santa cruz desfile 2020 123

Por Eduardo Fróis. Fotos: Allan Duffes e Nelson Malfacini

A Acadêmicos de Santa Cruz pisou forte na avenida para falar da cidade de Barbalha, no Ceará. A escola pareceu não se importar com a chuva para fazer um desfile correto e empolgante. Porém, alguns erros de evolução, harmonia e acabamento nas alegorias podem comprometer a nota máxima da escola nesses quesitos. A verde e branco da Zona Oeste foi a quarta agremiação a desfilar nesta noite de sábado, com o enredo “Santa Cruz de Barbalha, um conto popular no Cariri cearense”. Os destaques do desfile ficaram por conta da comissão de frente, que levantou as arquibancadas com sua coreografia simples e funcional.

Buscando superar a quinta colocação do carnaval de 2019, a Santa Cruz desfilou alegre e colorida para cantar as histórias da cidade do sul do Ceará, com 60 mil habitantes. O início da apresentação levou as cores da escola, que trouxe um grande canavial entre a comissão de frente, a primeira ala “Engenhos da Rapadura” e o carro abre-alas. Em seguida vieram os setores do ‘Pau da Bandeira’, que é um festejo típico da cidade da Barbalha, ‘Contos Populares do Cariri’ e, por último, a Acadêmicos convida o público a conhecer a cidade homenageada no enredo.

Comissão de Frente

santa cruz desfile 2020 012

A escola da Zona Oeste abriu seu desfile com a dança do canavial, apresentando uma fantasia inspirada nos trabalhadores cortadores de cana-de-açúcar, a base da economia da cidade de Barbalha. Os bailarinos carregavam um adereço de mão simulando um pé de cana-de-açúcar, que conforme era movimentado transmitia uma impressão do vento soprando no canavial. A coreografia foi feita por Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas. A fantasia era verde, com detalhes em marrom, palha e dourado. Com bastante brilho, a roupa dos componentes da comissão era simples e muito funcional, esbanjando leveza e alegria na o início da escola.

santa cruz desfile 2020 011

Em frente aos módulos dos jurados um dos 15 integrantes da comissão de frente arremessava o chapéu de “bóia-fria” para realizar uma acrobacia saltando sobre os outros componentes. Os pés de cana-de-açúcar ajudavam a esconder a transformação do bóia-fria em padre, que apresentou a escola aos jurados. O adereço de cana era deixado no chão para que os outros 14 integrantes fizessem uma outra dança com uma espécie de espátula. Depois, o padre voltava a ser mais um cortador de cana para que a comissão desse seguimento ao desfile.

Alegorias

santa cruz desfile 2020 112

O abre-alas nas cores da escola trazia um grande boi puxando a coroa da escola, acoplado a um engenho de cana-de-açúcar, com engrenagens na parte de atrás. No meio da segunda parte da alegoria, mais pessoas estavam vestidas de cana-de-açúcar. Nas laterais do carro, alguns destaques arremessavam rapadura ao público. No segundo carro, extremamente colorido, havia uma homenagem a festa de Santo Antônio, a padroeira da cidade, a quem os habitantes de Barbalha pedem proteção na época de colheitas. O terceiro carro trazia uma escultura representando a fundadora da cidade, Dona Barbalha, que possuía algumas falhas no acabamento. A alegoria tinha predominância do marrom, detalhes em verde, com cactos e xilogravuras nas laterias, e ainda levava o símbolo da escola, a coroa. Por fim, um tripé de Santo Antônio encerrava o desfile da Santa Cruz.

Fantasia

santa cruz desfile 2020 128

As alas da Santa Cruz passaram com fantasias simples, mas com muito brilho, de excelente acabamento e fácil leitura. O carnavalesco Cahê Rodrigues caprichou na paleta de cores e nos detalhes dos figurinos da escola, mostrando criatividade e bom gosto para falar da cidade cearense de Barbalha. No entanto, no último setor da escola, as fantasias da ala 16 – ‘Médicos do Cariri’, da ala 17 – ‘Farmacêutico do Cariri’ e da ala 21 – ‘Turistando Barbalha’ pareciam pouco carnavalizadas, prejudicando um pouco o nível do conjunto visual geral da escola.

Enredo

santa cruz desfile 2020 103

Falando de uma cidade cearense, a Santa Cruz conseguiu encontrar boas alternativas para desenvolver o seu enredo: Santa Cruz de Batalha, um conto popular no Cariri. A escola começou falando das plantações de cana-de-açúcar, passou pela história da cidade, falando das lendas, festas típicas e encerrou seu desfile com o povo barbalhense. Seguiu mostrando a cultura da cidade de Batalha, encerrando o desfile convidando as pessoas a visitarem o Cariri, no sul do Ceará. Tanto a comissão de frente, quanto as alegorias e a maioria das fantasias tinham leitura fácil do enredo, claramente inspiradas na estética nordestina.

Evolução

santa cruz desfile 2020 085

Com um início forte, a Santa Cruz evoluiu bem pela Marquês de Sapucaí. As alas estavam compactas, sem espaçamento entre um ala e outra. Isso até dificultou o bailado do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, que ficou com pouco espaço para apresentarem sua dança. No primeiro módulo de julgamento, a frente do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formou-se um clarão, que foi corrigido depois. No mais, os componentes da Acadêmicos evoluíram com alegria e empolgação, dançando e aproveitando os espaços da pista.

Harmonia

santa cruz desfile 2020 076

Sob chuva do início ao fim da sua apresentação, a escola cantou forte o samba sobre a cidade de Barbalha, principalmente o refrão “Lava a minha alma e cura a minha dor/ No peito a Santa Cruz do amor”. No terceiro módulo de julgamento, a ala 2 – Índio Cariris passou com algumas pessoas sem cantar o samba-enredo. O mesmo ocorreu com a ala 17 – Farmacêutico do Cariri, que inclusive tinha pessoas conversando no meio do desfile. Em compensação, a ala das crianças, de número 14 – Reisado do Congo, cantou com muita empolgação o samba-enredo da escola.

Samba-Enredo

santa cruz desfile 2020 067

O hino de 2020 da Acadêmicos do Santa Cruz foi bem cantado pelos componentes de escola, especialmente nos dois refrões. Com a composição de Samir Trindade, Junior Fionda, Elson Ramires e Rildo Seixas, o samba sobre a cidade de Barbalha empolgou o público na avenida Marquês de Sapucaí. Embora tenha uma letra extensa, a melodia é fácil e convidativa. Como choveu durante toda a apresentação da verde e branca da Zona Oeste, o trecho do refrão “Lava a minha alma e cura minha dor” combinou perfeitamente com o clima do desfile. A bateria apresentou diversas bossas em cima da melodia, incluindo uma paradinha envolvente em ritmo de reggae. Sem dúvidas, o samba-enredo, junto com a bateria de mestre Riquinho, foram um dos destaques do desfile da Santa Cruz.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

santa cruz desfile 2020 052

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Muskito e Roberta Freitas, veio representando a Apoteose Nordestina. A fantasia estava bem trabalhada na riqueza de detalhes e cores, remetendo a multiculturalidade dos festejos nordestinos. A saia de Roberta era dourada, com detalhes de xilogravuras e borda de palha. O bailado do casal no terceiro módulo foi seguro, apresentando o pavilhão da Acadêmicos de Santa Cruz na avenida. Porém, o curto espaço entre a ala e a bateria, onde passou o primeiro casal, pareceu limitar a evolução dos dois. Muskito esbanjou graciosidade ao cortejar Roberta, encostando suavemente sua cabeça nas mãos de Roberta, que transmitiu leveza no girar do bandeira. A chuva pareceu não afetar o bailado do casal. Juntos, eles ainda realizaram alguns passos de danças nordestinas, mostrando interação com enredo da escola.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui