A energia musical que se coloca ao tocar um instrumento numa bateria de escola de samba pode representar exatamente a intensidade que o ouvinte vai perceber o ritmo feito. Não é segredo de ninguém, por exemplo, que testemunhar uma bateria num desfile oficial ou mesmo ensaio técnico na Sapucaí é uma autêntica experiência sensorial.
O samba-enredo enquanto gênero carrega uma boa dose de emoção, além de múltiplos sentimentos. Tanto em letras cada vez mais inteligentes, sagazes e antenadas, quanto em melodias ricas e com belas variações. Determinada nuance melódica, por vezes, pode carregar uma parcela de sofrimento em um enredo mais reflexivo, assim como a animação de propostas de sambas mais leves podem embalar a todos com uma melodia mais fluída e para cima. No samba, inúmeras são as alternativas musicais para tentar cativar e impactar positivamente público, componentes e julgadores. Saber canalizar e extrair a melhor energia possível para colocar no ritmo pode ser desafiador, além de profundamente engrandecedor.
A espontaneidade de um ritmista tem um alto poder de encantamento. Agora imaginem inúmeros ritmistas, mesmo disciplinados, deixando a emoção conduzirem suas execuções musicais. A chance do aguardado e sonhado sacode pode estar representado no quanto a bateria é capaz de se divertir tocando. Dessa forma, é possível dizer inclusive que a espontaneidade musical se encontra interligada a um importante critério de julgamento do quesito, que é a versatilidade rítmica. Ao demonstrar e indicar que tocando de forma disciplinada, uma bateria ainda é versátil a ponto de interagir, isso por si só chama atenção. Julgadores podem sim acabar fascinados com uma apresentação onde além do ritmo pode ser contemplado o espírito musical de liberdade. Toda essa exibição ficará ainda mais encantadora se for obtido esse nível desejado de espontaneidade de maneira natural.
A fase atual da agremiação conta muito, principalmente no dia a dia de uma maratona de ensaios. O astral de toda a bateria também está particularmente envolvido nessa questão. O clima, tanto entre escola, quanto na bateria deve permanecer leve, pacífico e garantindo assim um maior entrosamento entre os ritmistas e diretores. Essa autêntica união entre indivíduos ajuda a solidificar relações, provocando assim um alinhamento interpessoal notável. Todos os ritmistas querem sua nota máxima ou mesmo brigar por premiações musicais, além de ver a escola onde desfila numa colocação honrosa. Fazer isso sendo verdadeiramente feliz e realizado, portanto, ajudará imensamente nessa busca incessante pela excelência rítmica sem fim.
Cabe ter atenção ao alto grau de complexidade envolvendo os arranjos. Bossas com dificuldade de execução elevada ocasionam vez ou outra em ritmistas desfilando de forma mais presa e concentrada, sendo difícil uma interação energética mais solta e alegre. Vale conferir se todo o impacto musical está sendo obtido com essa complexidade e se cabe facilitar um pouco mais, para que toda a galera possa cair dentro de maneira mais livre. Do contrário, bossas populares que chamam o público ajudam demais em interações. Largar o samba para o canto em coro, mesmo que seja um refrão, costuma ser uma alternativa válida para garantir a interação popular e aumentar as adesões espontâneas dos ritmistas ao clima de emoção conseguido. Mas vale ficar bem ligado nas retomadas nesses casos, pois às vezes o sentimento pode vir a dominar as ações por completo, o que pode dificultar na precisão necessária para a volta do ritmo.
Ainda que não seja a personalidade do mestre buscar esse tipo de entretenimento popular, sempre será valioso investir na capacidade de entrega de energia musical do ritmista. É uma galera que se doa de forma integral aos ritmos. Tratam-se de colaboradores emocionais do carnaval, que ensaiam desde o meio do ano até o dia do desfile. Participam durante esse ciclo de inúmeros eventos em diversas quadras, representando suas respectivas escolas. A consolidação energética é uma parte vital da verdadeira experiência sensorial rítmica que é presenciar uma bateria de escola de samba. Fazer ritmo e garantir uma exibição divertida e explosiva, sejam em shows ou pela Avenida, pode sim ser o divisor de águas entre uma boa apresentação e um tremendo de um sacode.