O “Duelo dos Desfiles” da Beija-Flor de Nilópolis é pesado. De um lado, o considerado maior desfile da história do carnaval, “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, de 1989, mas do outro lado está o estonteante “Áfricas: Do Berço Real à Corte Brasiliana”, de 2007. Difícil escolher? Você pode ver a opinião dos nossos debatedores e depois deixar seu voto. O resultado será divulgado no sábado.
“Celebrar a África é, acima de tudo, um momento de memória, o resgate da herança que vem reafirmar o nosso compromisso genético”, está na justificativa do enredo de 2007 da Beija-Flor. “Áfricas” venceu o carnaval e consagrou a comissão formada por Alexandre Louzada, Fran Sérgio, Laíla, Shangai e Bira.
Joãosinho Trinta, apontado como o maior carnavalesco da história, fez algo inimaginável na Marquês de Sapucaí. Década de 1980, precisamente o ano de 1989. “Este enredo é um protesto. Vamos tentar, também, mostrar por outro lado, o luxo que servirá de contraste. Será o LIXO DO LUXO”, dizia um trecho da sinopse.
Beija-Flor 1989 (Por Renato Palhano): “Um desfile repleto de polêmicas e êxtase coletivo, “Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”, provocou completamente o conceito estético de um desfile de escola de samba. Levando o lixo e a miséria, misturadas com religiosidade e protesto, a Beija-Flor sucumbiu os críticos naquela madrugada recheada de simbolismo popular. O ousado Joãosinho Trinta, que teve sua maior escultura censurada, o Cristo Mendigo não agradou a cúria e foi vetada pela mesma. Mas o que parecia uma censura pura e simples, se transformou num dos maiores símbolos do carnaval até hoje. Aquela alegoria coberta com plástico preto trazia a frase “mesmo proibido, olhai por nós” fez uma verdadeira revolução no carnaval, fazendo a imagem rodar o mundo e a Beija-Flor trouxe para si o protagonismo daquele carnaval. Enquanto o desfile rolava, os componentes da escola, com sangue nos olhos e cheios de orgulho, iam retirando o plástico preto da escultora e cantando a plenos pulmões o samba da escola, atravessaram a avenida emocionados e levando o público com eles. Até o lendário carnavalesco Fernando Pamplona, na época comentarista, fez um discurso emocionado em defesa da Beija-Flor e de Joãosinho Trinta, entrando para os anais da TV brasileira. A escola ficou com o vice-campeonato, mas o desfile está marcado para sempre na história do carnaval e da escola de Nilópolis”.
Beija-Flor 2007 (Por Alberto João) – “Áfricas” é um desfile totalmente inesquecível. É a Deusa da Passarela em seu estado puro de rolo compressor do carnaval. A “cabeça da escola” espetacular. As girafas e o beija-flor no abre-alas lindos demais, compondo o cenário hegemônico da escola, mostrando a África pujante e com sua realeza cultural, exibindo um desfile diferente de outras apresentações vistas no carnaval. Fantasias com leitura fácil, além de riqueza impressionante no uso dos materiais. Trabalho primoroso de Alexandre Louzada, que chegava na escola após o título de 2006 na Vila Isabel. A comissão de frente sem nenhum trambolho dando visibilidade para o casal de mestre-sala e porta-bandeira e o carro abre-alas. O samba-enredo, um dos melhores da história da Beija-Flor, e com Neguinho da Beija-Flor arrepiando no comando da comunidade. Ah… e a bateria? Inconfundível esse ritmo de Nilópolis”.