A Imperatriz da Paulicéia viveu um capítulo inédito de sua história. Pela primeira vez, a escola participou da gravação oficial dos sambas-enredo organizada pela Liga-SP, na Fábrica do Samba. A estreia, carregada de expectativa, orgulho e uma dose natural de apreensão, marcou mais do que um novo passo da agremiação no Grupo de Acesso 2: consolidou uma fase de amadurecimento artístico e simbólico, impulsionada pelo enredo que exaltará Ogum no Carnaval 2026. Presidente da escola, Maralice Lazarini destacou o peso de participar do projeto pela primeira vez.

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Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

“Para a gente é uma novidade. É o primeiro ano, então estamos um pouco apreensivos. Ensaiamos bastante e eu assisti a outras gravações para não cometer erros. Mas é algo muito importante. Divulgar uma escola como a nossa é essencial, em qualquer mídia e em qualquer lugar”.

Em um cenário competitivo como o Acesso 2, a busca por exposição é quase tão fundamental quanto a preparação técnica. Para a Imperatriz, cuja base comunitária é menor que a das tradicionais forças da zona leste ou da zona norte, a gravação representa um salto de presença na vitrine do carnaval paulistano. Mesmo a estreia, porém, não deixou de ter o clima que marca a identidade da agremiação.

“Na Imperatriz tudo é uma festa. Tudo o que fazemos acaba se tornando um grande encontro. Foi muito bacana, porque esses momentos aproximam ainda mais as pessoas”.

Enredo aguardado e mergulho na religiosidade afro-brasileira

A Imperatriz escolheu para 2026 um tema que já vinha sendo planejado há alguns carnavais: Ogum, o orixá guerreiro, e o sincretismo religioso que atravessa a formação cultural brasileira. Maralice deixou clara a responsabilidade de tratar o tema com profundidade e respeito.

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“Nós, que somos brancos, temos muito o que aprender e respeitar para representar isso com verdade. Todos estão estudando, conhecendo e se aprofundando para fazermos um carnaval bonito e respeitoso, que encha de orgulho quem se identifica com o tema”.

Primeiro ano do intérprete Dom Júnior

Estreando como voz oficial da escola, Dom Júnior viveu a gravação como um marco pessoal: “Para mim é uma honra e uma grande satisfação. É o meu primeiro ano como intérprete oficial e estou muito feliz. A Imperatriz é uma família. O samba é forte, funciona muito bem e acreditamos muito nele”.

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O cantor destacou o processo de preparação cuidadosamente conduzido pela direção musical: “Já estamos ensaiando há alguns dias. Temos um produtor musical, o Tom Queiroz, e junto com a mestra Rafa montamos os arranjos. Foi um processo bem colaborativo, com muito cuidado nos detalhes”.

A composição escolhida surgiu de uma disputa acirrada, com dez sambas inscritos e quatro finalistas: “Depois fizemos algumas alterações para adequar melhor ao enredo, com a ajuda dos compositores. O resultado é um samba muito forte, com três refrões marcantes. O refrão de Ogum é arrebatador”.

Mestra Rafa celebra momento inédito: ‘É uma grande responsabilidade’

À frente da bateria, mestra Rafa viveu a gravação como a realização de um sonho antigo: “É a primeira vez que a Imperatriz tem essa oportunidade. Eu já participei do projeto com outras escolas, mas estava esperando o momento de levar a nossa bateria para uma gravação como essa”.

A preparação foi intensa e específica: “A bateria fez três ensaios só para esta gravação. Mantivemos a nossa identidade, mas o foco foi organizar tudo para que o registro saísse perfeito”.

Filha de Ogum, a regente não escondeu a emoção com o enredo e com a força religiosa presente na obra: “A parte do samba que eu mais gosto é a que cita Ogum, meu orixá e meu pai de cabeça. É muito especial falar sobre ele. Fugimos do óbvio, e isso é importante, porque antes de tudo o Carnaval é cultura”.