O carnaval, símbolo maior da cultura popular brasileira, vive um momento delicado, e, infelizmente, o campo de batalha não é mais apenas a Avenida Marquês de Sapucaí ou do Anhembi. Nas redes sociais, o que deveria ser um espaço de celebração, troca de ideias, bons debates e amor pelas escolas de samba se transformou, em muitos momentos, em um esgoto virtual. O ódio, a desinformação e o preconceito invadiram o universo carnavalesco, inclusive, com pessoas que dizem ser da imprensa, mas são é da “imprença” (sic), que destilam ódio com a mesma virulência com que contaminam outros setores da sociedade.
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Fakes, perfis sem rosto e até pessoas conhecidas se autorizam, dia após dia, a atacar profissionais, artistas e agremiações com um tipo de violência que fere não apenas a dignidade de quem trabalha, mas o próprio espírito do samba. A cada nova postagem, surgem juízes de tudo: da coreografia dos passistas ou da comissão de frente, fantasia da escola, voz do cantor, a fé de um sambista e por aí vai. O que antes se chamava “disputa de coirmãs” se transformou, para alguns, em uma guerra de torcida movida por vaidade, inveja e desinformação.
O CARNAVALESCO nasceu, cresceu e se consolidou acreditando que o carnaval é uma competição de quesitos, e a força cultural que une, emociona e transforma. Desde sempre, o site defende a crítica responsável, técnica, baseada em quesitos e na leitura artística dos desfiles. Sim, fazemos opinião e é nosso papel fazê-la. Mas aqui não existe chicote. Já existiu, é verdade, em outro tempo, quando o jornalismo de carnaval ainda aprendia a encontrar o equilíbrio entre a paixão e a análise. Hoje, o nosso compromisso é outro: o da ética, respeito, a competição saudável e a defesa intransigente da cultura popular.
Não se trata de ser “bonzinho” com ninguém. Trata-se de entender que o desfile de uma escola de samba é o resultado do trabalho de centenas de pessoas, a esmagadora maioria oriunda das camadas mais humildes, que dedicam o ano inteiro à arte e à fé que sustentam o carnaval. Por isso, é doloroso assistir ao crescimento de um comportamento nas redes que carrega, mesmo disfarçado de crítica, o velho preconceito de classe. O olhar de cima, o deboche com o sotaque, a ironia com o corpo do passista, o desprezo pela crença de quem cultua seus orixás, tudo isso é preconceito. Tudo isso é o oposto do que o samba representa.
A intolerância religiosa, em particular, tem sido um dos rostos mais perversos desse ódio digital. Quando um enredo celebra o Candomblé, a Umbanda ou qualquer expressão das matrizes africanas, brotam comentários carregados de desrespeito, ignorância e racismo. É a tentativa de ferir não apenas a arte, mas a espiritualidade e a ancestralidade de um povo. O samba é resistência. O samba é fé. Atacar isso é atacar a própria essência do carnaval brasileiro.
O que está em jogo, portanto, não é apenas a liberdade de expressão. É a responsabilidade coletiva de proteger uma manifestação que é patrimônio cultural e espiritual do nosso país. O carnaval não pode ser transformado em arena de ódio, nem os sambistas em alvos fáceis para quem confunde opinião com ofensa.
A crítica continuará existindo, e precisa existir. O debate sobre samba-enredo, sobre quesitos, sobre o resultado do julgamento. Tudo isso é parte da alma do carnaval. Mas o limite é o respeito. Do outro lado da tela há pessoas, histórias, famílias e sonhos.
O CARNAVALESCO reafirma o compromisso com o jornalismo, com a crítica construtiva e com o respeito a todos os profissionais, de todas as escolas. Nosso papel não é alimentar a guerra, e sim iluminar o caminho de quem ama o carnaval de verdade.
Que os abutres continuem gritando nas sombras. O samba seguirá sendo luz.









