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Por Diogo Sampaio. Fotos de Allan Duffes, Isabel Scorza e Magaiver Fernandes

Como seria caso Cristo retornasse hoje em dia? Onde iria nascer? Qual seria sua aparência? Propondo esses questionamentos, a Estação Primeira de Mangueira trouxe para Marquês de Sapucaí o “Jesus da Gente”, um moleque pilintra, do Buraco Quente, que tem rosto negro, sangue indígena e corpo de mulher.

Em uma apresentação tecnicamente perfeita, aliada com uma excelente plástica, a Mangueira se credenciou com uma das grandes favoritas ao título, no seu caso, ao bicampeonato. Terceira agremiação da primeira noite de desfiles do Grupo Especial, a Verde e Rosa encerrou sua passagem pela passarela do samba com 67 minutos.

Comissão de Frente

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Intitulada “Seu Nome é Jesus da Gente”, a comissão de frente assinada pelos coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri trazia uma síntese do enredo, com a encenação das possíveis situações de vulnerabilidade que Jesus Cristo passaria caso nascesse no Brasil dos dias atuais. Os integrantes vestiam figurinos feitos de jeans estilizados, com a presença de alguns acessórios como bonés e bandanas complementando as caracterizações. Eles usavam como elementos de apoio cubos espelhados, com leds em verde e rosa nas arestas, que se transformavam em diversas coisas ao longo da performance.

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Com uma coreografia teatralizada, que mesclava passos de hip hop com street dance, a comissão tinha seu primeiro grande momento quando os componentes formavam a imagem da santa ceia. Seu segundo momento de destaque acontecia quando os cubos eram abertos e formavam um painel, simulando um muro com o nome de Jesus escrito nele. Nesse momento, Cristo junto com seus “discípulos” era enquadrado pela polícia, que o revistava e o agredia.

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Na sequência, já com Cristo ausente, vinha o terceiro momento da comissão, em que os cubos viravam caixas de som e formavam uma espécie de paredão funk durante a passagem do refrão “Favela, Pega a Visão”, com direito a efeitos de fumaça. O momento final acontecia quando atrás do paredão aparecia uma representação do Morro da Mangueira, com Jesus ressurgindo no alto da favela, trazendo agora a imagem do sagrado coração em seu peito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

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Com uma fantasia nomeada de “Margem Poética”, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel, desfilou vestido com as cores verde, o rosa, o dourado e o branco. Enquanto o figurino dele era mais tradicional, o dela ousava ao abrir mão do uso de costeiro e chapéu, além de trazer a parte de cima da roupa em modelo espartilho e “tomara que caia”. Apresentando uma dança de ritmo cadenciado, sincronizada e com gestos graciosos, a dupla não cometeu falhas expressivas nos módulos de julgamento, apesar do vento forte ter atrapalhado Squel durante performance para segunda cabine.

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Harmonia

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Todas as alas entoaram o hino mangueirense do início ao fim, mesmo com as arquibancadas frias durante a apresentação. Até mesmo alas coreografadas, como a 05, “O Joio e o Trigo”, cantaram os samba a plenos pulmões. A interação com o público não é quesito, mas pode influenciar a avaliação do julgador.

Enredo

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Através do enredo “A Verdade Vós Fará Livre”, a Mangueira propôs um questionamento acerca de como seria a volta de Jesus à Terra no contexto da realidade atual, de uma sociedade marcada pelo preconceito e pela intolerância. No decorrer de cinco atos, o desfile retratou o nascimento, a vida adulta, os algozes, o martírio e a ressurreição de Cristo. Com uma plástica refinada e de fácil leitura, a mensagem era transmitida ao público sem dificuldades, não sendo preciso recorrer ao roteiro de desfiles ou a textos de apoio para ter uma clara assimilação do que estava passando pela Avenida.

Evolução

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A Mangueira não apresentou falhas no quesito, mesmo com um ritmo um pouco mais lento no início. As alas se apresentaram bem arrumadas e enfileiradas, mas com componentes soltos e alegres. Também não houve encontro ou embolamento de componentes entre elas.

Samba-Enredo

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A obra composta por Luiz Carlos Máximo e Manu da Cuíca foi conduzida com segurança pelo intérprete Marquinhos Art’Samba, que manteve o rendimento dela mesmo diante dos problemas com o sistema de som da Sapucaí. O entrosamento entre o carros de som e a bateria foram outro ponto alto, assim como o canto forte dos componentes da escola.

Alegorias e Adereços

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Um dos grandes destaques da apresentação mangueirense foi o conjunto alegórico apresentado. Rico em detalhes e com excelentes acabamentos, os carros eram cenográficos, mas carnavalizados. A quarta alegoria, chamada de “O Calvário”, pode ser mencionada como uma das de maior impacto junto ao público ao trazer a figura de um jovem menino crucificado em uma gigantesca cruz.

Fantasias

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Assim como o conjunto alegórico, as fantasias foram outro ponto alto da apresentação. Volumosas, criativas e de boa leitura, podem ser citadas como destaques as roupas da alas 03 (“O Bom Pastor”), 04 (“Milagre da Multiplicação”), 09 (“O poder de Roma” – passistas) e 13 (“A intolerância é uma cruz” – baianas).

Outros Destaques

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Logo na abertura da escola, antes da comissão de frente, um grupo de pessoas representando os mais diversos credos religiosos vinha trazendo uma faixa com os dizeres: “Independente da sua fé, o respeito deve prevalecer”.

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Algumas alas da Mangueira, com viés mais crítico, tiveram grande comunicação com o público, dentre as quais se destacou a número 17, “Maria Madelena Ano 2000, que trazia uma representação atualizada como se fosse uma drag queen.

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Outro ponto foi a sempre aguardada passagem da rainha da “Tem que respeitar meu tamborim”, Evelyn Bastos. Mantida em segredo até a hora do desfile, a fantasia da beldade fazia alusão a Jesus Cristo, com direito até a uma coroa de espinhos na cabeça. Causa estranheza a rainha do samba no pé não ter sambado em nenhum momento. O personagem é legal, mas fez muita falta o ritmo que é próprio da rainha mangueirense.

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