Na tarde da última sexta-feira, ocorreu mais uma ação protagonizada pelo poder público para discutir o fomento e a importância do carnaval para a economia do estado do Rio de Janeiro. O seminário “Samba e Carnaval: A Economia que move um Estado”, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Sececrj), reuniu lideranças e sambistas do carnaval fluminense na Biblioteca Parque Estadual, no Centro da cidade do Rio.
A mesa de abertura do evento contou com a participação da secretária da pasta, Danielle Barros; do presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro; presidente da Associação das Escolas Mirins do Rio de Janeiro (Aesm-Rio), Edson Marinho; presidente da Superliga, Pedro Silva; presidente da Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do Estado do Rio de Janeiro (Ficcerj) e assessor especial da Sececrj, Sergio Firmino e o presidente da Comissão de Estudos e Conflitos Jurídicos do Carnaval da OAB-RJ, Dr. André Vasserstein.
A secretária Danielle Barros destacou a importância de políticas públicas que auxiliem os espetáculos da Passarela do Samba, do carnaval de rua e de outros grupos culturais presentes no estado.
“Essa ação se torna urgente. Sem dúvida, o nosso carnaval tem a sua grande marca, que é o que fazemos na Marquês de Sapucaí. Mas enquanto Secretaria de Cultura e Economia Criativa, sabemos que o movimento do carnaval não se resume ao movimento da Avenida. A gente também tem o carnaval no interior do estado e um movimento muito forte na Baixada Fluminense. Também existe o carnaval de rua, que são os nossos blocos, que enquanto está acontecendo o espetáculo da Sapucaí, realizam um outro movimento de carnaval, que dialoga com uma outra linguagem e é complementar ao carnaval da Sapucaí”, ressaltou a secretária.
De acordo com o relatório “Carnaval de Dados”, o espetáculo deste ano movimentou, somente na economia da capital fluminense, R$ 4 bilhões, 12,5% maior que em 2020 . Danielle falou sobre a importância da maior festa popular do mundo para diversos setores do estado.
“O carnaval é um espetáculo de luz, cores e som que encanta os nossos olhos. Mas ele não é só isso: também é um movimento de fortalecimento econômico que gera renda, emprego, fortalece o turismo e traz dinheiro. Por isso, tudo o que a gente faz pelo carnaval não é uma despesa, é um investimento. A gente não quer só patrocinar o carnaval e garantir o seu fomento. Para nós é importante participar e ampliar esse movimento de escuta”, comentou.
Entre os anos de 2020 e 2023 o poder público realizou aportes que totalizam mais de R$ 56 milhões para o carnaval. Com a entrada dos repasses para o orçamento do estado e propostas de fomento, como o Projeto de Lei 331/2023 – que propõe a criação de uma verba para incentivar os desfiles da Intendente Magalhães e do Sambódromo – além do possível apoio do Governo Federal, a quantia anual recebida para os sambistas deve ser ainda maior comparada aos anos anteriores.
Há 40 anos locutor da elite do carnaval carioca e atual presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Perlingeiro ressaltou o grande alcance e impacto que os desfiles do Grupo Especial trazem para o estado. Para Perlingeiro, a integração entre diferentes setores do Poder Público e carnavalescos já deveria ter ocorrido anteriormente.
“Há muito tempo isso já deveria ter acontecido. Havia um distanciamento muito grande com o poder público. Ninguém é grande sozinho. Nós nos sentimos agora um pouco mais amparados. Sabemos o quanto de renda a gente traz para a cidade do Rio de Janeiro. Foram R$ 5 bilhões em impostos que nós geramos para a cidade neste carnaval, onde batemos todos os recordes possíveis de se imaginar. Na Marquês de Sapucaí, só no Sábado das Campeãs, recebemos 120 mil pessoas”, disse o presidente da Liesa.
Com gastos que vão desde a montagem e iluminação da Passarela do Samba até o reforço da segurança, o presidente da Liga revelou que a despesa do último carnaval, somente na preparação da Sapucaí, foi de R$ 37,5 milhões. Por conta do custo elevado, ele afirmou que não é possível que os sambistas arquem com tudo sozinhos. Perlingeiro também comentou sobre a movimentação feita no Congresso Nacional pela Frente Parlamentar em Defesa do Samba e do Carnaval.
“Nós não somos grandes o suficiente para não ter a necessidade do Poder Público ao nosso lado. A iniciativa privada não consegue bancar os nossos custos. Só para vocês terem uma ideia, a Liga pagou neste ano para a montagem da Sapucaí R$ 37,5 milhões. Não pensem que é fácil fazer carnaval. Neste carnaval a Liga completa 40 anos e vamos fazer um belíssimo carnaval. Hoje já melhorou muito e já temos a certeza que não estamos desamparados. Temos o apoio da prefeitura, agora o do estado e, Graças a Deus, também estamos caminhando para o apoio do Governo Federal. Daí a gente vai conseguir fazer um carnaval com dignidade, onde as escolas poderão apresentar um conteúdo muito maior do que já foi visto até hoje”, disse Perlingeiro.
Presidente da Superliga, Pedro Silva, assim como na audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) no último dia 20 de junho, enfatizou a falta de recursos vivenciada pelas escolas da Intendente Magalhães.
“Não se faz cultura sem o apoio de políticas públicas. Nos últimos quatro anos eu tenho viajado o Brasil para conhecer outras praças de carnaval – Porto Alegre, Brasília, o Norte do país – e todas elas só acontecem graças ao apoio de políticas públicas. A SuperLiga tem 78 escolas de samba e é a maior liga do mundo. É uma referência muito grande, mas a gente sofre com algo que precisamos mudar, que é a questão da verba. A gente tem uma verba pequena, então quando trazemos aqui para a economia criativa, fazemos duas definições: é o fomento à cultura, mas também temos que ressaltar a criatividade do sambista em fazer carnaval com pouco dinheiro”, comentou Pedro.
“Nós precisamos de políticas públicas, porque a gente não tem o apelo da iniciativa privada. Não conseguimos o apelo para ter um patrocínio, de exposição de marca. É muito difícil fazer carnaval em ligas inferiores, mas a cobrança é a mesma. Precisamos criar uma valorização das escolas da Intendente Magalhães. Falo em nome da Intendente porque a instituição que defendo, mas também temos os blocos e as demais ligas. No mundo inteiro quem faz carnaval somos nós, toda referência de samba que temos em outros países são de brasileiros que estão lá fomentando a nossa cultura. Quem tem que cuidar somos nós. Só vamos conseguir resultados estando unidos”, completou.
Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o seminário é permanente e a expectativa é que outra edição seja realizada nos próximos três meses.