O ano de 2018 está terminando com a maior crise enfrentada pelas escolas de samba do Rio de Janeiro. O principal ponto é a falta de incentivo do poder público, leia-se a Prefeitura do Rio, através do prefeito Marcelo Crivella, e a dificuldade das agremiações sobreviverem sem o aporte público. A questão é urgente principalmente para escolas da Série A e os Grupos de Acessos da Intendente Magalhães. Mas, a pergunta que está no ar é como as poderosas escolas do Grupo Especial, que produzem o maior espetáculo da terra, e que são referências para desfiles de carnaval por todo o país e mundo, vão virar esse jogo e apresentarem soluções para o momento, e, claro para os próximos carnavais.
O site CARNAVALESCO ouviu dois personagens que despontam como lideranças jovens e dispostas a mergulharem de cabeça na virada de página do carnaval carioca. Luiz Guimarães, filho de Capitão Guimarães e vice-presidente da Vila Isabel, e Marcelinho Calil, presidente da Viradouro, estão pensando em soluções para os rumos da folia. Além dos dois, Gabriel David, filho de Anísio Abraão David e conselheiro da Beija-Flor, é outra liderança nova dentro do carnaval. Além deles, as escolas tem nos presidentes da Vila Isabel, Fernando Fernandes, e da Mocidade, Rodrigo Pacheco, figuras que estão sempre se posicionando e pedindo mudanças no carnaval.
Luiz Guimarães alega que é hora de o investimento privado crescer no carnaval e opinou que para isso é preciso uma urgente modernização na Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa).
“Eu acho que o desejo de todos é cada vez mais o privado no carnaval. Para chegarmos lá eu acho que precisamos de uma modernização na Liesa, em todas as áreas e em todos os sentidos. Melhorar marketing, assessoria. A entidade tem um potencial gigante que não sabe explorar. Mas estamos negociando, conversando. Estou fazendo reuniões direto com o Gabriel David e o Marcelinho Calil. Temos de nos atualizar ao que a atualidade pede”, destacou.
Para o mandatário da vermelha e branca de Niterói, a discussão de mudanças já eram necessárias e pertinentes como em qualquer meio.
“Pela indefinição que a gente vem enfrentando quanto a verba pública, acelerou esse processo. Vivemos um momento, dentro da Liga de interação e ponderações entre diferentes gerações. Isso é bem positivo. A situação de crise tem sido agravada também muito por conta do corte de verba da prefeitura. É preciso agir com inteligência e assim faremos. Tem a hora da batalha naval, mas temos que entender a hora do xadrez”, disse Calil.
Com relação à busca de parceiros na iniciativa privada, Calil opina que essa é uma discussão que já vinha sendo conduzida internamente na Liesa e que agora a necessidade pede que seja de certa forma mais prioritária.
“Eu não tenho uma fórmula pronta. Estamos nos mexendo, buscando novos parceiros e com sabedoria e visão de mercado precisamos direcionar nossas energias nisso. Todos juntos. Liga e escolas. Esse ano acho que o urgente é buscar o melhor possível de estruturação para desfilarmos. Depois da festa juntos buscarmos novos caminhos para além do poder público. Mas, além de ser a nossa cultura, o carnaval fomenta muitos recursos para os cofres públicos. E a identidade de nossa gente está no samba. É até uma questão de respeito com o que somos”, afirmou o presidente da Viradouro.
Luiz Guimarães luta por viabilização de ensaios técnicos
Para o vice-presidente da Vila Isabel, a inspiração para os novos projetos vem de ideias dos grandes festivais, como o Rock in Rio e o Lollapalooza. Luiz Guimarães defende a realização dos ensaios técnicos para o Carnaval 2019.
“A busca de aliados vejo como a curto prazo uma boa solução. Figuras como o Medina, no Rock in Rio, o próprio Lollapalooza, são cases de sucesso onde podemos buscar inspiração. Precisamos viabilizar os ensaios técnicos, ali está o público do carnaval. Eu acho que essa é nossa urgência para 2019. E para 2020 viabilizar parcerias sérias. Tenho visto São Paulo se modernizando e nós estamos estagnados há anos”, comentou Guimarães.
Marcelinho Calil cita como o mais urgente é gerar receita. Mas, na opinião do presidente da Viradouro, o cenário econômico global não vem sendo dos melhores, não somente para o carnaval.
“A curtíssimo prazo é aumentar receita. Não há uma fórmula mágica. É preciso botar as cabeças para pensarem, para que consigamos reverter essas dificuldades. Precisamos transformar potencial em número”.
Compliance, mundo corporativo e gestão moderna
Ao alegar que o compliance da empresa orientou o afastamento da Uber do carnaval, a entidade acusou a prisão de Chiquinho da Mangueira como motivo. O conceito é novo e rege as regras de ética de uma corporação. Luizinho Guimarães afirma que não adianta reclamação, mas ações de boa gestão, para recuperar a credibilidade da festa.
“São novos termos, novas ideias. Precisamos ter conhecimentos de gestão. O compliance, uma auditoria séria, para saber o que dá para fazer e o que não dá. A reformulação precisa ser completa. A busca de parceiros através de estudos vai viabilizar esses recursos. Isso trará parceiros que terão contrapartida. Temos um produto único, sem concorrência”, opinou.
Marcelinho Calil opina que as escolas são pessoas jurídicas que cumprem com as regras internamente e externamente. O dirigente defende que haja apoio às agremiações.
“Trazendo para o que ocorreu neste ano eu entendo que as escolas tiveram essa comunicação. Não vou ficar entrando em detalhe, é uma discussão que as partes precisam estar juntas para entenderem o que o houve. As escolas enquanto pessoas jurídicas estão isentas. Sempre serei a favor das escolas receberem apoio. O comportamento das escolas perante as obrigações públicas tem sido de acordo. Acredito que sem problemas. Internamente não posso falar de todas, mas tenho certeza que cada gestão busca respeitar suas condutas internas com transparência e eficiência”, finalizou.