Desde 1985, uma voz tornou-se conhecida no carnaval paulistano. Quando os Gaviões da Fiel ainda eram um bloco, Ernesto Teixeira assumiu o microfone principal da instituição e, desde então, fez história na folia da cidade de São Paulo. Acompanhou a transformação da instituição em escola de samba, acompanhou os quatro títulos de Grupo Especial da Torcida Que Samba, os três rebaixamentos e os três canecos do Grupo de Acesso I – além, é claro, de inúmeros momentos especiais. Em 2025, mais um desses instantes eternos aconteceu por conta do desfile que tinha como enredo “Irin Ajó Emi Ojisé – A Viagem do Espírito Mensageiro”, que sagrou-se terceiro colocado no Grupo Especial. A Voz da Fiel, como Ernesto Teixeira é conhecido, conquistou o Estrela do Carnaval, premiação organizada e entregue pelo CARNAVALESCO, na categoria Melhor Intérprete. A reportagem conversou com o cantor sobre uma série de assuntos.

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História na passarela

Um dos grandes fatos acerca do carnaval paulistano de 2025 envolvia os Gaviões da Fiel. Pela primeira vez na história, a instituição teria um enredo afro. Por conta da temática tão especial, muitos se perguntaram como a apresentação seria e o rendimento da Torcida Que Samba nos quesitos. Além da terceira colocação na apuração (melhor colocação da instituição desde o último título da alvinegra, em 2003), a escola foi a que mais premiações teve no Estrela do Carnaval – além de Melhor Intérprete, também foram conquistados os prêmios de Melhor Conjunto de Fantasias e Melhor Ala das Baianas. A resposta aos questionamentos, como ficou evidente, veio na pista.

Ernesto, por sinal, destacou que a preparação realizada ao longo de todo o ciclo carnavalesco foi fundamental para que o desempenho dele próprio e da canção fosse tão alto: “O enredo afro, o primeiro da história dos Gaviões, não trouxe nenhuma dificuldade para mim enquanto intérprete. Eu sou muito familiarizado com o tema, eu gosto muito de tudo que fala das coisas da África, tudo que tem um batuque mais acentuado. Não tenho dificuldade em relação às palavras em iorubá, também. Muita gente falou que o samba era difícil durante o processo dos ensaios. Mas, para mim, não tem samba difícil. A questão é você se dedicar um pouquinho, decorar o samba e ensaiar. Toda música tem necessidade de ser estudada. Esse tema afro coincidiu com o fato do samba ser um bom samba, isso ajuda bastante. Eu tive um prazer ainda maior ainda em cantar essa obra. Você canta com mais desenvoltura. Acho que foi tudo isso que acabou levando a essa premiação”, pontuou.

Lembrança de baluartes

Completando 40 anos à frente do microfone principal dos Gaviões da Fiel, Ernesto Teixeira tem mais um recorde para chamar de seu. Após a aposentadoria de Neguinho da Beija-Flor da agremiação nilopolitana, ele passou a ser o intérprete mais longevo em uma escola de samba no eixo Rio de Janeiro-São Paulo.

Antes de comentar sobre si próprio, ele fez questão de falar sobre outros dois grandes nomes da folia carioca: “Ser o mais longevo intérprete nesse eixo é um detalhe interessante. A gente tem que, primeiramente, parabenizar o Neguinho por toda a trajetória. São 74 anos de idade e 50 anos de carnaval. Uma história, com certeza, cheia de adversidades e, também, de grandes glórias. A gente tem que lembrar do Jamelão, também: outro grande artista que cantou por muitos anos na Mangueira. Só deixou o microfone com 94 anos de idade”, homenageou.

Ele ainda aproveitou para dar um pitaco sobre Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes: “Eu não acredito que o Neguinho vai parar! Embora eu esteja vendo muita coisa dele ir para a Europa, abrindo uma Beija-Flor em Portugal. Estou vendo que ele tem um grande trabalho comercial para o futuro”, disse.

Sobre si próprio

Ao falar da própria caminhada nos Gaviões, Ernesto, novamente relembrou Neguinho da Beija-Flor e Jamelão, mas destacou o quanto se preparou para chegar tão longe: “A gente vem nessa linhagem, e eu vinculado a minha Gaviões desde sempre, desde quando eu cheguei lá na entidade, com 13 anos de idade. Dois ou três anos depois já estava na bateria, já estava na ala musical. E, desde quando assumi o microfone principal, em 1985, procurei me aperfeiçoar, estudar um pouquinho, aprender alguma coisa e me espelhar nesses grandes nomes que a gente falou aqui – e, também, de tantos outros que passaram pelo samba. O samba-enredo é uma arte a parte dentro do gênero samba e dentro da nossa cultura. Deus quis que a gente chegasse até aqui”, agradeceu.

Equipe marcante

Para encerrar a entrevista, sempre falando de positividade (palavra que o intérprete tem como um mantra), Ernesto Teixeira fez questão de citar todo o carro de som da “Torcida Que Samba” – chegando a colocar todos os integrantes em patamar de igualdade a ele: “Estou muito lisonjeado pela premiação, mas eu quero estendê-la a toda a ala musical dos Gaviões. Todo o trabalho que foi feito durante todo o ano teve a direção do Rafa do Cavaco, do maestro Valdir dos Santos, Dodô no Cavaquinho, Beba no Cavaquinho e o Pirata no violão sete cordas. Nas vozes, tem o Luciano Costa, o João 10, tem a Fernanda Borges, tem a Fernanda Souza e a Zanza Simião. Esse é o time da Gaviões que, na verdade, foi premiado em meu nome, mas eu estendo a todo o trabalho da ala”, finalizou.