Por Alberto João, Geissa Evaristo, Daniela Safadi e Philipe Rabelo
O Salgueiro armou o circo e chamou o povo que lotou a quadra na madrugada de sábado
para consagrar, mais uma vez, a parceria de Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga do
Salgueiro, Getúlio Coelho, Ricardo Neves e Francisco Aquino. Não foi o sacode esperado
que os autores aplicam tradicionalmente nas finais salgueirenses, mas o samba teve um
bom desempenho em uma disputa muito igual e no fim saiu vencedora do concurso para o
Carnaval 2020. Foi a oitava vitória de Marcelo Motta na Academia. Com o resultado, ele se torna o segundo maior compositor do Salgueiro, perdendo apenas para Bala que tem 11 conquistas.
Sem a presença de Tinga, a parceria trouxe Marquinho Art Samba para cantar ao lado de Diego Nicolau. Marcelo Motta e seus companheiros possuem o dom de compor samba que encaixa perfeitamente com o jeito salgueirense.
“Nosso samba traz em sua totalidade a energia e a emoção com a qual nossa comunidade se identifica e que se tornou tradição através dos carnavais. Exalta este grande personagem como vencedor que foi, trazendo em sua letra a integralidade do enredo, sendo extremamente forte e pulsante em sua melodia sem cair no “oba oba”. Retrata sua luta, que é vitoriosa, de uma forma poética, verdadeira e original com a alegria própria de Benjamin de Oliveira, que como brilhante artista da alegria, nunca se curvou à melancolia. Realizei o maior sonho da minha vida que era ser campeão pela oitava vez. A nossa parceria falava o idioma do nosso país. É uma emoção única. É uma emoção que só quem é salgueirense entende. Minha parte favorita é fazer feliz”, disse Marcelo Motta, que se tornou o segundo maior vencedor da história do Salgueiro, com oito conquistas (2007, 2008, 2012, 2013, 2016, 2017, 2019, 2020), ficando atrás apenas do compositor Bala, que possui 11 vitórias na Academia.
Para o compositor Fred Camacho, a obra ganhou a voz da comunidade.
“É a quarta vez que sinto essa sensação de passar por uma disputa. Nenhuma foi fácil. Se fosse não seria disputa. Tinham grandes sambas, a gente conseguiu fazer uma melodia diferente. Com uma letra com pertinência total com o enredo. Ela descreve o Benjamin de Oliveira, que foi um cara super inspirador. É emocionante ver a quadra cantando meu samba porque a voz do povo é a voz de Deus. A gente faz um samba bonito e a quadra canta forte consagra ele. Isso aconteceu na semana passada e hoje aqui, só tenho a agradecer. Gratidão aos meus amigos e ancestralidades do Salgueiro”, contou compositor Fred Camacho.
“É uma emoção muito grande, me lembra o ano em que nós ganhamos o Malandro Batuqueiro. Aqui é minha escola, eu nasci nessa rua, isso aqui é meu quintal, eu brincava no parquinho aqui atrás e eu tô muito emocionado. Eu vou falar que foi uma luta, todo ano é uma luta, foram 31 sambas, parcerias fortíssimas, mas nós conseguimos ganhar. O que eu mais gosto é do trecho “aqui o negro não sai de cartaz”, revelou o compositor Guinga do Salgueiro.
“Sou tetracampeão na minha escola. Somos amantes do Salgueiro. Fazemos o samba com amor e o resultado é esse. A parte favorita é o refrão principal. Sem dúvida, levaremos muita alegria pra Sapucaí”, prometeu o compositor Ricardo Neves.
Presidente enaltece união, mas está consciente que a escola possui dívidas
O presidente André Vaz montou um espetáculo para receber o público. Ao chegar na Silva
Teles, os salgueirenses eram recebidos com imagens de ícones da agremiação na fachada
da quadra, fazendo alusão ao circo, tema do enredo que fala de Benjamin de Oliveira, o
primeiro palhaço negro do Brasil.
“Hoje é um dia especial pra escola. Ganhou o samba mais votado pelos nossos segmentos. E que eles continuem acreditando nessa administração, que com certeza, com a união
de todos a escola só tente a vencer”, apontou o mandatário da Vermelha e Branca do
Andaraí, que completou.
“Queria agradecer os 31 sambas inscritos, parabéns aos três finalistas. O Salgueiro
está vivendo um momento diferente, a escola está unida em prol do Carnaval 2020.
Brindamos o público com show do Pique Novo, uma fachada nova, e a quadra estruturada
para receber o público com respeito e carinho”, citou André Vaz.
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Vaz contou que ainda tem dívidas herdadas da
gestão anterior, mas garantiu que aos poucos está conseguindo reestruturar a agremiação.
“Aos poucos a gente está negociando as dívidas, tem um grande banco que a gente
está negociando agora o passivo… Aos poucos a gente vai colocando a casa em
ordem. O importante é que nossa diretoria tem crédito na rua. Aos poucos a gente vai
colocar a escola no patamar dela, fazendo shows e eventos sobrevivendo por ela mesmo
da renda de ingressos de show e eventos na casa”, comentou o presidente.
Toda emoção do carnavalesco Alex de Souza
Responsável por mais um ano do desfile salgueirense, o carnavalesco Alex de Souza
falou sobre o enredo de 2020.
“Benjamim representa principalmente a emoção. A história de vida dele é fantástica e se eu tivesse uma palavra para dar o sinônimo de Benjamim essa palavra seria superação. Um sujeito que passou por tudo, teve muitas dificuldades na vida, mas se tornou a estrela da companhia e essa estrela dele que irá se somar as outras nove do Salgueiro em busca desse campeonato”, profetizou.
Para o diretor de carnaval do Salgueiro, a escola não terá um tom pesado no desfile de 2020.
“Não teremos nada crítico na Avenida. Nada contra quem faça, mas o Salgueiro nunca foi disso. Iremos pra Avenida pra fazer um carnaval alegre, bonito sobre Benjamim de Oliveira, um grande percussor da cultura no nosso país”, disse Alexandre Couto, que a partir do quinto ensaio pretende levar os componentes para a Maxwell.
Show especial une samba e diversão
A escola preparou para um espetáculo especial para sua final de samba. Criado pela porta-bandeira Marcella Alves e pelo cantor Emerson Dias, a turma salgueirense esbanjou muita alegria e criatividade. Destaque para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e
a criadora do espetáculo participaram da encenação fantasiados de mágico e bailarina.
Coube a rainha das rainhas, Viviane Araújo, a apresentação a bateria Furiosa e abrir o
esquenta dos ritmistas. Com uma roupa de palhacinha, a rainha tocou tamborim, sambou
e distribuiu beijos e sorrisos aos salgueirenses.
A performance ainda teve espaço para as musas, as baianas, os outros casais da escola, além do show dos passistas. Quinho e Emerson Dias se divertiram no palco. A dupla
fez piada, gargalhou e, claro, cantou os sambas históricos da Academia.
As apresentações das parcerias finalistas só começou após às 3h30 de sábado. Com a quadra lotada, mesmo com o ingresso custando R$ 70, o primeiro samba foi da parceria de Sereno do Fundo de Quintal, seguido da turma de Antônio Gonzaga e Marcelo Motta e parceiros encerraram a disputa.
Novidade na bateria para 2020
A dupla que comanda a Furiosa do Salgueiro vai para o segundo ano à frente da bateria
que o dever cumprido em 2019. Guilherme e Gustavo foram bem avaliados pelos jurados e
a crítica especializada.
“A gente estava vendo o desfile hoje antes de vir pra cá. A gente tava avaliando e eu
gostei bastante desse carnaval, foi dentro do esperado de tudo que a gente se preparou
pra fazer. Lógico que todo mundo sempre vai discordar da nota, mas fazendo uma análise,
sinceramente, pelo que foi julgado, na justificativa ele fala da afinação dos taróis e das caixas e sendo bem sincero, a gente usou 25 taróis para 80 caixas, a distância não tinha como ele distinguir o que eram taróis e o que eram caixas, até porque a gente usa essa caixa vazada, que é aguda”, explicou Guilherme.
O mestre de bateria revelou que a proposta da bateria para 2020 é trazer novidades. “A
gente vai pensar em instrumentos diferentes, mas tudo é teste e a gente tem mais tempo
para poder experimentar instrumentos. Vamos pensar numa linguagem que vá remeter e
lembrar o circo”, disse Guilherme.
“A escola tá forte, unida e o presidente frisa sempre que o momento que o Salgueiro
vive é de respeito, união, todo mundo se ajudando”, finalizou mestre Gustavo.
Casal prepara ‘incrementada’ na apresentação
Um dos casais de mestre-sala e porta-bandeira mais premiado do carnaval, Sidclei e Marcella Alves tiveram um aperto no pré-carnaval e analisaram o desfile de 2019.
“Eu acho que 2019 foi extremamente proveitoso, ainda mais nas condições de trabalho que a gente teve. O Salgueiro pode se dizer vitorioso no carnaval de 2019. A gente literalmente teve dois meses de trabalho”, disse a porta-bandeira.
“Foi um ano de superação, um ano maravilhoso. Logo depois da Maria Rita (filha de Marcella Alves) ter nascido, a gente teve apenas dois meses de ensaios. Agora já estamos ensaiando para 2020 e depois de escolher o samba, a gente vai intensificar mais ainda”, completou o mestre-sala.
Marcella Alves revelou que a dupla tem novidade para 2020. “A gente está com a
participação agora da Marcela Gil, uma amiga nossa que chegou do teatro pra somar. Ela
veio indicada da própria Beth Bejani, que agora está em outra agremiação (Grande Rio).
O formato de trabalho que a gente tinha com a Beth segue o mesmo, mas a gente quer dar
uma incrementada na nossa apresentação, uma coisa mais alegre, combinando com o circo. A gente vem de enredos bem fortes, bem pesados e agora queremos trazer um pouco dessa alegria de circo pra nossa apresentação. Já sabemos o que vamos representar, tem tudo a ver com casal de mestre-sala e porta-bandeira, mas não posso dizer o que é”,
brincou a misteriosa porta-bandeira.
Dupla da alegria: Quinho e Emerson Dias
Totalmente entrosados, Quinho e Emerson Dias vão para o segundo carnaval consecutivo no comando do carro de som. A dupla brinca e se diverte nos ensaios da escola.
“Somos um gigante de forma mundial. As fantasias estão muito lindas no papel e
quando transportar para as costureiras serão mais lindas ainda”, garantiu Quinho.
“Conseguimos depois de muitos anos na Marquês de Sapucaí uma interatividade muito
boa entre a escola e a arquibancada que não se via desde 2002 com o “vou invadir o
nordeste” lá na Mangueira”, completou Emerson Dias.
Como foram as apresentações dos outros finalistas
Parceria de Sereno do Fundo de Quintal – abriu a disputa. Grande desempenho do
intérprete Serginho do Porto. A torcida cumpriu sua parte no canto, mas a obra não
conseguiu ter adesão do público de fora. Uma apresentação regular e que mereceu estar na decisão.
Parceria de Antônio Gonzaga – Igor Sorriso substituiu Zé Paulo e cantou ao lado de
Grazzi Brasil. Um palco forte demais. A torcida mostrou o amor pela parceria e cantou forte. O desempenho foi bom e a letra o grande destaque da obra. Como no primeiro
samba, a parceria não teve adesão do público de fora.