Quando Jorge Perlingeiro lê as notas na apuração da quarta-feira de cinzas um quesito causa calafrios nos sambistas. Evolução. Há registros históricos de desfiles que beiraram a perfeição mas que deixaram o título escapar neste traiçoeiro quesito. Chegou a hora de falar da evolução na série de reportagens ‘De olho nos quesitos’ que o site CARNAVALESCO preparou.
O jurado de evolução precisa observar os seguintes parâmetros para aplicar a sua nota: fluência no andamento da escola (não pode haver correria nem lentidão em excesso durante a passagem da escola), coesão entre as alas (elas não podem estar espaçadas, nem emboladas umas nas outras), conjunto harmônico (não podem haver buracos quando a agremiação estiver passando pela pista) e espontaneidade (os componentes precisam demonstram empolgação).
Buraco. Este é o terror de um desfile de escola de samba. É por isso que é fundamental o entrosamento total entre toda a equipe de diretores que tem a incumbência de fazer a escola evoluir. Os buracos acontecem quando parte da escola avança e outra fica parada, geralmente devido a dificuldades de locomoção das alegorias. Nessa hora é preciso estar atento para esses espaços não surgirem. Salete Lisboa anotou quando isso ocorreu no desfile da Viradouro de 2015.
“Aos 43 minutos de desfile, ao passar pelo módulo 4, a Viradouro formou um buraco entre o tripé 1 e a ala 1…”, especificou a experiente jurada.
Ao avaliar a espontaneidade de um desfile de escola de samba o jurado observa se os componentes estão cantando, dançando e brincando pela passagem na avenida. Afinal de contas é carnaval. Alas que passam andando, componentes que possuem dificuldades de evoluir devido ao tamanho de fantasias e integrantes sem empolgação estão na mira dos jurados do quesito. Em 2018, a jurada Paola Novaes fez exatamente essa observação ao punir o Império Serrano.
“A agremiação chegou em frente ao módulo aos 18 minutos vibrante. No entanto, aos 24 minutos, na ala 02 faltou animação. Muitos componentes só passaram. A ala 15 aos 37 minutos também poderia ter evoluído mais”, alertou Paola.
O andamento do desfile como um todo também precisa ser contemplado no julgamento do quesito evolução. As escolas de samba realizam paradas técnicas para as apresentações de seus casais de mestre-sala e porta-bandeira e suas comissões de frente. Até o desfile de 2019 eram quatro paradas, em 2020 serão três. Fora essas paradas a agremiação tem de ter fluidez no andamento. Paradas excessivas ou aceleração exagerada para não estourar o tempo são passíveis de punição dos jurados. Um exemplo foi o desfile da Estácio de Sá em 2016.
“O desfile apresentou-se irregular, com sua fluência comprometida. Entre a ala 01 e alegoria 01 abriu-se um espaço que com o avanço da alegoria, aumentava ou diminuía. Também se observaram espaços irregulares nas las 11, 12, 14 e 24, com pequenos claros em alguns pontos e componentes compactados em outros. As várias pequenas paradas intercaladas por momentos de livre aceleração ocorridas após a alegoria 6, persistiam até o final do desfile, prejudicando a progressão da dança”, descontou a jurada Marisa Maline.
Aspectos mais citados nas justificativas de evolução desde 2015:
– buracos;
– alas emboladas;
– fluidez irregular do desfile;
– falta de empolgação.