InícioGrupo EspecialSamba Didático: Portela em busca do seu Guajupiá canta os índios Tupinambás

Samba Didático: Portela em busca do seu Guajupiá canta os índios Tupinambás

Por Victor Amancio

“O rio é o caminho, é sagrado, tem peixe, tem marisco. As aves voam livres, colorindo o céu. Temos tudo ao alcance das mãos, água de beber, de lavar e de se banhar. Vivemos a vida em profunda gratidão.” Com o enredo “Guajupiá: Terra sem Males” o carnaval da Portela em 2020 vai levar para avenida os índios tupinambás que habitavam o Rio de Janeiro antes da chegada dos colonizadores.

O enredo abordará o Guajupiá uma espécie de paraíso ideal que os índios buscavam viver. Com um grito de resistência num momento em que os primeiros habitantes do país estão em constante ataque a escola promete emocionar a Sapucaí com o samba dos compositores Valtinho Botafogo, Rogério Lobo, José Carlos, Zé Miranda, Beto Aquino, Pecê Ribeiro, D´Sousa e Araguaci. O casal de carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage vão levar a cultura e os ritos dos primeiros habitantes das terras cariocas para o desfile.

O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático” entrevistou a carnavalesca Márcia Lage e o compositor Valtinho Botafogo para saber mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Portela para o carnaval de 2020.

‘Já não existe a ira de Monã’

“O enredo retrata o Guajupiá, uma “terra sem males”, que existiu há mais de 2.000 anos, formosa, rodeada pelo mar que a embelezava. Terra onde os homens tinham compreendido o castigos enviados por Monã e passaram a viver de acordo com os ensinamentos do grande Karaíba Mairamuana, o filho profeta de Irin-Magé.”, explica Márcia.

‘Irim Magé já pode ser feliz’

“A lenda de um dilúvio que criava o mundo e moldava a terra pela ingratidão dos homens caiu com perfeição em um Rio de Janeiro onde chuvas torrenciais anualmente causavam enchentes e colocavam à prova a resistência dos nativos. Irin-Magê cumpriu sua missão de povoador de homens que compreenderam a lição de Monã”, diz Márcia.

‘Mairamuãna tem a chave do futuro
Pra nossa tribo lutar e cantar’

“Entre os muitos filhos de Irin-Magé nasceu um em especial, que se tornaria o grande karaíba, o profeta transformador chamado Mairamuãna e considerado um “familiar” de Monã, para quem este havia ensinado a arte de tudo transformar. Seus poderes eram compatíveis ao de um deus. Esse profeta instaurou as práticas sagradas, determinou as regras da organização social das tribos e a forma de “distribuir” o governo entre eles, além de impor severas penalidades para aqueles que não cumprissem as regras sociais”, conta Márcia.

‘Auê, auê a voz da mata, okê okê arô
Se Guanabara é resistência
O índio é arco, é flecha, é essência’

O compositor Valtinho explica que esse trecho faz referência a um brado indígena que ecoa na mata. Ele diz que Oxóssi, orixá caçador, guerreiro, padroeiro da nossa cidade e da bateria da Portela, se junta a esse canto sendo a voz das matas bradando pelo seu Guajupiá, por uma terra sem males.

‘Ao proteger Karioka
Reúno a maloca na beira da rede
Cauim pra festejar… purificar
Borduna, tacape e ajaré’

Márcia Lage explica que todo e qualquer evento entre os Tupinambás tinham um cunho ritualístico e proteger a aldeia Karioka, proteger um nascido Karioka requeria muito cuidado, e esse ser era recebido com muita festa e muitos festejos regados a Cauim.

‘Nossa aldeia é sem partido ou facção
Não tem bispo, nem se curva a capitão’

“Entre os nativos não havia um governo constituído e não havia privilégios. Cada cabana tinha seu líder. Ele era o chefe. Todos os chefes eram da mesma origem e tinham os mesmos direitos de dar ordens e governar.”, segundo Márcia. O compositor Valtinho Botafogo afirma que o trecho é um sinal de alerta,  pois o índio já sofreu muito com a colonização escrava e genocida, que conduzidas por “capitães” aterrorizaram, escravizaram e eliminaram grande parte dos índios que aqui viviam.

‘Índio é tupinambá’

O termo “tupinambá” era como um nome geral que se modificava logo que havia o fracionamento de grupos numerosos. Tupinambá quer dizer “a gente atinente ao chefe dos pais”, os “pais principais”, ou melhor, os descendentes dos fundadores da nação.

‘Hoje meu Guajupiá é Madureira’

A carnavalesca diz que a busca por um ideal de fartura e felicidade dava-se também no presente, na obtenção de um “paraíso terreal”, para viver em abundância entre os seus. Não diferente disso a nação portelense faz da Portela seu Guajupiá, paraíso que alimenta a alma de cada componente com alegria, prazer e felicidade constantes. “O portelense é apaixonado por sua escola, por seu lugar e faz de Madureira um Guajupiá, sua terra sem males. Lá, nasceram e vivem até hoje seus ancestrais. O  índio em sua generosidade e grandeza, apesar de dono do chão sagrado, se torna mais um filho da águia, um filho apaixonado da Portela, que é  o Guajupiá do samba e traz o índio como protagonista de uma história de sabedoria, lições, aprendizados, amor, paz e pureza”, encerra Valtinho.

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