Por Eduardo Fróis. Fotos: Allan Duffes e Nelson Malfacini
A Acadêmicos de Santa Cruz pisou forte na avenida para falar da cidade de Barbalha, no Ceará. A escola pareceu não se importar com a chuva para fazer um desfile correto e empolgante. Porém, alguns erros de evolução, harmonia e acabamento nas alegorias podem comprometer a nota máxima da escola nesses quesitos. A verde e branco da Zona Oeste foi a quarta agremiação a desfilar nesta noite de sábado, com o enredo “Santa Cruz de Barbalha, um conto popular no Cariri cearense”. Os destaques do desfile ficaram por conta da comissão de frente, que levantou as arquibancadas com sua coreografia simples e funcional.
Buscando superar a quinta colocação do carnaval de 2019, a Santa Cruz desfilou alegre e colorida para cantar as histórias da cidade do sul do Ceará, com 60 mil habitantes. O início da apresentação levou as cores da escola, que trouxe um grande canavial entre a comissão de frente, a primeira ala “Engenhos da Rapadura” e o carro abre-alas. Em seguida vieram os setores do ‘Pau da Bandeira’, que é um festejo típico da cidade da Barbalha, ‘Contos Populares do Cariri’ e, por último, a Acadêmicos convida o público a conhecer a cidade homenageada no enredo.
Comissão de Frente
A escola da Zona Oeste abriu seu desfile com a dança do canavial, apresentando uma fantasia inspirada nos trabalhadores cortadores de cana-de-açúcar, a base da economia da cidade de Barbalha. Os bailarinos carregavam um adereço de mão simulando um pé de cana-de-açúcar, que conforme era movimentado transmitia uma impressão do vento soprando no canavial. A coreografia foi feita por Marcelo Chocolate e Marcelo Moragas. A fantasia era verde, com detalhes em marrom, palha e dourado. Com bastante brilho, a roupa dos componentes da comissão era simples e muito funcional, esbanjando leveza e alegria na o início da escola.
Em frente aos módulos dos jurados um dos 15 integrantes da comissão de frente arremessava o chapéu de “bóia-fria” para realizar uma acrobacia saltando sobre os outros componentes. Os pés de cana-de-açúcar ajudavam a esconder a transformação do bóia-fria em padre, que apresentou a escola aos jurados. O adereço de cana era deixado no chão para que os outros 14 integrantes fizessem uma outra dança com uma espécie de espátula. Depois, o padre voltava a ser mais um cortador de cana para que a comissão desse seguimento ao desfile.
Alegorias
O abre-alas nas cores da escola trazia um grande boi puxando a coroa da escola, acoplado a um engenho de cana-de-açúcar, com engrenagens na parte de atrás. No meio da segunda parte da alegoria, mais pessoas estavam vestidas de cana-de-açúcar. Nas laterais do carro, alguns destaques arremessavam rapadura ao público. No segundo carro, extremamente colorido, havia uma homenagem a festa de Santo Antônio, a padroeira da cidade, a quem os habitantes de Barbalha pedem proteção na época de colheitas. O terceiro carro trazia uma escultura representando a fundadora da cidade, Dona Barbalha, que possuía algumas falhas no acabamento. A alegoria tinha predominância do marrom, detalhes em verde, com cactos e xilogravuras nas laterias, e ainda levava o símbolo da escola, a coroa. Por fim, um tripé de Santo Antônio encerrava o desfile da Santa Cruz.
Fantasia
As alas da Santa Cruz passaram com fantasias simples, mas com muito brilho, de excelente acabamento e fácil leitura. O carnavalesco Cahê Rodrigues caprichou na paleta de cores e nos detalhes dos figurinos da escola, mostrando criatividade e bom gosto para falar da cidade cearense de Barbalha. No entanto, no último setor da escola, as fantasias da ala 16 – ‘Médicos do Cariri’, da ala 17 – ‘Farmacêutico do Cariri’ e da ala 21 – ‘Turistando Barbalha’ pareciam pouco carnavalizadas, prejudicando um pouco o nível do conjunto visual geral da escola.
Enredo
Falando de uma cidade cearense, a Santa Cruz conseguiu encontrar boas alternativas para desenvolver o seu enredo: Santa Cruz de Batalha, um conto popular no Cariri. A escola começou falando das plantações de cana-de-açúcar, passou pela história da cidade, falando das lendas, festas típicas e encerrou seu desfile com o povo barbalhense. Seguiu mostrando a cultura da cidade de Batalha, encerrando o desfile convidando as pessoas a visitarem o Cariri, no sul do Ceará. Tanto a comissão de frente, quanto as alegorias e a maioria das fantasias tinham leitura fácil do enredo, claramente inspiradas na estética nordestina.
Evolução
Com um início forte, a Santa Cruz evoluiu bem pela Marquês de Sapucaí. As alas estavam compactas, sem espaçamento entre um ala e outra. Isso até dificultou o bailado do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, que ficou com pouco espaço para apresentarem sua dança. No primeiro módulo de julgamento, a frente do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formou-se um clarão, que foi corrigido depois. No mais, os componentes da Acadêmicos evoluíram com alegria e empolgação, dançando e aproveitando os espaços da pista.
Harmonia
Sob chuva do início ao fim da sua apresentação, a escola cantou forte o samba sobre a cidade de Barbalha, principalmente o refrão “Lava a minha alma e cura a minha dor/ No peito a Santa Cruz do amor”. No terceiro módulo de julgamento, a ala 2 – Índio Cariris passou com algumas pessoas sem cantar o samba-enredo. O mesmo ocorreu com a ala 17 – Farmacêutico do Cariri, que inclusive tinha pessoas conversando no meio do desfile. Em compensação, a ala das crianças, de número 14 – Reisado do Congo, cantou com muita empolgação o samba-enredo da escola.
Samba-Enredo
O hino de 2020 da Acadêmicos do Santa Cruz foi bem cantado pelos componentes de escola, especialmente nos dois refrões. Com a composição de Samir Trindade, Junior Fionda, Elson Ramires e Rildo Seixas, o samba sobre a cidade de Barbalha empolgou o público na avenida Marquês de Sapucaí. Embora tenha uma letra extensa, a melodia é fácil e convidativa. Como choveu durante toda a apresentação da verde e branca da Zona Oeste, o trecho do refrão “Lava a minha alma e cura minha dor” combinou perfeitamente com o clima do desfile. A bateria apresentou diversas bossas em cima da melodia, incluindo uma paradinha envolvente em ritmo de reggae. Sem dúvidas, o samba-enredo, junto com a bateria de mestre Riquinho, foram um dos destaques do desfile da Santa Cruz.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Muskito e Roberta Freitas, veio representando a Apoteose Nordestina. A fantasia estava bem trabalhada na riqueza de detalhes e cores, remetendo a multiculturalidade dos festejos nordestinos. A saia de Roberta era dourada, com detalhes de xilogravuras e borda de palha. O bailado do casal no terceiro módulo foi seguro, apresentando o pavilhão da Acadêmicos de Santa Cruz na avenida. Porém, o curto espaço entre a ala e a bateria, onde passou o primeiro casal, pareceu limitar a evolução dos dois. Muskito esbanjou graciosidade ao cortejar Roberta, encostando suavemente sua cabeça nas mãos de Roberta, que transmitiu leveza no girar do bandeira. A chuva pareceu não afetar o bailado do casal. Juntos, eles ainda realizaram alguns passos de danças nordestinas, mostrando interação com enredo da escola.