Após meses fechada por conta da pandemia, a quadra da Beija-Flor de Nilópolis abriu suas portas na noite de quinta-feira, para a primeira rodada de apresentações de sambas-enredo. Atendendo a todos os protocolos sanitários exigidos para evitar o contágio da Covid-19, a agremiação recebeu compositores, alguns ritmistas e peças-chave da escola, como Claudinho e Selminha Sorriso e Raíssa de Oliveira.
Para acessar a disputa fechada ao público, que definirá o hino oficial da escola em 2021, os inscritos precisaram seguir à risca todas as regras, como o distanciamento social e o uso ininterrupto de máscaras. Cada compositor foi alocado em um camarote, evitando assim aglomerações, e na entrada os poucos visitantes foram submetidos a um teste de temperatura, além do oferecimento de álcool em gel para higienização das mãos.
Segundo o diretor de carnaval Dudu Azevedo, a saúde de todos está em primeiro lugar dentro da azul e branco.
“Nós não fizemos um evento. Apenas reunimos os compositores e os espalhamos na quadra, sem aglomeração. Proibimos também as torcidas, para que fosse respeitado o protocolo de segurança. Vamos tirar o melhor som da quadra, com pouquíssimos ritmistas e um bom canto”, ele afirmou.
Quando questionado sobre a reabertura do barracão, o diretor comunicou que não há previsão. “Nossa volta depende de uma decisão da presidência”, disse Dudu, que também revelou estar triste ao ver tantos profissionais e amigos parados, por conta do risco de contágio da Covid-19.
A rainha de bateria Raíssa contou que a escola seguiu com seu trabalho de assistência à comunidade durante a quarentena, assim como outras agremiações, fazendo distribuição de alimentos e dando suporte a todos os seus funcionários. Ela sente falta do calor humano transmitido durante a celebração do carnaval, entretanto entende e concorda com todas as normas.
“Nós perdemos muitos amigos sambistas para a doença e isso nos afetou. Não estamos pensando só no carnaval. Nós nos importamos com as vidas que pisam nesse chão. Precisamos começar aos poucos, mas sempre respeitando as determinações. Eu, Raíssa, sei que a Beija-Flor está preocupada com a situação daqueles que frequentam a quadra. O samba é feito de povo e é claro que gostaríamos de receber nossos amigos, de abraçar todo mundo, de pegar a bandeira e poder beijá-la com amor… Entretanto, neste momento não é possível”, declarou ela.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira ficou feliz com o retorno, mesmo que mínimo e restrito, das atividades da agremiação.
“Eu já me emocionei e chorei. Estou muito agradecida por esse recomeço, apesar de acontecer de uma forma nunca esperada por nós. Essa é uma prova de que estamos vivos e de que somos resistência”, disse Selminha Sorriso.
Para Claudinho, a volta foi maravilhosa porque a cultura do carnaval não pode parar. Ele espera que uma vacina seja distribuída em breve, para que todas as agremiações possam tornar a receber suas comunidades.
“Essa reabertura é importante para que não percamos a pegada para 2021. Hoje, aqui, eu sinto que falta algo mais. A energia do público, do componente… Mas já perdemos muita gente e o protocolo precisa ser cumprido. Estamos cuidando para que consigamos chegar bem e saudáveis no próximo ano”, falou o mestre-sala.
As apresentações foram assistidas por uma banca. Nela, estava presente Almir Reis, o vice-presidente da “Deusa da Passarela”. Ele afirma estar bastante animado com a temática escolhida pela azul e branco e espera que o samba eleito consiga tratar do assunto enormemente necessário com alegria e reverência.
“Esse enredo tem tudo a agregar. Você sabia que o Túnel Rebouças foi arquitetado por pretos? Por André Rebouças e seu irmão? Quase ninguém sabe! Se fosse o Oscar Niemeyer, seria sempre lembrado e comentado. É esse o nosso objetivo, estamos tentando mostrar o valor do povo preto. Queremos que o samba de 2021 passe essa mensagem para o mundo, através de sua musicalidade”, afirmou Almir Reis.
A agremiação planeja fazer cortes até que restem apenas dez concorrentes dos 30 inscritos. Esses últimos serão interpretados pela icônica voz de Neguinho da Beija-Flor e gravados, para que se inicie a reta final da disputa.