No Carnaval de 2025, a Mancha Verde viveu um dos momentos mais inesperados de sua trajetória recente. Com o enredo “Bahia, da fé ao profano”, a escola apresentou um desfile marcante, tecnicamente consistente e visualmente impactante. Ainda assim, o resultado surpreendeu: a agremiação acabou rebaixada do Grupo Especial para o Grupo de Acesso I. Para a comunidade manchista, o sentimento foi de perplexidade. Poucos imaginavam que um espetáculo tão bem construído não fosse reconhecido da mesma forma pelo corpo de jurados. O que poderia ser apenas frustração, no entanto, transformou-se em combustível para a reconstrução. De olho no Carnaval de 2026, a Mancha Verde aposta alto ao trazer de volta um de seus enredos mais emblemáticos: a reedição do clássico de 2012, “Pelas mãos do mensageiro do axé, a lição de Odu Obará: a humildade”.

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adriana mancha
Foto: Felipe Araujo/Liga-SP

Mais do que um tema, o enredo carrega uma poderosa mensagem de otimismo, renascimento e aprendizado. A narrativa destaca a humildade como princípio essencial para o discernimento e para a construção de novos caminhos. Conectado profundamente à espiritualidade e à ancestralidade afro-brasileira, o desfile promete exaltar a força dos orixás, como Xangô, Obaluaiê e Oxalá, além de valorizar saberes que atravessam gerações.

É uma história que convida à reflexão sobre valores fundamentais da vida, evocando respeito, equilíbrio, cura e paz como pilares para uma sociedade mais consciente e humana. Com esse recado forte e atual, a Mancha Verde deposita suas esperanças no retorno ao lugar que considera seu por direito: o Grupo Especial.

Mas, antes, o CARNAVALESCO foi ouvir quem realmente vive a escola no dia a dia. Afinal, 2026 é o ano da Mancha Verde? O desfile já deve ser pensado com a cabeça no Especial de 2027? Existe confiança em uma apresentação capaz de alcançar a nota máxima em todos os quesitos? As respostas vêm da comunidade e carregam mais do que opiniões: carregam fé, expectativa e o desejo de redenção.

Baiana da Mancha Verde, Mariana Rosa, de 56 anos, há três anos na agremiação, fala com a serenidade de quem vive a escola por dentro e entende o Carnaval para além das notas e dos troféus. Em um momento delicado da trajetória manchista, sua visão reflete equilíbrio, fé e consciência coletiva sobre o que realmente precisa ser construído para 2026.

Para Mariana, o principal objetivo da Mancha Verde deve ser mostrar sua verdadeira identidade na Avenida, com união, força e respeito à própria história. Na visão da baiana, o retorno ao Grupo Especial pode acontecer, mas precisa ser encarado como consequência de um trabalho bem feito.

Ela reconhece que o sonho do Grupo Especial faz parte da essência de qualquer escola, mas defende que o desfile de 2026 seja construído com os pés no chão, priorizando organização, verdade e entrega. Pensar no Carnaval de 2027, segundo ela, é algo natural, desde que o foco não se perca no processo.

Sobre a possibilidade de alcançar notas máximas, Mariana ressalta que o julgamento faz parte do Carnaval e que cada jurado tem seu próprio olhar. Ainda assim, acredita que um desfile digno, emocionante e conectado com a espiritualidade do enredo e com a comunidade tem grandes chances de ser bem compreendido na Avenida e, como consequência, bem avaliado.

Representando o futuro da Mancha Verde, o mestre-sala e a porta-bandeira mirins Yasmin Jesus, de 13 anos, e Daniel dos Santos, de 18, ambos com oito anos de agremiação, demonstram confiança, emoção e maturidade ao falar sobre o Carnaval de 2026.

Para eles, o próximo desfile carrega um significado especial. Há otimismo no retorno ao Grupo Especial, mas também a consciência de que o caminho passa, antes de tudo, por um Carnaval bem executado. A dupla acredita que 2026 tem tudo para ser um ano marcante, com um desfile grandioso, capaz de emocionar a Avenida e fortalecer ainda mais a identidade da escola.

Daniel destaca que a experiência no Grupo de Acesso será inédita em sua trajetória, o que torna o desafio ainda maior. Segundo ele, mais do que pensar imediatamente no futuro, o foco precisa estar em fazer um desfile consistente, com entrega e dedicação, para então sonhar com o retorno ao lugar que a escola acredita merecer.

Yasmin reforça a confiança no trabalho que vem sendo construído e vê o Carnaval de 2026 como um passo decisivo. Para ela, tudo indica que a Mancha Verde está no caminho certo, e pensar no Especial em 2027 é consequência natural de um desfile bem feito, alinhado com a força da comunidade e com a grandeza da escola.

Integrante da ala comunidade, Carlos Mouro, de 55 anos, há quatro anos na agremiação, vê o Carnaval de 2026 como um ponto de virada para a Mancha Verde. Carlos acredita que a agremiação chega fortalecida, com um projeto à altura do Grupo Especial e com uma comunidade ainda mais unida e determinada após os acontecimentos do último carnaval, especialmente o rebaixamento.

Segundo Carlos, a frustração do resultado anterior serviu como combustível para aumentar a garra. No entanto, ele ressalta a importância de manter os pés no chão, lembrando que o Grupo de Acesso I reúne agremiações qualificadas e que o caminho exige humildade e trabalho sério.

Na avaliação dele, o foco deve estar em fazer um desfile bem executado, consistente e verdadeiro, deixando que o resultado seja consequência do esforço coletivo. A expectativa é por uma apresentação marcante, capaz de emocionar o público e, se tudo for bem compreendido pelos jurados, alcançar as notas máximas nos quesitos.

Carlos também relembra que o desfile anterior teve dificuldades que acabaram impactando a avaliação, além de critérios que não foram totalmente compreendidos pela comunidade. Ainda assim, ele afirma que a escola segue confiante, trabalhando para corrigir falhas e entregar o melhor possível na Avenida em 2026.

Entre a frustração do resultado inesperado e a expectativa por um novo ciclo, a Mancha Verde segue unida, projetando o futuro com equilíbrio, serenidade e fé. As falas da comunidade revelam uma escola consciente de seus desafios, mas fortalecida pelo aprendizado, pelo amadurecimento coletivo e pela confiança no trabalho que vem sendo desenvolvido de forma contínua.

O discurso é cauteloso, mas carregado de convicção, refletindo uma escola que aprendeu com a queda e entende a importância de respeitar cada etapa do processo. Para a comunidade, o acesso não é tratado como obrigação imediata, e sim como consequência natural de um desfile bem executado, verdadeiro e comprometido com seus valores. Pensar no futuro é legítimo, mas o foco está em fazer de 2026 um Carnaval digno, organizado e representativo.

Nesse contexto, o desfile ganha um significado que vai além da disputa por notas. Ele se torna a expressão de uma comunidade que acredita, que participa e que se reconhece na escola. Dos mais jovens aos mais experientes, o sentimento é de pertencimento e responsabilidade coletiva, reforçando que a Mancha Verde é feita, acima de tudo, por pessoas que não se afastaram nem mesmo nos momentos mais difíceis.

Portanto, o Carnaval de 2026 se apresenta como um momento de reafirmação da força comunitária da Mancha Verde. Independentemente do resultado final, a escola entra na Avenida sustentada pela fé, pela ancestralidade e pelo compromisso de quem vive a agremiação de forma intensa e verdadeira. É a partir dessas vozes, desses olhares e dessas vivências que a escola busca transformar aprendizado em reconstrução e seguir escrevendo sua história com dignidade e identidade.