Nascido em uma família de fundadores da Lins Imperial, sobrinho e discípulo do intérprete Celino Dias, Emerson Luiz de Castro, o Emerson Dias, chega a um momento especial da carreira se consolidando entre os grandes nomes do carnaval carioca. Intérprete oficial do Acadêmicos do Salgueiro desde 2019, Emerson esteve por seis anos no microfone oficial da Grande Rio, escola que o cantor revela ter sido para sua carreira de um grande aprendizado, desde quando entrou para o carro de som como apoio, para o Quinho, em 2001.
Hoje, aos 43 anos de idade, pai de três filhos, Emerson divide o microfone principal do Salgueiro com Quinho, a quem considera um grande amigo, tem muita gratidão pelas portas que o cantor lhe abriu, e procura neste momento também retribuir toda ajuda nesta nova parceria. Em conversa com o CARNAVALESCO, Emerson fala de como concilia a carreira com o trabalho em uma operadora de telefonia, do que vê de direito para os profissionais do carnaval, além de relembrar as histórias de seus bordões, da parceria com Ivete Sangalo, e do dia que assumiu o microfone da Grande Rio no desfile, enquanto Wander Pires, o intérprete oficial, atrasado, ainda não havia chegado.
Qual o balanço que você faz da sua carreira como intérprete de escola de samba?
Emerson Dias: “Eu acho que eu já me consolidei entre os intérpretes do carnaval carioca, já tenho uma história bem marcante no carnaval carioca. Para mim, isso não é soberba, não é isso. Mas, eu já me tornei uma referência. E, me orgulho muito disso, assim como o Tinga se tornou uma grande referência, eu consegui conquistar esse espaço, O Evandro (Malandro) vem conseguindo conquistar esse espaço na Grande Rio. O Igor Sorriso, meu grande ídolo dessa geração, é o Igor Sorriso. Ele foi para São Paulo, mas conquistou isso. Acho que eu consigo, hoje, ainda ter gordura para queimar por muito tempo ainda, é uma pena que hoje a mídia não abra espaços para os cantores de samba-enredo poderem mostrar, não um outro lado, mas cantar uma música que não seja de samba-enredo, fazer uma carreira como o Neguinho da Beija Flor fez, fazer uma carreira como o Dominguinhos do Estácio fez. Hoje em dia, a mídia é muito cruel com isso. A concorrência é muito cruel para gente, vide o que está acontecendo com o carnaval aí, tudo é culpa do carnaval. Eu tenho um lema que é muito forte na minha cabeça: ‘Pedra que muito anda não cria limo”. Não quero ficar rodando de escola em escola, quero ficar onde eu estou, estou bem onde eu estou. Estou feliz e quero me manter, pois é muito mais difícil você se manter do que você chegar”.
O Celino Dias é seu tio. O que ele te falava quando você dizia que queria ser cantor? Como ele te ajudou?
Emerson Dias: “O meu tio Celino Dias é o meu grande combustível, o meu grande espelho, o meu grande incentivador. Eu era diretor de tamborim da Lins Imperial. São dois tios, o Celino e o meu tio Jerônimo. A gente morava parede com parede. Eu ficava na casa do meu tio Jerônimo e botava na época o LP de bateria e ficava cantando. Aí, o meu tio ficava ‘tá errado’, quando eu semitonava, “não, não é por aqui o caminho”. E assim foi até a gente começar a cantar junto, e até o Celino sair do Salgueiro. Ele foi para a Portela em 1995, e eu fiquei no Salgueiro. Em 2001, ele virou o cantor da Tradição. E, eu já estava na Grande Rio, eu não podia mais cantar com ele porque eu já estava pegando toda essa troca que eu tive na Grande Rio. Até hoje, eu ouço o Celino, ele me escuta. Esses dias mesmo ele estava me dando um conselho. E, eu escuto meu tio, e, é família mesmo”.
Você interage o tempo inteiro com o público e segmentos. É fundamental esse movimento de um intérprete de escola de samba?
Emerson Dias: ”Eu acho que é questão de estilo. Não é fácil fazer o que eu faço, é muito espontâneo aquela interatividade. No último ensaio que teve lá no Morro do Salgueiro, do nada eu olhei a caixa de som e subi. Mas, a intenção era para as pessoas me verem, como ali era todo mundo no mesmo plano, eu queria que as pessoas me vissem. Mas, não era para aparecer, é natural. E, cara, foi de um sucesso aquilo, porque as pessoas passavam por mim e falavam, ‘pô, você me representa, você me incentiva a cantar, a estar no ensaio fazendo aquilo ali’. E, eu acho que é isso, é meu, é natural. Assim como cada um tem as suas características. O Wander (Pires) de fazer aqueles cacos cantados tão legais, o Quinho de ter aquelas sacadas, a minha é a interatividade. É fazer o povo cantar, o povo sorrir, vibrar. Eu gosto que a pessoa se acabe.
Você teve a missão de abrir o desfile da Grande Rio quando o Wander Pires chegou atrasado. O que sentiu na hora? E como esse momento foi importante para você?
Emerson Dias: “É inusitado né? São coisas que você nunca imagina que vão acontecer. Naquele momento , a Grande Rio tinha tanta confiança no meu trabalho que não tiveram dúvidas de mandar eu começar a cantar o samba, já que a gente já estava na segunda sirene. Quando Wander chegou, nos áudios que rolam dá para ver que eu não faço nem a virada do samba. Porque foi exatamente a hora que o Wander chegou. Eu passei o microfone para o Wander e foi estressante para mim, estressante para ele. A gente já conversou sobre isso, porque era um momento da Avenida, um momento da escola na Avenida e eu tenho a facilidade de cantar no mesmo tom do intérprete oficial, eu tinha quando eu era apoio. Cantei no mesmo tom, eu dei o grito de guerra do Wander. Foram coisas legais que aconteceram e passou”.
No ano da Ivete na Grande Rio, você e o Thiago Diogo seguraram um show por horas até ela chegar na quadra. Qual foi o segredo para conseguir?
Emerson Dias: “De 2016 para 2017, a Ivete estava em um momento muito especial da carreira dela, e ela virou enredo da Grande Rio, mas aí, a gente fala que a gente aprende e se surpreende com o ser humano. Desde a apresentação na quadra da Ivete no dia 14 de março de 2016, quando a gente apresentou a Ivete na quadra, a gente programou fazer um espetáculo para ela, cantar algumas músicas dela. Eu e a Grande Rio a gente tinha muito isso. O presidente Jayder Soares, o Perácio, o Helinho, o Leandro Suares, me davam toda a infraestrutura para as minhas maluquices. Aí, eu quis botar uma banda, e tive uma sorte danada de ter o Thiago (Diogo) do meu lado. A gente montou um super show da Ivete na quadra, com músicas dela, com banda, tocando samba, mas com banda. Com bateria, sopro, trombone, trompete, saxofone, baixo. A gente tinha a expectativa de 5 mil pessoas na quadra da Grande Rio, em Caxias, de graça, Ivete Sangalo. Rapaz, caiu um temporal que Caxias ficou debaixo d’água (risos). A apresentação da Ivete, teve 100 pessoas, eu acho. Tinha segurança, tinha tudo, e aquele temporal afastou a comunidade da quadra. Mas, quantidade não é qualidade. Eu pedi à secretária do presidente, para pedir que a Ivete falasse ‘Ei, psiu’, que é o meu grito de guerra. Aí, quando a Ivete desceu para a quadra, a gente começou a fazer o set de músicas, a banda começou a tocar, o sopro. Rapaz, a Ivete ficou louca com aquilo, a bateria tocando as músicas dela. Ela desceu cantando, dando soco no ar, estilo Pelé, e xingava de emoção. Parecia que a quadra tinha umas 100 mil pessoas. E nisso, quando a gente parou de cantar, a Ivete pegou o microfone e falou algumas coisas e encerrou dizendo ‘eu só vou falar uma coisa para vocês, Ei, psiu, Ivete é Grande Rio’. E isso viralizou”.
Aliás, o que representou para você cantar o samba da Ivete?
Emerson Dias: “Eu, Ivete, Thiago Diogo e Dudu Azevedo, éramos de uma sintonia, que a gente rodou foi muita coisa. A gente fez show em Micareta, a gente fez show no Vila Mix, a gente fez show no circuito Barra Ondina, a gente fez show no Multishow, foi incrível. E na Avenida. Quando veio aquilo, a Ivete pega o microfone e diz ‘Emerson, eu te amo’, ela faz o alusivo, aquilo ficou muito marcado assim na minha história e são momentos que marcaram minha carreira. Hoje, de carreira de primeiro intérprete, vou fazer nove anos, eu posso dizer que poucos tiveram esse privilégio que eu tive na carreira.
Falando em samba, qual o samba inesquecível que você cantou?
Emerson Dias: “Eu sou muito vibrante com os sambas que eu gravo. Eu trato todos eles com muito carinho. Não tem como eu esquecer ‘o baralho’ (Grande Rio 2015). O estilo do baralho é muito eu. Aquela molecagem, um samba moleque. Ivete, um samba para o Brasil, Maricá (Grande Rio 2014). Eu gosto muito dessa linguagem popular. Simples, o povo vai cantar, o couro vai comer, o bicho vai pegar. O povo gosta de cantar isso. E teve a virada de chave para mim que foi o Xangô (Salgueiro 2019). A minha interpretação do Xangô, a minha abertura. Foi de uma força, de uma energia surreal.
E qual samba que você gostaria de cantar?
Emerson Dias: ”Um samba que eu não gravei, mas que eu queria muito ter cantado na Avenida e ter gravado foi ‘Ô joga água que é de cheiro, confete e serpentina, lança-perfume no cangote da menina’ (Festa Profana, União da Ilha 1989). Eu acho ‘o rei mandou’ fantástico, tem tudo a ver comigo, tem tudo a ver com a energia. Tanto que ele está aí, sobrevive há 30 anos, onde você vai, todo mundo canta. É um samba de uma linguagem, altamente popular, um samba com o cunho, altamente popular, e o povo gosta de cantar. Torço muito para que os compositores e dirigentes, principalmente, voltem a olhar a trilha sonora do carnaval. Nada contra os sambas atuais, porém, acho que a trilha sonora do carnaval se afastou da grande massa. Como você vai cantar em um Maracanã, tantos sambas de cunho religiosos, tantos sambas de cunho político? Está faltando essa sacanagem, ‘pra’ mim, na trilha sonora do carnaval. O samba, hoje, acham que ele tem que ser bonito, erudito. Eu acho que samba tem que ser samba, com essa linguagem popular.
Como surgiu o grito de ‘ei psiu’ e o ‘de todos os amores que eu tenho’?
Emerson Dias: ”O grande desafio do cantor de samba-enredo é o bordão. O grande intérprete de samba-enredo é conhecido pelo seu bordão. Se você achar um bordão que te represente já é meio caminho andado. “De todos os amores que eu tenho” é porque eu sou vascaíno, muito vascaíno, e o Vasco tem uma música ‘De todos os amores que eu tive és o mais antigo …’. E, eu acho esses versos tão bacanas. Eu só mudei o tempo do verbo. Eu tirei do ‘tive’ e botei para o ‘tenho’, que é o presente, né? Porque eu me vejo sendo a voz de cada componente. Aquele cara está falando aquilo ali. O Salgueiro é minha maior paixão, a Grande Rio é a minha maior paixão, é a paixão da pessoa que está ali desfilando. Nessas minhas andanças pelo Brasil, eu sempre fui muito pesquisador. A primeira escola que me deu a oportunidade de ser um dos cantores foi no Rio Grande do Sul, Imperatriz Dona Leopoldina. A grande característica dos cantores do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, são os bordões. Tem o Vini Machado, ‘Se é pra sacudir, sacode pra mim, mas é o corpo’. O Sandro Ferraz, ‘quem tem a unha grande que se agarre na parede’. Como eu fui gravar lá, eu tinha que ter um bordão desse nível. E aí me veio na cabeça, o ‘Eu, psiu’. E pegou. Quando eu virei o cantor da Grande Rio, eu não botei. Até que em 2015, o meu filho, junto com uma molecada que eu sou fã, entre eles, o Lucas Donato que é intérprete da Lins Imperial, que são os autores do ‘Vou na Ginga’, eles ficavam para mim ‘Pô, tio, bota o ei, psiu’. Eu então gravei o ‘Ei, psiu’ na faixa do baralho (Grande Rio 2015) e mais uma vez eles acertaram. Hoje as pessoas me chamam mais de “’Ei, psiu’ do que de Emerson”.
E o adendo no grito falando o ‘me respeita’?
“Quem se lembra da disputa do Salgueiro, do Malandro Batuqueiro, Ópera dos Malandros (2016), tiveram dois sambas em uma final muito polêmica. A polêmica do ‘Dói, dói, dói’ e do ‘Malandro Batuqueiro’. Polarizou muito. Naquele ano, era uma copa do samba, a disputa não era nos padrões tradicionais. Era um duelo. O samba A contra o samba B. Um dos que ficaram na semifinal, era um samba que era pura sacanagem, uma sacada que eu achei muito legal de um grupo de jovens que era o ‘dói, dói, dói ‘. Eles fizeram um samba no estilo do samba da Grande Rio de 2015, colocaram esse estilo malandreado. A semifinal do Salgueiro foi muito pesada, começaram a rolar muitos áudios. Fora do Salgueiro, o ‘dói, dói, dói’ era o campeão. Dentro do Salgueiro eles odiavam este samba. No Salgueiro todo mundo correu para o lado do Malandro Batuqueiro. Os dois foram para a final. O Malandro Batuqueiro fez uma apresentação arrebatadora. E, a gente também fez uma apresentação arrebatadora. Quando eu subi no palco, me veio aquela semana, aqueles áudios todos, e a minha história no Salgueiro. E, eu falei. ‘vamos cantar esse samba para o Antônio Gonzaga, um garoto que é salgueirense, como eu’. Eu também sou salgueirense, me respeita’. E daí nasceu o bordão do ‘me respeita’. Quando eu virei o intérprete do Salgueiro eu achei ‘ih, isso é legal’, porque foi um momento que eu extravasei a minha raiva, a minha emoção, porém como eu me coloco na condição do grito de guerra para o cara que está falando, o cara da escola, eu acho que a pessoa vai gosta de falar ‘eu sou Salgueiro, pô, me respeita’.
Como você consegue conduzir o trabalho como cantor, com seu trabalho fora do carnaval e ainda ter loja de material de construção?
Emerson Dias: ”Graças a Deus eu tenho muita facilidade no meu ofício, digamos assim, oficial. Eu tenho carteira assinada, eu tenho férias, eu tenho décimo terceiro, tenho plano de saúde. E, como a gente não consegue ter isso no carnaval ainda, infelizmente, eu tenho três filhos, eu acho que tenho que dar um suporte para eles. Tentava sempre conciliar o meu lado profissional, com o meu lado artístico. Os dois são profissionais, o carnaval para mim é a minha profissão, mas eu preciso ter uma carteira assinada. Tenho uma facilidade. Eu não bebo, eu não fumo, e nem uso entorpecentes. Eu canto, canto e canto. E, quando dá sete horas da manhã que eu preciso acordar, eu estou cansado, mas não estou com álcool, nem nada disso. Eu consigo acordar e vou para rua trabalhar. Tenho uma parceria muito grande com meus chefes, e com meus companheiros de trabalho, que quando falo para eles ‘galera, tô cansado, vou dar uma descansada’, aí vou lá e dou uma descansadinha. Quando tenho que viajar, eu não tiro férias, aquelas férias tradicionais de 30 dias. Eu vou intercalando meus dias que eu preciso. No carnaval de 2019, eu conheci mais uma pessoa que papai do céu colocou na minha vida, que foi o Léo do Piso, o compositor do samba da Beija-Flor de 2022. O Léo representa uma grande empresa de revestimentos, e eu moro ali perto da Avenida Suburbana, que é um polo, e eu pedi para o Léo, porque o meu filho Gustavo estava precisando de um emprego. Aí o Léo falou para eu abrir uma loja que ele me ajudava. Assim, o Léo me deu todo o subsídio, todo o caminho das pedras para que eu pudesse conseguir abrir uma loja de piso, e a minha família toca lá o barco da loja de piso”.
Você defende sempre que a escola de samba funcione o ano inteiro. O que falta para isso acontecer e o que pode ser feito durante o ano?
Emerson Dias: ”Eu acho que falta um pouco de boa vontade de todo mundo. A pandemia veio aí para mostrar para gente. Como é que a gente ia pedir uma bolsa, um auxílio, que for, para a prefeitura, para o governo estadual ou federal, se eles não sabem nem quem somos nós? Onde que tem o registro que o Emerson Luis, é o Emerson Dias, vinculado ao carnaval e a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro? Onde que tem o banco de dados que isso é registrado? Assim é a costureira, ferreiro, artesão, desenhista, pesquisador. É uma gama de profissões que tem dentro do carnaval que eu acho que muitas pessoas não têm nem noção. Eu não digo nem registro de carteira, mas ter uma visibilidade, saber que o CPF do profissional é vinculado a uma escola de samba. Como que o prefeito vai dar uma verba destinada ao carnaval, se ele não sabe para quem vai distribuir? Então, os órgãos competentes públicos e não públicos, a Liesa e o Grupo de Acesso, têm que cadastrar os profissionais das escolas. Pelo menos eu tenho um banco de dados com as pessoas ligadas ao carnaval. A gente sabe que aquela pessoa trabalha com alguma coisa vinculada a maior manifestação cultural do país”.
O que representa para você cantar no palco do Salgueiro e ao lado do Quinho?
Emerson Dias: ”De 2000 para 2001, eu fiquei meio chateado com a disputa do Salgueiro porque o Salgueiro inteiro queria que o nosso samba ganhasse, e a gente acabou perdendo. E o samba foi para o Augusto, que era o chefe de segurança do Salgueiro. E aquilo me chateou. Eu falei ‘pô, tô aqui há tanto tempo’. E nisso o Quinho mais uma vez interveio na minha vida, o Quinho estava mudando para a Grande Rio. Ele me ligou um dia e falou ‘Ô Emerson, estou indo para a Grande Rio mas eu queria ter um cara meu de confiança, não quer ir comigo não?’. Eu nunca tinha ido na Grande Rio na minha vida. E pensei ‘vou lá, vou ver’. E cheguei na Grande Rio, era semifinal da Grande Rio. Nisso o Quinho já estava com o samba campeão, colocou no meu bolso e disse que semana que vem a gente já ia estar aqui cantando o samba campeão, que era o ‘Era de Aquarius’. Aí eu fui parar na Grande e eu ouso dizer que foi uma das melhores escolhas que eu fiz na minha vida. Lá eu aprendi muita coisa. E a minha história voltou a me misturar com a do Quinho, que lá atrás tinha me dado oportunidade de abrir a porta para mim lá em 1992. Dessa vez, pelo momento, eu ouso dizer, pelo momento que estou vivendo na minha carreira, é hora de eu retribuir ao meu amigo, o que ele fez por mim, com toda a elegância, com toda a galhardia, a gente se respeita muito, cada um tem a sua vaidade, que é normal, natural, mas ela nunca se sobrepôs, nem para mim, nem por ele. A gente sabe o que a gente precisa alcançar, o que a gente precisa fazer pelo outro, e é um grande sucesso. O nosso espírito é muito parecido, eu sou brincalhão como ele. E o Salgueiro gosta disso, está acostumado com isso”.
Qual seu momento de mais alegria no carnaval e o mais triste ou decepcionante?
Emerson Dias: ”O mais triste é a quarta-feira de cinzas, porque a gente sabe que tem que esperar mais 360 dias para ter outro desfile (risos). Eu acho que o ápice sempre é o desfile, a gente se prepara para aquele momento, se prepara com alegorias novas, samba novo, bossas novas, bateria tocando diferente, acho que o mais legal é o desfile e o processo é muito bom, muito prazeroso, vivenciar o carnaval”.
Considera que deu sorte com os mestres de bateria? Você tem Guilherme e Gustavo, já teve Thiago Diogo, Marcão.
Emerson Dias: ”Além de eu ter muita sorte, eu tenho muita parceria com eles. Por que? Para mim, na minha concepção musical, não existe canto sem bateria, assim como não existe bateria sem canto. Eu sempre procurei ter com os mestres que eu trabalhei, uma amizade. A gente tem que constituir uma afinidade. Hoje em dia, com a facilidade das tecnologias sociais, todos eles estão no meu grupo de carro de som. Vou discutir ali o tom do samba tal, o mestre de bateria tem que estar ali. Eu aceito que o mestre dê opinião. Hoje mesmo com o Guilherme e com o Gustavo. Eu tinha uma concepção de uma bossa que eles tinham feito e cheguei para eles ‘gente é assim mesmo, não pode ser assim, assado?’, e eles ‘Não Emerson, vamos adaptar, vamos fazer assim, então…’. E, é isso, eles não vão deixar de ser mestre porque eu dei uma opinião na bateria. Assim como eu não vou deixar de ser o cantor porque eles disseram ‘Pô, Emerson, não faz essa nota assim não, faz essa nota de outro jeito’. Eu vou ceder um pouquinho, eles vão ceder um pouquinho e a gente chega em um denominador comum. E, assim, dei sorte que todos entenderam”.
Existe isso de samba se encaixa melhor com um intérprete específico ou é lenda do carnaval?
Emerson Dias: ”Eu acho que é questão de estilo. Cada um tem seu estilo. Foi o que eu falei em relação ao Xangô. O meu estilo de canto deu uma roupagem para o Xangô, uma roupagem mais leve, mais popular, mais extrovertida, para um samba de uma origem tão forte, que fala de coisas tão fortes. O Wander cantando o samba, o samba vai ter uma característica que é o estilo do cantor. Acho que não é uma questão de se adaptar, é a questão do estilo. Um cara vai levar um samba de um formato, e o outro cara de um outro formato”.
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