João Alves de Torres Filho ou Joãozinho da Goméia será o grande homenageado pela Grande Rio no Carnaval 2020, em um retorno às origens de enredos de densidade cultural na agremiação de Caxias. Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad conversaram com a equipe do site CARNAVALESCO sobre o enredo. Para Leonardo Bora a repercussão positiva se deve muito ao fato de a escola não fazer um enredo com essa temática há quase 30 anos.
“Quando da divulgação do enredo a Grande Rio ficou em oitavo lugar nos trending topics do Brasil no Twitter. Isso nos dá muita vontade de realizar esse carnaval tão necessário, em tempos tão obscurantistas, de intolerância religiosa, homofobia e racismo estrutural. Essa primeira resposta revela um sentimento de pertencimento. É isso que entendemos como escola de samba, uma teia de relações comunitárias. Eram 26 anos de espera por uma temática afro-ameríndia na escola”, opinou Bora.
Joãozinho da Goméia é mais um desses personagens que somente um desfile de escola de samba é capaz de popularizar para todo o Brasil. Gabriel Haddad traça um perfil daquele que ficou conhecido como o rei do candomblé.
“Joãosinho da Gomeia, como dito pela rainha Elizabeth II, foi o rei do candomblé. Ele nasceu no interior da Bahia e sentia muitas dores de cabeça. Em Salvador é feito no santo para Oxossi. A partir de então ele faz sua vida no candomblé. Mais tarde ele traz o culto a Jurema para Caxias, em conjunto com o candomblé de Angola, que não é muito falado por aqui. No meio disso tudo, era um artista incrível, um bailarino, dançarino. Inspirou Mercedes Batista, participou de desfiles de escola de samba também, costurava suas próprias roupas. Trouxe o luxo de tecidos para o candomblé”, resume.
Leonardo Bora complementa com as características políticas do homenageado. Em um determinado trecho de sua vida o religioso era procurado por personalidades da cena cultural brasileira.
“Foi um grande articulador. Hoje falamos em mediação cultural. Foi alguém que conseguia reunir em sua corte pessoas das mais diferentes classes sociais, da cultura brasileira. O centro da Goméia era um polo-social, com distribuição de agasalhos, campanhas de vacinação. Várias personalidades frequentavam o seu centro”, disse o carnavalesco.