A Passarela do Samba foi uma coluna semanal que começou a ser publicada nas páginas de O DIA em janeiro de 1994. Durante mais de dez anos foi considerada o “Diário Oficial “ do Samba Carioca – algumas informações foram publicadas ali antes mesmo que os próprios personagens envolvidos soubessem.
Lembro de um episódio sobre a demissão de um cantor de uma agremiação do Grupo Especial. Ele ainda não sabia. Ligou para a redação e me espinafrou, afirmando que eu pretendia detonar a carreira dele. Mais tarde, telefonou novamente, pedindo desculpas. A informação estava correta.
Além de notícias em primeira mão, a Passarela trazia uma coleção de causos acontecidos no mundo do samba. Em pouco tempo passou a ser a seção predileta dos leitores. Muitos telefonavam ou enviavam cartas para contar novos causos. Guardei todos, como preciosidades que são.
Para batizar a seção, pedi ajuda a um inspirado companheiro que sentava na mesa ao lado da minha. Assim como eu, era um apaixonado pelas Escolas de Samba e, de vez em quando, nos encontrávamos em algum ensaio – geralmente na Mangueira, sua Escola de coração. Também trabalhamos juntos na Produção de Carnaval da TV Globo.
Ao ouvir meu pedido, ele parou de escrever, ficou pensando, pensando, olhou na minha direção e sorriu. Estalou os dedos, já com a palavra nos lábios:
– Baticumbum!
E, quase sempre, era o próprio Tim Lopes o primeiro a ler os causos do Baticumbum, antes que fossem para as páginas.
Tim era um cara alegre, brincalhão, gozador. É pensando nele que escolhi um causinho para celebrar o nosso reencontro com a alegria do Carnaval.
Joãosinho Trinta contava que numa das várias turnês da Beija-Flor à Europa no final dos anos 70, o mestre-sala Luís estreou em viagens de avião. Substituía Élson PV, que não pode viajar.
Ao ver a aeromoça servindo campari com gelo, Luís ficou com água na boca. Chamou a jovem, inocentemente:
Garçonete?
A aeromoça virou-se, não muito simpática:
– Falou comigo?
Luís ainda não havia percebido a mancada. E pediu:
– Por gentileza, você poderia me trazer um refresco de groselha? – apontou para o copo de um senhor sentado numa poltrona próxima.
A aeromoça respondeu com um sorriso amarelo. Explicou que não era refresco, mas serviu assim mesmo. Pôs bastante gelo e um canudinho de vidro, para misturar a bebida.
Logo em seguida, o mestre-sala chamou a aeromoça novamente:
Garçonete?
Sim?
Luís foi mais inocente do que nunca:
Traga um canudinho de plástico mesmo. Este aqui tá entupido. Estou chupando e não vem nada.