Aconteceu durante o intervalo de uma noite de ensaios técnicos no Sambódromo. Um grupo instalado nas frisas do setor 4, reunido à beira de um isopor recheado de latinhas, fazia o tempo passar enquanto a chuva não vinha e as apresentações de domingo não começavam.
Um casal comparava as performances de Portela e Imperatriz, que ensaiaram na véspera. O nível da conversa chamou a atenção. Comecei a prestar atenção nos comentários, quando o rapaz perguntou:
– Você está falando no aspecto conceitual ou estético?
A jovem que o acompanhava respondeu:
– Conceitual mesmo. Percebi que a Imperatriz “sanfonou” algumas vezes, mas os diretores de harmonia consertaram a tempo, deixando-a mais compacta e coesa.
Ele fez nova observação:
– Mas a Portela gabaritou! Um desfile linear, sem oscilações. Harmonia e evolução impecáveis!
– Porém… O samba tem uma estrutura melódica que pode atrapalhar – argumentou a moça.
O público também está ficando “tecnicamente perfeito”.