O mês de julho de 2025 foi marcado por dois momentos distintos na história da Dragões da Real. O adeus a Maria Aparecida Remondini, diretora e mãe do presidente Renato Remondini, o Tomate, no dia 10 daquele mês, ocorreu em meio à divulgação e ao lançamento oficial da escola de samba mirim Dragões do Futuro, em evento realizado na Caverna do Dragão, no dia 12.
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Ensinamentos de Dona Cidinha
Fundada para dar espaço a crianças e adolescentes no mundo do carnaval, a escola mirim da Dragões nasce banhada pelo legado de amor e ensinamentos deixados por Dona Cidinha. Em conversa com o CARNAVALESCO, durante a final do concurso de samba-enredo para o Carnaval 2026, em 23 de agosto, Tomate lembrou com saudades os momentos de definição dos sambas ao lado da mãe.
“Na primeira vez que fui falar no palco, deu aquela embargada na voz. Ela estaria ali, no cantinho dela, que nós fizemos em homenagem a ela. Estaria no palco naquele momento do anúncio. Ela sempre foi muito entusiasta desse lance dos sambas. Quando saíam os sambas, começavam a gravar, ela me chamava e falava: ‘Filho, eu já tenho o meu. Qual é o seu? Me fala, filho!’, e ficávamos brincando muito juntos”, recordou o presidente.
O desafio de Dona Cidinha para criar Renato Remondini foi semelhante ao que milhares de mulheres enfrentam diariamente em todo o país. “Ela me criou sozinha, eu não tive pai. Ela me ensinou a ser o homem que me tornei. Acho que 99% do que me tornei na vida foi graças a ela. Toda vez que eu olhar para o cantinho dela, que eu fechar os olhos e lembrar dela em qualquer lugar que eu estiver, e, isso é algo que tenho feito em todos os momentos dos meus dias, só vou pensar na mulher guerreira que ela foi e no quanto lutou até o final. Acho que ela me transmitiu justamente isso: acreditar sempre, lutar sempre e valorizar muito a família”, disse.
Tomate revelou que Dona Cidinha manteve, por décadas, um ritual muito especial, que agora ele se esforça para seguir: visitar frequentemente a avó.
“Minha mãe tinha uma coisa muito marcante, que eu conto para as pessoas e elas não acreditam: minha avó já era separada, e minha mãe morava no mesmo condomínio que ela. Minha mãe devia estar há uns 20 anos sem viajar e, nesse tempo todo, em todos os dias da vida dela, ela via a minha avó. Minha avó foi o grande amor da vida da minha mãe. Hoje, como a Fábrica do Samba é mais ou menos perto da casa da minha avó, todos os dias que posso — de cada sete dias da semana, cinco ou seis eu passo lá. Isso é uma das várias coisas que ela me deixou: valorizar a família, valorizar tudo o que se conquista e fazer as coisas certas”, contou.
Legado para o futuro
Pela primeira vez na história do carnaval de São Paulo, ocorreu em 2025 um desfile voltado para as crianças, antes da primeira noite de apresentações do Grupo Especial. Mesmo assim, a cidade não contava especificamente com escolas de samba mirins muito comuns no Rio de Janeiro e em outras localidades. Inspirada pela ideia de Renato Remondini, foi fundada a Dragões do Futuro, a primeira de várias agremiações dedicadas ao público infantojuvenil que surgiram ao longo do ano. O presidente falou sobre a mobilização em torno da escolinha e o progresso da iniciativa até o momento.
“Quando tive essa ideia, eu até falei para o pessoal: ‘A Dragões tem que ser a primeira a se mobilizar, porque fui eu quem teve a ideia’. Mas o Rosas de Ouro já tem uma bateria mirim há muito tempo, eles fazem um trabalho incrível, muito legal, e outras escolas também. Quando lancei, eu disse: ‘Na Dragões já temos que começar a ensaiar e nos mobilizar’, e foi incrível. Nós temos mais de 270 crianças inscritas e ensaiando em bateria, baianinha, passista e assim por diante”, afirmou.
Durante o lançamento do samba da Dragões da Real para 2026, Tomate, que assumiu em 2025 a presidência da Liga-SP, falou sobre o primeiro desfile de escolas de samba mirins, que ocorrerá na Fábrica do Samba, no Dia das Crianças deste ano. Renato também manifestou, no palco, o desejo de levar o evento para o Anhembi no próximo ano e destacou a importância da iniciativa que sua escola teve ao fundar um departamento voltado a esse público no passado.
“Esse primeiro ano será na Fábrica do Samba, mas, se Deus quiser, no ano que vem, no Dia das Crianças, nós queremos fazer no Anhembi mesmo. Acho que isso será muito importante para o futuro do carnaval. Nós, aqui na Dragões, há uns cinco anos, plantamos o departamento jovem. Por quê? Porque a ala das crianças, em todas as escolas, quando o menino ou a menina faz 12 anos, para. 90% deles não migram para uma ala de adultos porque não têm nem tamanho para vestir uma fantasia de adulto. Criamos aqui o departamento jovem, que é justamente essa transição entre a criança e o adulto”, explicou.
A ideia da Liga-SP para o Dia das Crianças não é apenas realizar um desfile para os baixinhos. Trata-se de um evento com diversas atrações, pensado para proporcionar um dia memorável na vida dos pequenos sambistas que comparecerem à Fábrica do Samba.
“Eu vejo que, com esse projeto e com todas as escolas se mobilizando, não será apenas um desfile, mas um Dia das Crianças completo. Com brinquedos, brincadeiras, monitores, oficinas de bateria e de confecção de fantasias. Com tudo — alimentação, presentes. Será um Dia das Crianças completo, com foco no sambista do amanhã, ensinando para eles e mostrando o quanto o samba sofreu para chegar até os dias de hoje, em que podemos usufruir disso”, explicou Tomate.
Questionado sobre os desafios de manter o interesse dos mais jovens nas escolas de samba, especialmente em uma cidade culturalmente tão plural como São Paulo, o presidente destacou a importância de construir um legado que desperte o orgulho das crianças por fazerem parte do maior espetáculo da Terra.
“Acho que, primeiro, é deixar as crianças serem felizes. A palavra é leveza, felicidade. Elas estão no desfile da Dragões. A Dragões não tem harmonia apitando no ouvido de ninguém. A Dragões não tem linha A, linha B, fileira, nada disso. As crianças não querem se sentir presas, querem se sentir soltas e felizes — essa é a premissa. Depois disso, que elas entendam que estão no maior espetáculo a céu aberto do mundo: o carnaval. Elas podem bater no peito e falar: ‘Eu participo do maior espetáculo do mundo’, e é verdade. Aos poucos, vamos mostrando para as crianças o quanto o carnaval é importante na vida delas e na vida das pessoas que dependem das escolas de samba. São milhares de famílias assistidas pelas escolas. É um trabalho de muitos braços, para ir ensinando. Hoje, eu tenho duas vice-presidentes mirins, uma com 16 anos e outra com 17. São o nosso futuro. As escolas precisam olhar para trás para saber o que vai acontecer lá na frente.”
Ao lado do pai durante toda a entrevista, a filha de Renato Remondini, a pequena Luísa, sabe muito bem qual papel quer exercer na Dragões do Futuro.
“A Luísa vai ser baianinha! Ela que escolheu. Ela ensaiou na bateria, ensaiou de passista, ensaiou na comissão de frente, mas escolheu ser baianinha”, revelou o presidente.