A Unidos da Tijuca realizou, na noite da última quinta-feira, seu terceiro ensaio de rua rumo ao Carnaval 2026, no Santo Cristo, na Zona Portuária do Rio. Coincidindo com o feriado do Dia Nacional da Consciência Negra, o treino ganhou clima de celebração à memória de Carolina Maria de Jesus, tema do enredo assinado pelo carnavalesco Edson Pereira. A performance segura de Marquinho Art’Samba e a excelência da bateria “Pura Cadência”, comandada por mestre Casagrande, marcaram o ensaio do Pavão. A escola será a última a desfilar na segunda-feira de carnaval.

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MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

Sem a apresentação da comissão de frente, o casal foi o primeiro quesito a se apresentar na noite. Matheus André e Lucinha Nobre mostraram que estão cada vez mais entrosados na dança. Matheus riscou o chão com elegância em giros precisos. Lucinha empunhou o pavilhão da escola com garra nas suas já conhecidas “bandeiradas”.

No verso do samba que menciona “a sina da mulher preta no Brasil”, Matheus se curvou diante do pavilhão e de sua porta-bandeira. Nesse momento, Lucinha assumiu o protagonismo da cena em uma performance que reposiciona o sentido e o lugar das mulheres pretas. Um jogo de cena de grande beleza e potência. Já em “nos salões da burguesia”, o casal executa um movimento de leitura imediata, evocando a dança dos antigos bailes coloniais.

Sem a simulação da cabine espelhada, o casal ainda não apresentou os caminhos coreográficos que tomará para atender ao novo modelo de julgamento do Carnaval.

HARMONIA E SAMBA-ENREDO

O samba-enredo da Unidos da Tijuca, considerado um dos destaques da safra de 2026, incentiva os componentes a cantarem com grande intensidade, especialmente o pré-refrão e o refrão principal. Marquinho Art’Samba conduz o canto da escola, junto com uma entrosada e competente equipe no carro de som, já utilizando o mesmo trio elétrico que será empregado nos ensaios técnicos, como quem escreve uma nova página na história de 93 anos do Pavão.

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Fotos: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

Sobre a noite de ensaio, Marquinho destacou a evolução do samba e o impacto do equipamento utilizado: “O samba realmente está crescendo muito. Ainda falta muita coisa, muitos ajustes para a gente poder acertar, mas ele está tomando um crescimento muito grande — e estamos trabalhando pra isso, entendeu? Para o samba tomar mais corpo, crescer mais. A gente sabe que pode dar muito mais pra esse samba. A comunidade está cantando, está aguerrida. A Tijuca está muito feliz, e isso é o que importa. Eu estou muito feliz”.

O intérprete também enfatizou a importância de trabalhar desde já com o trio que será usado nos ensaios técnicos da Sapucaí: “Acho que a gente vai conseguir um lugar bacana ao sol. E hoje teve o diferencial do carro de som que vocês vão ver também no ensaio técnico. Faz muita diferença? Faz! Com um carro de som bom, a gente consegue entender as nuances do samba, consegue consertar algumas coisas que estavam fora. Acredito que daqui pra frente seja esse o equipamento até o dia do Carnaval, se Deus quiser”.

EVOLUÇÃO

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A evolução da Unidos da Tijuca flui com um caráter mais técnico. Isso gera uma diferença na fluidez entre as alas. Há alas extrovertidas, que brincam e desfilam com leveza, e outras mais tímidas. Equilibrar o rigor técnico com o tempo de desfile e a leveza dos componentes parece ser um caminho necessário.

Destaque para a ala coreografada “Canindé”, que performou o samba chamando a atenção do público presente, e para a última ala antes da bateria, que desfilou com todo o samba na ponta da língua.

OUTROS DESTAQUES

A “Pura Cadência”, comandada por mestre Casagrande, manteve o nível elevado nos ensaios da Unidos da Tijuca. A bateria atravessou a via D1 com firmeza e vitalidade, imprimindo uma cadência que impulsiona componentes e público a cantarem com força o samba em homenagem a Carolina Maria de Jesus. É uma consistência que confirma o alto padrão do quesito na escola.

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Quem acompanhou todo o ensaio em cima do trio elétrico foi o presidente Fernando Horta. Fumando seu charuto, Horta acenou para os componentes e testemunhou, com visão privilegiada, o treino do “Pavão”.

A rainha de bateria, Mileide Mihaile, ainda não marcou presença nos ensaios de rua. Quem desfilou à frente da bateria foi a musa Giesa Eloy.

Já a comissão de frente, ausente no ensaio desta quinta-feira, só deve voltar à via D1 após os minidesfiles que acontecerão nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Cidade do Samba.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, a diretora de carnaval Elisa Fernandes comentou como o Dia da Consciência Negra influenciou o espírito do ensaio.

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“Está com pinta de véspera de carnaval. No início do ensaio, eu até comentei que hoje a gente ia cantar por Carolina mais do que nunca, principalmente pela representatividade dessa data. É uma data muito significativa, o Dia da Consciência Negra, e pedi para os componentes puxarem a sua ancestralidade e honrarem a história da Carolina mais do que nunca. Eu senti que a galera comprou a ideia, cantou junto. Hoje fizemos um evento lindo na quadra, o “Negritude Tijucana”, com feijoada para toda a comunidade. A comunidade está feliz, está se divertindo, está com um baita enredo e orgulhosa de cantar a história da Carolina. Está tudo lindo. É uma energia muito especial. A gente que é de Carnaval há muito tempo sabe que isso não acontece toda hora, e está acontecendo na Tijuca. Tá muito gostoso participar desse momento”.