A Imperatriz Leopoldinense realizou, na noite do último domingo, seu terceiro ensaio na rua Euclides Faria, em Ramos. O treino reafirmou a consistência do projeto artístico da escola: uma comissão de frente que traduz a potência libertária do enredo, um casal que brilhou com precisão e estilo próprio e uma comunidade que respondeu com um canto forte, dissipando de vez as dúvidas sobre o samba-enredo. A “Rainha de Ramos” mostrou ainda que organização e leveza podem evoluir juntas. A Imperatriz será a segunda escola a desfilar no domingo de Carnaval, com o enredo “Camaleônico”, homenagem ao cantor Ney Matogrosso assinada pelo carnavalesco Leandro Vieira.
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COMISSÃO DE FRENTE
A comissão de frente, assinada por Patrick Carvalho, apresentou uma coreografia marcada pela força do corpo. Os integrantes performaram movimentos amplos, expressões faciais bem trabalhadas e uma dança que dialoga diretamente com o repertório cênico de Ney Matogrosso. Gestos característicos do cantor, como a sensualidade, a provocação e a teatralidade, aparecem em cena de maneira evidente.

Um dos pontos mais marcantes da apresentação está no trabalho das mãos. Elas quebram, apontam, ondulam, desmunhecam. Mãos que falam e que ampliam o repertório visual da coreografia. Esse uso expressivo reforça a ousadia e a liberdade corporal que Ney sempre levou ao palco, operando como um elemento-chave para atualizar sua estética e transformá-la em linguagem coreográfica para a avenida.
Os figurinos acompanharam essa proposta ao retomarem peças icônicas da carreira do cantor, compondo um conjunto visual que evoca sensualidade e ruptura de padrões. No centro da cena esteve o Pivô, personagem que representa Ney Matogrosso. Caracterizado e pintado, ele conduziu a apresentação, enquanto os demais integrantes, também vestidos com referências de diferentes fases do artista, construíram uma proposta cênica que dá corpo à narrativa.

O resultado é uma comissão que se destaca pela coerência entre movimento, estética e dramaturgia. O trabalho de Patrick Carvalho reafirma a aposta da Imperatriz em uma linguagem corporal que honra o homenageado e reinterpreta sua potência libertária para os ensaios de rua.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro vivem um momento espetacular à frente do pavilhão da Imperatriz Leopoldinense. A fina sintonia entre os dois se traduz em uma dança em que técnica e entrosamento se articulam com precisão. O toque próprio que imprimem à coreografia confere unidade estética ao bailado, reforçando a assinatura de excelência da dupla dentro do padrão esperado para o quesito.

Phelipe risca o chão de modo insinuante, especialmente nos trechos em que a escola canta seu perfil “felino e provocador”, evidenciando uma leitura dramatúrgica do samba alinhada ao enredo. Rafaela, por sua vez, conduz o pavilhão com giros leves e contínuos; o modo como rodopia deixa ver o caráter gracioso, festivo e libertário que a “Rainha de Ramos” vem dando em seus ensaios.
Apesar de a escola ter simulado a cabine espelhada no ensaio, o casal optou por não executar o movimento espelhado. Ainda não dá para dizer como a dupla pretende resolver a exigência técnica introduzida pelo novo modelo de julgamento. Não há previsão de quando, ou se, Phelipe e Rafaela apresentarão a coreografia espelhada nos treinos de rua.
HARMONIA E SAMBA
Pitty de Menezes e a equipe musical da Imperatriz vivem um momento de plena afirmação nos ensaios de rua, dissipando qualquer dúvida que tenha cercado a escolha do samba-enredo. Isso se reflete diretamente no canto da comunidade, que aparece forte, constante e ganha ainda mais volume nos trechos de maior apelo melódico.
No pré-refrão e no refrão principal, que começam no trecho “Se joga na festa, esquece o amanhã, minha escola na rua pra ser campeã”, o canto da escola explode, repetindo o impacto dos sambas recentes da Imperatriz.

O canto consistente dos componentes, aliado à adesão do público que acompanhava o treino, reforça o elevado nível do trabalho musical e do entrosamento da equipe do carro de som. A performance na rua mostrou que o samba encontrou seu lugar na voz da comunidade.
Pitty de Menezes, em entrevista ao CARNAVALESCO, destacou que o desempenho do samba é fruto do trabalho intenso da equipe musical. “A Imperatriz é uma escola que trabalha muito, ensaia muito. A gente tem uma ala musical muito competente, um diretor musical muito competente”, afirmou.
Sobre o rendimento no ensaio, Pitty foi categórico: “Tá aí a prova: esse ensaio maravilhoso. Todo mundo cantando o samba, todo mundo gritando samba. O samba pegou, tá na boca do povo.” Confiante, completou: “A escola confia na nossa equipe e a gente tá demonstrando que é capaz de fazer o samba acontecer.”
EVOLUÇÃO

No quesito Evolução, a Imperatriz mostrou, neste ensaio de rua, que não é preciso recorrer a um “militarismo coreográfico” para avançar bem na pista. Em um cenário em que muitas escolas adotam uma evolução mais rígida, motivadas pelo receio de perder ponto e pela leitura técnica que o quesito ganhou nos últimos anos, a Imperatriz apresenta um caminho distinto. Em vez do passo marcado e da disputa engessada por precisão, a escola aposta em leveza, espontaneidade e brincadeira.
Os componentes evoluíram pela rua Euclides Faria de maneira alegre, solta e festiva, cantando o samba com naturalidade e ocupando o espaço sem a sensação de coreografia controlada. Essa postura evidenciou que é possível equilibrar organização e espontaneidade, sem que uma anule a outra. E, mais do que isso, recoloca em discussão o próprio entendimento do quesito: afinal, estamos falando de carnaval, de um desfile de escola de samba, e a fluidez das pessoas na pista faz parte da experiência que o espetáculo propõe.

Outro ponto importante é o canto das alas, que reforça a sensação de evolução viva. Entre elas, merece destaque a ala “Bonecas Deslumbradas”, que virá antes do carro de Ney Matogrosso. Com leques, energia e uma postura camaleônica, é uma das alas mais animadas do ensaio, contribuindo diretamente para o ambiente festivo que a Imperatriz leva para a rua.
OUTROS DESTAQUES

A “Swing da Leopoldina”, bateria comandada pelo mestre Lolo, apresentou suas bossas no treino do último domingo. As marcações foram executadas com precisão e colocadas estrategicamente nas passadas do samba, resultando em um trabalho de excelência rítmica. O impacto no canto é imediato: a bateria sustenta, impulsiona e dialoga com o carro de som, evidenciando o entrosamento musical que a Imperatriz vem construindo nas últimas temporadas.

A rainha de bateria, a cantora Iza, que vem comparecendo aos ensaios, não esteve presente neste treino. A presidente da Unidos de Padre Miguel, Lara Mara, participou do ensaio com a amiga Cátia Drumond.

Destaque também para a ala de passistas da Imperatriz, comandada por Márcio Dellawegah. O grupo exibiu muito samba no pé, sensualidade e uma energia que dialoga diretamente com o enredo. No ensaio, os passistas da Imperatriz reafirmaram esse papel ao escreverem a liberdade dos corpos que sambam.










