A Unidos de Vila Maria fez seu primeiro ensaio técnico, na noite do último sábado, visando o desfile em abril. O treino foi marcado pela forte presença da bateria, que há um bom tempo é a principal “carta na manga” que a escola tem. A evolução também foi um dos destaques da escola. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Edgar Carobina e Lais Moreira, também foram destaques. Porém, dentre todos os quesitos, a harmonia da escola é algo que precisa ser corrigido.
Harmonia
Como foi analisado anteriormente, o quesito necessita ser melhorado. O canto da escola no primeiro setor, foi praticamente nulo. Porém, vale destacar que a partir dos setores seguintes, houve uma melhora. A ala que mais cantou, foi a chamada “ala social” da escola. Por parte desses componentes, houve uma empolgação que se destacou dos demais. As baianas estavam posicionadas depois do casal e vestidas com uma roupa inteiramente branca. Além disso, a escola teve um número relativamente baixo de componentes no ensaio. Cabe ao departamento de harmonia se reunir e corrigir esses detalhes.
O diretor de harmonia, César Calado (Cesinha), fez um balanço geral do treino e projetou os próximos ensaios. “Tivemos um balanço bem positivos, a comunidade mostrou que vem ensaiando bem nos ensaios de sexta e domingo, tanto na nossa quadra, como na rua. Tenho certeza que até o dia do desfile, viremos com um número maior de componentes e focados em mais um quesito que eu vou guardar uma surpresa. Hoje, acreditamos que estávamos com os componentes em tornos de 900 pessoas e esperamos um número muito maior, pelo menos que no segundo ensaio técnico, isso dobre e, pro dia do desfile, queremos chegar com 2200 componentes”, disse.
Mestre-sala e porta-bandeira
O casal Edgar Carobina e Lais Moreira voltaria a desfilar juntos na Unidos de Vila Maria no carnaval de 2021, após a porta-bandeira ter se afastado da escola no carnaval de 2020. Porém, como tudo foi adiado o casal não pôde realizar nenhum ensaio técnico desde que foram anunciados (logo após o carnaval de 2020). Vale ressaltar que a porta-bandeira Lais Moreira sempre trouxe boas notas para a escola, desde que estreou no carnaval de 2016.
Agora, analisando tecnicamente a dupla no ensaio, eles foram muito bem. Novamente, caminha para ser um dos melhores quesitos em que a agremiação pode contar para tirar nota máxima no carnaval. Ambos estavam vestidos com roupas em azul claro e executaram movimentos sincronizados dentro do samba-enredo. O casal simulou a apresentação para todas as cabines de jurados e, também, arrancou aplausos do público presente na arquibancada quando mostravam o pavilhão.
Edgar e Laís mostraram confiança e analisaram o rendimento. “Eu avaliei que foi muito bom. Dentro do possível, uns 85% de rendimento. O que pode melhorar é tudo, pois tudo é possível. Nesta infinita possibilidade do planeta, tudo é possível. Esperar o dia do desfile que ainda vai ter um grande espetáculo. Pelo menos da nossa parte será. Pode aguardar e, também, essa ausência, esse afastamento que teve, estar aqui de novo no Sambódromo é muito especial. Você reencontra amigos, faz o que gosta, ouve a bateria, não tem como não se emocionar, não tem como não ser lindo”, disse a porta-bandeira.
“Vamos arredondar para 80%, a gente quer melhorar esses 20, está faltando ainda e, também, vamos deixar para a avenida uma surpresinha né? Eu avalio que o ponto máximo foi ali na monumental, onde estava nossa torcida organizada. O bicho comeu solto”, completou o mestre-sala.
Samba-enredo
O hino da Vila Maria para 2022 não é tão abaixo como é avaliado em opiniões populares. Ele possui pontos fortes. Sua letra é reflexiva e nos pensar o porque vivemos e como devemos fazer isso. Seja no âmbito religioso, no amor ou na união propriamente dita. É um samba que tem autoria de Dudu Nobre, Diego Nicolau e Zé Paulo Sierra. Foi feito durante a pandemia e, dessa obra, surgiu o enredo da escola. Não é algo comum dentro do carnaval. O “problema” é que a melodia é muito para baixo e faz com que o ritmo caia bastante.
A entrada da escola (em alguns setores), pode até ser forte, mas no decorrer do desfile, a intensidade se perde. Não há o equilíbrio e a sustentação necessária e, como foi dito antes, o primeiro setor precisa estar mais afiado. Por outro lado, há de se destacar o intérprete Wander Pires dentro do samba. É um tremendo reforço quando se trata em potencializar o carro de som. De fato, é repetitivo fazer essa análise, mas é um dos melhores intérpretes que o carnaval tem. O cantor disse estar feliz com o rendimento e falou sobre as correções a serem feitas.
“Foi um rendimento único, maravilhoso, foi além da nossa expectativa. Além do que nós esperávamos. Foi lindo, graças a Deus. Acho que a Vila Maria está no caminho certo. Está chegando a hora da Vila Maria, chegando o momento de levantar esse caneco. São detalhes né. Coisas pequenas. Mas tem tudo para melhorar. Aqui no carro de som é pouca coisa, é o primeiro ensaio. Depois que nós criamos, fizemos as disputas. Tenho certeza que a hora da Vila está chegando e nós vamos buscar esse título”, disse.
Wander Pires também aproveitou para enaltecer a comunidade. “A Vila Maria tem uma garra e tem um chão incrível. A escola é apaixonada, o povo é apaixonado. Quem passa a trabalhar, passa a ser Vila Maria, passa a se apaixonar pela Vila Maria, pelo presidente, pela cadência, pelo Moleza (mestre de bateria), pela harmonia, pelas baianas, velha guarda, a gente se apaixona pelo mestre-sala e porta-bandeira. Acho que o ponto principal desse belo ensaio, do nosso desfile, do nosso campeonato, é a nossa garra, é o nosso amor, é a garra da nossa comunidade. É a cadência do mestre Moleza. Um samba lindo e maravilhoso, samba falando o que a Vila Maria é amor, garra, determinação, astral, e respeito ao povo. Esse é o ponto principal da Vila Maria”, completou.
Bateria
A bateria Cadência da Vila é o melhor quesito da escola há anos. É o setor que mais consegue a pontuação máxima na apuração, desde que o mestre Rodrigo Moleza entrou em 2013. Antes mesmo do regulamento exigir bossas para atingir a nota máxima, a bateria já tinha essa criatividade de sair no mínimo com três paradinhas na avenida. Já fez funk, reggae, pagode e outras coisas mais.
Para este desfile, não será diferente. No mínimo quatro ou cinco bossas estão sendo executadas nos ensaios, podendo ser usadas todas elas ou não. O uso dos “breques” estão dentro dos refrões, da primeira e da segunda parte do samba. A bossa mais marcante é do refrão do meio, onde os repiques fazem um solo. Ao todo, é incrível como em todas as partes do samba, a facilidade de encontrar uma bossa é notória para a Cadência da Vila.
Com certa disparidade, foi o quesito com maior destaque do ensaio técnico. Mestre Moleza analisou o desempenho de sua bateria. “Fazendo uma análise técnica, a bateria conseguiu executar tudo o que ela propôs a executar. Como a gente teve a sorte, ou azar, de ter esse tempo hábil, a gente vai trabalhar até o último minuto para poder melhorar. A gente não fica satisfeito com a nota 10. A gente quer dez vírgula um, vírgula dois, vírgula três. Então a gente vai trabalhar nesses 40 dias, ouvindo todos os áudios, todos os vídeos, e a gente vai fazer uma análise e conseguir novamente as quatro notas 10 que a escola precisa muito pra chegar no lugar mais alto do pódio. O que pode ser melhorado é sempre a execução, a resistência. A gente tem uma proposta bem ousada de arranjos e isso está sendo muito bem executado. Devido a pandemia a gente tem a questão do preparo físico, da resistência dos ritmistas tocando. Até o dia do desfile vamos focar a resistência”, disse.
Evolução
A evolução da escola foi cumprida com sucesso. Dentro do que é proposto no regulamento do carnaval paulistano, a Vila Maria teve um desempenho satisfatório. Mesmo que não haja o canto adequado, não quer dizer que a evolução necessariamente precisa deixar a desejar. As fileiras das alas foram bem formadas e teve coerência dentro delas. A ala que mais se destacou, foi a “Ala Social” da escola. Eles estavam alegres e sambando no pé. Vale ressaltar que mesmo assim, não houve tanta cobrança rígida do departamento de harmonia e evolução em cima dos componentes.
Por fim, a escola teve erros e acertos. Nada gritante, mas que precisam ser corrigidos urgentemente, como a questão do canto em alguns setores, além de chamar a comunidade para os próximos ensaios técnicos, pois desfilar com 900 a 1000 pessoas, está longe do ideal.
Vale destacar a comissão de frente, que dançou muito bem. Dentro da coreografia, teve uma encenação perfeita. Os componentes da ala aparentavam em suas faces, expressões de dor e sofrimento em alguns momentos, talvez simbolizando a realidade do mundo atual. Teve outro integrante também, segurando uma bola com o desenho do planeta Terra. Plasticamente, foi bonito de se ver.
Outro destaque também foi a ala das crianças. Assim como no ensaio do Vai-Vai na sexta-feira, os componentes seguravam placas que pediam a liberação das crianças para desfilar, pois o índice de vacinação é grande. E, também, outra mensagem linda que emociona e arrepia: “As crianças são o futuro do samba”.