enredo. E vamos para as cabeças. Estamos pensando em campeonato. “Foi muito bom o intercâmbio cultural entre o Rio de Janeiro, de Caxias, Grande Rio e Belém do Pará. As escolas de samba de Belém do Pará são escolas de samba fortes, grandes compositores, isso foi bom para o Belém do Pará, para as escolas de samba, foi bom para o Grande Rio e é bom para o samba. A Grande Rio não tem dia de desfile, ela desfila em domingo, segunda-feira, e a terça-feira é só mais um dia, a Grande Rio vai passar de um jeito bonito, lindo e maravilhoso”, garantiu.
A dupla de carnavalescos da Grande Rio, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, conversou com o CARNAVALESCO sobre o enredo de 2025 e o que esperar do desfile da escola no ano que vem.
“Quando há liberdade criativa, e no nosso caso foi uma liberdade criativa total. Isso foi negociado já de início, tudo se torna muito rico, muito vivo porque não há nenhum tipo de intromissão, de dirigismo, a escola confiou plenamente no nosso trabalho como a gente confia na administração da escola, havendo esse acordo mútuo eu acredito que os frutos da desse processo já estão sendo vistos. Uma safra de samba muito expressiva, um enredo que apresenta um olhar muito diferente, muito especial, que definitivamente não cai naquela redução que as pessoas fazem, do tal enredo CEP, a gente jamais faria isso, não nos interessa enquanto artista, não interessa pra Grande Rio nesse momento. É um enredo de muita energia, é um enredo muito sensível”, garantiu Bora.
“A diretoria dá uma liberdade muito grande para gente trabalhar e é tudo na base da conversa. A gente dialoga muito bem. Quando chegou a possibilidade de patrocínio do Pará a gente pediu um tempo pra que a pudesse organizar as ideias, de tentar ver que que a gente conseguiria fazer de diferente, algo diferenciado, pra gente não era interessante pra eu acho que nem pra eles também se fosse um cep tradicional como a gente viu passar lá atrás, então é muito bom para gente observar essa relação que a gente conseguiu desenvolver também com a Secretaria de Cultura do Estado do Pará. A gente conversou com muita gente. Acho que o fio condutor da nossa história vai passar pelas princesas, que também já era um enredo que a gente vinha pensando. A gente conseguiu unificar tudo, nada mais é do que o diálogo”, contou Gabriel Haddad.
Comandante da bateria da Grande Rio, mestre Fafá citou o que esperar do desfile em 2025. “Muita alegria, muita cadência. A gente vem com tudo mais um ano, mantendo nossa pegada. Nosso objetivo, mais uma vez, é garantir os 40 pontos. A fantasia será extremamente leve e agradável, o que é importante para a nossa performance. Estamos estudando bastante, pesquisando o carimbó, o tambor de mina, que fazem parte do nosso enredo. Pode ter certeza de que o Pará estará bem representado na nossa bateria”.
O intérprete Evandro Malandro também falou ao CARNAVALESCO sobre a expectativa para o desfile de 2025 da Grande Rio.
“Pode esperar uma Grande Rio muito bonita na Sapucaí, muito bem preparada, muito focada, com muita responsabilidade, muito trabalho, mas também com muita alegria. Vai ter muito cheiro de patchouli, independente de qualquer samba, porque isso é Belém do Pará, isso é muito bonito. Essa interação dos compositores do Rio de Janeiro com os compositores do Pará está preparando um trabalho muito bacana. Alegria, emoção, tem que ter valentia, mas sem perder a beleza, sem perder a melodia, que é algo que a gente gosta de trabalhar bastante. Não forçar o andamento, não correr, mas também não arrastar. Acho que, se der tudo certo, vamos trabalhar bem o samba, que tem tudo o que precisamos”.
Responsáveis pela comissão de frente da Grande Rio, os coreógrafos Hélio e Beth Bejani, vencedores do ESTRELA DO CARNAVAL 2024, contaram ao CARNAVALESCO como está o trabalho para o desfile do ano que vem.
“Nós estamos tentando trazer também uma nova estruturação da comissão de frente, para não ficar aquela mesmice de sempre. A gente está buscando um caminho diferenciado mais contemporâneo, falando em termos da atualidade, da modernidade que a gente vive. Vamos trabalhar muito com o lúdico em conjunto com a realidade. A gente começa a desenvolver a comissão a partir do enredo, até porque o nosso trabalho prioriza essa situação de a gente apresentar uma síntese do enredo na comissão de frente, para já tentar que o público se interesse pelo que vem depois. A gente acredita que o principal efeito da nossa produção são os componentes. São eles que trazem o nosso trabalho, que representam e trazem para a avenida o que a gente desenvolveu”, afirmou Hélio Bejani.
“São muitas questões lindas do Pará, da história, das lendas, do tambor de mina. A gente está navegando nesse rio de encantarias e vamos fazer um grande carnaval. A gente já está com o projeto praticamente pronto, acho que cada ano é um ano, mas toda essa energia desse enredo está dando um gás a mais a gente. Todo esse universo do tambor de mina está trazendo para a gente uma mistura, um misto de muita encantaria. A gente está muito feliz com o enredo e com o que a gente está desenvolvendo. Até porque a comissão de frente é mutante, a gente começa o projeto e ela vai se transformando. Seguimos com a força do nosso chão, com a força dos nossos componentes, do nosso elenco. A gente confia muito neles. Eles estão com a gente há muito tempo e nosso efeito especial são eles. Sobre a iluminação da Sapucaí, ela veio para ficar. Eu acho que todas as escolas agora estão usando e abusando da iluminação”, comentou Beth Bejani.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Grande Rio, Daniel e Taciana, conversou com o CARNAVALESCO sobre o desfile de 2025, mais uma cabine de julgamento e a fantasia para o ano que vem.
“Olha, com certeza, a cada ano é uma proposta diferente. Com esse enredo, falando sobre o Pará, sobre as encantarias, o próprio carimbó, que é uma dança cultural regional deles, vamos entregar um pouco do carimbó também na avenida. Sobre ter mais uma cabine de julgamento, para a gente é tranquilo, conseguimos tirar de letra. Claro que exige uma preparação maior, porque agora são quatro cabines em vez de três, mas a gente dá conta. Depois que o samba é definido, a gente já começa a pensar na coreografia, tanto para a quadra quanto para a avenida. Esperem algo impactante nas nossas fantasias, algo que ainda não teve na Marquês de Sapucaí, e espero que a galera curta bastante”, comentou o mestre-sala.
“A escola está muito feliz, muito animada com o samba. Tivemos uma safra muito boa. A Grande Rio está muito bem representada. A Grande Rio é uma comunidade que abraça qualquer samba que for escolhido, e agora não será diferente. É um enredo muito bonito, muito lindo, desenvolvido pelos nossos carnavalescos. Podem esperar uma Grande Rio linda dentro das águas. Estamos trazendo Catarina, tambor de mina, carimbó e tudo o que tem lá no Pará. Sobre mais uma cabine de julgamento, vai exigir um pouco mais de preparação física, sem dúvida. Mas como a gente não corre de trabalho, já estamos calculando tudo direitinho. Já começamos a trabalhar com um preparador físico e com a nossa coreógrafa, e tenho certeza de que vai dar tudo certo, com fé em Deus. Ainda não conheci a fantasia porque ela está na fase de teste. Estamos trabalhando para trazer algo bacana para a avenida. Se não me engano, na quarta-feira vamos conhecer a fantasia e, logo logo, teremos novidades para contar. Mas sempre gosto de guardar um segredinho para vocês verem só na avenida”, disse a porta-bandeira.
Como passaram os sambas na final da Grande Rio
Parceria de Diogo Nogueira: A parceria liderada por Diogo Nogueira foi a primeira a se apresentar nesta final, e trouxe um samba repleto de referências culturais. Composto por Diogo Nogueira, Myngal, Inácio Rios, Federal e Igor Leal, o samba foi interpretado com grande entusiasmo por Evandro Malandro durante as duas primeiras passadas, no restante os próprios compositores conduziram a obra.
A apresentação teve um início forte, a resposta da torcida foi imediata e calorosa, com muitos balançando bandeiras e cantando junto, o que ajudou a criar uma atmosfera positiva na quadra. A parceria ainda utilizou de vários elementos de pirotecnia para chamar atenção do público durante a passagem. O refrão principal, “Chama Verequete… oh Verê”, foi um dos pontos altos, com a torcida respondendo bem. Apesar de todos esses elementos positivos, o samba não causou um grande impacto na apresentação. Embora bem executado, o resultado não conseguiu empolgar completamente o público presente.
Parceria de Dere: A parceria composta por Dere, Licinho Santos, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro e Eduardo Queiroz foi a segunda a se apresentar na disputa final, trazendo um samba bem estruturado e com uma letra que reflete o enredo com clareza. A interpretação ficou a cargo de Evandro Malandro nas primeiras duas passadas e em seguida somente com Tem-Tem Jr, que conduziu a obra com muita competência, imprimindo a energia necessária para transmitir a mensagem do samba.
Desde o início, o samba conseguiu envolver o público com versos “A verdade é uma colcha de retalhos desfiada” e “Quem quiser ver Mariana vai na espuma do mar”. A torcida, apesar de pequena respondeu bem, cantando junto e agitando bandeiras, o que trouxe uma boa dose de entusiasmo para a apresentação. Os versos que antecedem o refrão principal, “Ererê erê arêá, a doutrina que me rege baila na preamar”, teve um bom impacto e conseguiu captar a atenção da comunidade. O desempenho da parceria foi positivo, mantendo um bom nível de rendimento durante toda a apresentação.
Parceria da Deixa Falar: A parceria formada por Mestre Damasceno, Ailson Picanço, Davison Jaime, Tay Coelho e Marcelo Moraes se destacou na seletiva do Pará com um samba que conquistou a comunidade caxiense e rapidamente caiu no gosto popular. Com a interpretação marcante de Fábio Moreno, o samba trouxe a força e a autenticidade da cultura paraense para a disputa da Grande Rio, gerando grande expectativa para a final.
A expectativa se confirmou e desde o início, a apresentação foi marcada por uma energia contagiante, com a torcida respondendo de maneira intensa e vibrante antes mesmo do início oficial. A letra, que começa com o refrão “A mina é cocoriô! Feitiçaria parauara”, imediatamente chamou a atenção pelo uso de expressões regionais que exaltam a riqueza cultural do Pará. A conexão com o público foi evidente, com bandeiras tremulando, e muitos presentes entoando o samba junto com a equipe de som. A riqueza poética e a melodia cativante fizeram desse samba um dos grandes destaques da noite. A estrofe “Se a Boiúna se agita… é banzeiro! Banzeiro!” ecoou pela quadra, deixando clara a força da obra e a adesão do público, que respondeu com empolgação durante toda a apresentação.
O desempenho da parceria foi excelente, conseguindo manter a intensidade do início ao fim. A apresentação foi bem conduzida, com Fábio Moreno imprimindo força e emoção em cada verso, o que ajudou a elevar ainda mais o nível do samba. Foi uma verdadeira catarse, com gritos de “é campeão” no final.
Parceria de Elias Bililico: A parceria dos compositores Elias Bililico, Xande de Pilares, Malfredini Henrique, Edinho Gomes e Sérgio Gomes foi a quarta a se apresentar nesta final. O intérprete Nino do Milênio deu vida à obra, explorando bem os contrastes entre as partes mais suaves e os momentos de explosão. Apesar da performance consistente de Nino, a resposta da quadra variou ao longo da apresentação, talvez ainda impactados com a apresentação anterior, parte do público dispersou em alguns momentos.
Os versos iniciais da segunda parte, “Ê Marajó… Jureme… Juremá”, eram interessantes e preparou o terreno para o ápice do samba. A transição para os versos finais, “Grande Rio… deságua meu coração/Navegando, no toque do curimbó”, foi um dos pontos altos da apresentação. No entanto, não foi o suficiente para uma apresentação que conseguisse causar comoção.
Parceria da Bole Bole: A parceria formada por Vetinho, Felipe Silva e Danilo Vetinho foi mais uma vinda da seletiva paraense. Com Bruno Costa como intérprete, a obra foi apresentada com força e energia e contou com uma torcida engajada, mas encontrou dificuldades para engajar plenamente a quadra.
O samba tem momentos poéticos e fortes, como nos verso “Banzereou, Vodum, banzereou. A obra também apresentou bons momentos principalmente no refrão “Onirê, chama Averê, ê donindá”, que conseguiu resgatar a energia e a participação da quadra. No geral, foi uma apresentação correta, que contou com muita emoção, a energia vinda do do palco foi fundamental para uma boa passagem, porém, não o suficiente para que contagiasse por completo o público presente.