Enredo: Fala, Majeté: Sete Chaves de Exu

Quem sou eu… Quem sou eu?

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-Câmbio, Exu! Fala, Majeté!

Exu, princípio de tudo: gira, faísca, espiral, movimento, corpo-redemoinho, Okotô!, desterro, fervura, espanto, espuma, axé da Terceira Cabaça, Igbá Ketá. Que abre, então, os caminhos: L’Onan, Legba, Eleguá, Bará, Elegbara, Mavambo – pé na porta, pedrada, com sete chaves nas mãos, o nó das encruzilhadas, tranca, carranca, Calunga Grande, porteiras, ponteiras, diásporas, às travessias na barca, correntes os olhos e as águas. Salve Aluvaiá, Salve Bombogira! “O que se há de?”– mar de dendê! O que será?

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Exu que se fez caboclo, poeira, na cruza, em brasa, chão de terreiro, fora da casa – o mundo inteiro nos pés de andarilhos peregrinantes. Os chifres, os dentes, os búzios, as garras: batalhas! Ali, tanto sacrifício: argila vermelha na praia. Rasgos, penhascos, altares, o orí, a voz de Palmares: os gritos, os mitos, os guizos, a cabeça de Zumbi, “mortal eterno”, “ente coletivo” ao soldo mais verde encanto (porque Zumbi-Exu está em tudo quanto é canto). Agbá! – espraiou-se o culto, firmeza e toque. Sigamos!

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Exu de proezas tantas, pelejas, orikis, Ifá, adivinhação, histórias fragmentadas nas entrelinhas de odús – o destino do rei de Oió e o trono do Engenho Velho. Odusô, o guardião. Erro que vira acerto, certo que brota errado, do outro lado, enigma, tempero, vuco-vuco, o remédio e o veneno. Tendas, feiras, farofas, recados, as lendas da criação debulhadas nos mercados, o corpo que voa fechado e a visão de cada um: ninguém pode viver sem mim. Preceitos, pressentimentos, trotes, fabulações. Trocas, trocadilhos, línguas desgovernadas. Ciscos, lâminas, lágrimas – Olobé, Elebó, cachimbos, caixotes, cachaça. Truques de linguagem: traquinagens. Osijê, Obá Babá! Oferendas d’Eleru. Pimentas!

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“Salve o Sol, salve a estrela, salve a Lua!” Saravá, Seu Tranca Rua! Exu que são muitos em um: corpo em si desdobrável. Fala, falo e falácia: falanges. Alafia! Centenas de sobrenomes que vem de muitos lugares – Rio que leva as gentes, ruas que tudo dragam. Exu, malandro Pelintra, Padilha, fio de Navalha, ponta de agulha, os cacos da noite, as sombras da Lapa, Marias, ciganos, cigarras, jogo e cartas na mesa, rendas, vidrilhos, rasteiras, meio-fio das quebradas, rabos de galo e de saia, também os rabos de arraia, o cheiro bom da cerveja, destreza, sem falar nas gargalhadas. O primeiro gole é dele! Exu, Veludo encarnado, luz de abajur, sonhos bordados – sentimentalmente, visivelmente.

“Exu Caveira, Capa Preta, Sete Catacumbas estavam por ali; Fui convidado pra uma festa nobre; na casa de Exu Tiriri…”

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Exu, potência e gingado, ponto riscado na carne, palco das festas da gente. Brinca o Carnaval em transe, desafia, des(con)fia, desconcerta, bate a bola no asfalto, pisa no sapatinho, samba despudorado, dança inflado de vida, palhaço, e trança a crina do cavalo. Deus de chinelo rasgado, boca beijada, copo na mão, Seu Sete da Lira, bloco lotado, a máscara, Odara!, o baque, o buraco, o cru, o afoxé, o maracatu, o surdo de terceira, a fuzarca dos velhos cordões, o som que vem das favelas, capaz de transver o mundo. Exu, pedra que pulsa, valsa convulsa, mangue que benze, curva, couro, esquina, jorro, ouro e lata no Bal Masqué: não é um robô sanguíneo, não! É santo – mas nem tanto.

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Exu de tinta e de sangue: é dose, tudo come, tudo sabe, tudo viu. De curto pavio! Lamento de poetinhas – porque tudo é perigoso, divino-maravilhoso. Desnuda as frases no muro, sagrado e profano, mundano, pós-contemporâneo, língua ferina, flauta e cajado, casa de bamba, Basquiat no batuque, as letras amadas, a macumba dos modernistas, o piá-Macunaíma, os perfumes rosianos, na saga do Ser-Tão, “Exu nas escolas”, voz estelar, quebrando tabus e “costumes frágeis” – vocês não aprendem na escola. Vocês copiam! Criemos! Novas pedagogias, para os tempos que virão. Verão! Antropofagias, Enugbarijó. “Através das travessuras de Exu / Apesar da travessia ruim…”

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Exu que não é o diabo do teatro colonial, projeto de corpos mortos (culpas, medos, grilhões, carcaças, escravos disfarçados de libertos) – mas força que une os opostos, jongo de ser e não ser. Exu, to be e Tupi! Fome, cada vez mais fome! Insone. Os nervos são fios elétricos. Evoca os profetas do caos, as vozes do lixo, a desconstrução, o avesso do manto, um sem quanto, a costura dos trapos, as aparições, remendos-retalhos, o eterno retorno, a fortuna, os farrapos, o espanto e a possível, por que não?, recriação: Olímpia, Stela, Jardelina, Arthur Bispo do Rosário, Estamira no lixão de Gramacho, às margens da alegria, cantarolando aos vapores, saudando os cometas e o fogo, ao som milenar das estrelas, Yangi, pedras de laterita, bailando, da pá virada, Molambo, Mulamba, ruínas:

“Todo lugar tem uma rainha, lá no lixo também tem…”

Exu, a sacerdotisa:

-Câmbio, Exu! Fala, Majeté, fala! Os além dos além é um transbordo. Tem o eterno, tem o infinito, tem o além dos além. O além dos além vocês ainda não viram. Se eu sou à beira do mundo! Entendeu agora? Quer me desafiar? Você quer saber? Cada pessoa é um astro! Câmbio, Exu! Fala, Majeté, fala!

Falemos! Dancemos! Bebamos! Vivamos! Destranquemos os olhos! Sigamos por outros caminhos! Cantemos até o fim – que não deixa de ser um começo. Ouçamos os atabaques – atentos, plenos, fortes!

Exu, a ancestralidade. Exu, desenredo proposto. Exu, a aposta mais alta. Exu, o padê arriado. Exu, passada ligeira: Exu, Laroiê, Mojubá!

– Câmbio, Exu!

Fala, Grande Rio!

Transbordado com expressões e falas retiradas do documentário “Estamira”, de Marcos Prado, além de fragmentos de poemas, canções e pontos de macumba. Inspirado nas provocações de Conceição Evaristo, Helena Theodoro, Alberto Mussa, Luiz Antonio Simas (“Exu é uma escola de samba!”) e Luiz Rufino; e nas narrativas orais de Luiza Maria e Dib Haddad. Dedicado aos inúmeros torcedores apaixonados que nos ajudaram a tecer este manifesto, fonte de afeto, convite para o diálogo. Axé! Carnavalescos – Gabriel Haddad e Leonardo Bora Pesquisa, costura e texto – Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal. Colaboração de Thiago Hoshino e Luise Campos.

GLOSSÁRIO

Igbá Ketá, L’Onan, Bará, Elegbara, Okotô, Agbá, Odusô, Olobé, Elebó, Osijê, Obá Babá, Eleru, Alafia, Odara, Enugbarijó, Yangi: segundo Luiz Antonio Simas, são os títulos que representam os maiores atributos de Exu, diluídos no sumo do enredo, guardados a sete chaves.

REFERÊNCIAS

Livros, artigos e sítios da Internet:

AMADO, Jorge. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

ANDERSON, Robert. O Mito de Zumbi. Implicações culturais para o Brasil e para a diáspora africana. Revista Afro-Ásia, n. 17, 1996 – Salvador. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20859

ANDRADE, Mário de. Macunaíma.O herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Garnier, 2004. CARYBÉ, Hector; VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos Orixás. Salvador: Fundação Pierre Verger, 2019.

CUNHA, Maria Clementina Pereira (org.). Carnavais e outras f(r)estas. Campinas: Editora Unicamp, 2005.

FERNANDES, Alexandre de Oliveira. Exu: sagrado e profano. ODEERE, v. 2, n. 3, jul. 2017. Disponível em: http://periodicos2.uesb.br/index.php/odeere/article/view/1573

FUX, Jacques; SANTOS, Darlan. Estamira e Lixo Extraordinário. A arte na terra desolada. Revista Ipotesi – Universidade Federal de Juiz de Fora, 2011. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/14-Estamira-e-Lixo-Extraordin%C3%A1rioIpotesi-1521.pdf

LOPES, Nei. Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009. MENDONÇA, Luciara Leite de; RAMALHO, Christina Bielinski. “Zumbi-Exu”e outras questões identitárias em “A Cabeça de Zumbi”. ODEERE, v. 2, n. 3, jul. 2017. Disponível em:

RIO, João do. As Religiões do Rio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Flecha no Tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Fogo no Mato. A ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.

SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos (Mestre Didi). Contos negros da Bahia. Rio de Janeiro: GRD, 1961.

SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos (Mestre Didi); SANTOS, Juana Elbein dos. ÈSÙ. Salvador: Corrupio, 2014.

SILVA, Cidinha da. Um Exu em Nova York. Rio de Janeiro: Pallas, 2018.

SILVA, Vagner Gonçalves da. Exu. O Guardião da Casa do Futuro. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.

SIMAS, Luiz Antonio. O Corpo Encantado das Ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.

SIMAS, Luiz Antonio. Pedrinhas Miudinhas. Ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.

SODRÉ, Muniz. Santugri. Histórias de mandinga e capoeiragem. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

VENTURA, Leonardo de Souza Lima. Estamira em três miradas. Dissertação de Mestrado em Psicologia – Universidade de Brasília (UNB). Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3955/1/2008_LeonardoSouzaLimaVentura.pdf

VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 2013.

YEMONJÁ, Mãe Beata de. Caroço de dendê. A sabedoria dos terreiros. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.

YEMONJÁ, Mãe Beata de. Histórias que minha avó contava. São Paulo: Terceira Margem, 2004. https://jornalggn.com.br/musica/seu-sete-no-bloco-de-carnaval/ http://reconstruindoexu.blogspot.com/

REGULAMENTO PARA A DISPUTA DE SAMBA

Considerando o momento singular que passa a sociedade, agregado à possibilidade da realização, sob orientação da LIESA, de evento específico objetivando as escolhas dos sambas das escolas do Grupo Especial através de “Lives” o concurso de samba enredo do G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio para o próximo Carnaval será realizado em duas etapas.

A 1º etapa compreenderá o período de lançamento da sinopse, dia 09 de novembro de 2020, até a divulgação de 10 (dez) sambas classificados à segunda etapa, dia 07 de janeiro de 2021.

A 2º etapa está relacionada ao modelo de concurso a ser definido através de deliberação das escolas em plenária da LIESA.

Portanto, como o formato de disputa referente à 2º etapa está condicionado a evento pendente de regulamentação, os itens relacionados à mesma são considerados normas gerais. Tão logo o modelo seja definido, a direção do G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio divulgará a complementação do presente Regulamento.

1º ETAPA

1 – Poderão se inscrever na disputa de samba enredo qualquer compositor. Ainda que esteja inscrito em competição de igual natureza em outra agremiação do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o próximo Carnaval;

2 – O processo de “tira dúvidas” das parcerias com os carnavalescos ocorrerão nos seguintes dias:

· 12, 19 e 26 de novembro no BARRACÃO, das 15:00 às 18:00 horas

· 16, 23 e 30 de novembro na QUADRA, das 19:00 às 21:00 horas

2.1 – Pedidos fora desses dias apenas serão deferidos mediante disponibilidade e com agendamento prévio;

3 – Para efetivação da inscrição será necessário pagar, quando da entrega da obra, em 22 de dezembro de 2020, a taxa de inscrição no valor de R$100,00 (cem reais) por parceria, independentemente do número de compositores existente na mesma. Este não outorga ao compositor o direito de desfilar no próximo Carnaval na Ala dos Compositores. Pra tanto, o mesmo deverá cumprir os requisitos fixados pela presidência da Ala em consonância com a direção da escola;

4 – Cada obra deverá conter no máximo 05 (cinco) compositores, sendo vedada a “Participação Especial”;

5 – O samba deverá ser de composição inédita;

6 – O samba deverá ser inscrito no dia 22 de dezembro de 2020, das 20:00 às 23:00 horas, na quadra do G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio;

7 – O número de cada parceria no concurso corresponderá à respectiva ordem de inscrição;

8 – No ato da inscrição cada parceria deverá fornecer: 50 (cinquenta) cópias da letra do samba no formato A4, 04 (quatro) pen drives com o áudio do samba no formato mp3, todos identificados com o nome dos compositores;

8.1 – A gravação referida no item anterior deverá ser realizada pelo Intérprete Oficial do G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio – Evandro Malandro;

8.2 – Na gravação apenas será permita a participação de demais cantores exercendo a função de coro. Sendo vedada, mesmo nesta qualidade, a utilização de intérprete oficial de escola do Grupo Especial do Rio de Janeiro;

8.3 – A produção e direção da gravação será de responsabilidade da parceria;

8.4 – Caso a parceria realize gravação de clipe, o samba também deverá ser interpretado pelo Evandro Malandro. Ficando mantidas as mesmas exigências do item 8.2 quanto à participação de demais cantores;

8.5 – A marcação das datas de gravação ficará a cargo da parceria e do intérprete Evandro Malandro, sendo respeitada a ordem cronológica de demanda;

9 – As parcerias estão autorizadas a divulgar suas gravações livremente em suas redes sociais;

10 – Não haverá apresentação dos sambas na quadra na 1º etapa;

11 – A divulgação da relação dos 10 (dez) sambas classificados para a 2º etapa será no dia 07 de janeiro de 2021, através das redes sociais da escola;

12 – Fica reservado à direção estabelecer normas e critérios complementares à organização da 1º Etapa.

 

2º ETAPA

13 – Os sambas continuarão com seus números originais de inscrição conferidos na 1º etapa;

14 – A ordem de apresentação dos sambas será definida por sorteio a ser realizado pela Direção e divulgada nas redes sociais oficiais da escola;

15 – Nas apresentações, as parcerias terão a sua disposição até 04 (quatro) microfones e 04 (quatro) canais para cordas ou demais tipos de instrumentos;

16 – Não será permitida a apresentação no palco de pessoas trajando qualquer peça de roupa que caracterize outra agremiação, clubes esportivos, propaganda política ou partidária e marcas comerciais;

17 – As apresentações de palco dos sambas serão de responsabilidade de cada parceria. Competindo às mesmas a disponibilização de cantores e harmonia de cordas. Excetuando o “pedal” no palco que será de responsabilidade da direção;

18 – Não será permitida a apresentação de cantor que seja intérprete oficial de escola do Grupo Especial do Rio de Janeiro;

19 – É vedada a execução de alusivos;

20 – Cada parceria é responsável pelos atos praticados pelos membros de suas torcidas, ainda que em ambiente virtual. Ato impróprio, ofensivo ou desrespeitoso praticado por membro de torcida será a parceria passível de punição imposta pela direção;

21 – Em momento oportuno será detalhado em regulamento complementar a forma de disputa concernente à 2º etapa.

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