Na noite deste último sábado, o Morro da Casa Verde apresentou o samba-enredo para o Carnaval 2026. Com essa revelação da obra, a verde e rosa se tornou uma das últimas agremiações a divulgar a música que irá embalar o Carnaval no Anhembi. Para celebrar a ocasião, o evento ocorreu na Cassasp e contou com a presença das coirmãs Dragões da Real e Mocidade Unida da Mooca. Na oportunidade, também aconteceram homenagens e coroações para musa, muso, rainha e madrinha de bateria, além da exposição das fantasias de 2026 logo na entrada do local. Outros dois momentos marcantes foram os cantos de pontos de orixás e a posse do pavilhão de enredo do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira. O CARNAVALESCO acompanhou a festa e todos os detalhes do lançamento do samba-enredo.

Morro é sentimento
Ao falar sobre a obra para o Carnaval 2026, o presidente Diego Campos afirmou estar extremamente satisfeito com o que foi apresentado. Ele também exaltou o intérprete oficial Wantuir, que não pôde comparecer, mas segue como a grande voz da verde e rosa da Zona Norte pelo terceiro ano consecutivo.
“A gente costuma falar em todas as nossas apresentações que o Morro da Casa Verde é sentimento. E o samba também faz parte desse sentimento. O nosso compositor majoritário é o Celsinho Mody, que faz parte da família e é cria do Morro da Casa Verde. Foram muitas etapas até chegar nesse samba que vocês estão ouvindo. Espero que todos gostem, que seja unânime. Realmente é um samba que superou as minhas expectativas. Estou acompanhando o processo desde a construção, então sou suspeito para falar. E, na voz de um intérprete do tamanho do Wantuir, fica ainda melhor”, disse.
O gestor detalhou ainda mais o processo de composição. Segundo Diego, várias pessoas participaram até o resultado final. “A gente vem de uma tradição de encomendar o samba porque não precisamos ficar juntando ou cortando trechos em caso de eliminatórias. Os compositores são Chocolate, Celsinho Mody, Rubens Gordinho… Tem uma porção de nomes que, no decorrer, vêm e dão uma palavra, mas às vezes não querem assinar. Tem também o nosso amigo Sandro Bernardes, que participa bastante nas questões religiosas, além do Pai Léo. Eles sempre acompanham, principalmente quando falamos das matrizes africanas. E claro, tudo em conjunto com o nosso carnavalesco e o departamento cultural. É uma construção coletiva: todo mundo participa. Não tem esse negócio de ‘o presidente quer assim’. A gente ouve todos e tenta adequar dentro do regulamento do carnaval para trazer o melhor samba”, contou.
Processo de criação
É fundamental um texto rico de sinopse para alinhar os compositores e, assim, alcançar o melhor samba. De acordo com o carnavalesco Ulisses Bara, a ideia é sempre facilitar o trabalho dos compositores a partir do conteúdo disponibilizado.
“Quando estamos no processo do enredo e do texto, eu preciso que os compositores tenham facilidade para entender o que eu quero mostrar. Minha conversa com os compositores, principalmente com o Celsinho nesses últimos dois anos, agora entrando no terceiro, é sempre nesse sentido. Eu faço o texto em uma linguagem que o samba corresponda, que seja fácil e compreensível. Como o Celsinho mesmo diz: ‘Ulisses, pelo texto que você coloca, a gente consegue fazer o samba de uma forma como se fosse um pagode do Zeca Pagodinho’. Assim como em 2024, 2025 e agora em 2026, conseguimos manter a mesma linha de samba-enredo. Eu fiquei muito feliz e gostei demais do resultado”, declarou.
Ulisses detalhou como foi a conversa com o principal compositor do samba, Celsinho Mody. “Por exemplo: este ano, quando desenvolvi o texto, o Departamento Cultural me assessorou o tempo todo, ajudando em vários pontos. Depois que o texto ficou pronto, passei para a diretoria. Eles aprovaram e gostaram. Em seguida, passei para o Celsinho, e aí começamos a conversar. Ele respondia: ‘Beleza, quando eu tiver meio caminho andado, te mando’. E assim fomos ajustando. Ele enviava, eu lia e dava meu parecer: ‘Isso está bom, pode mexer, pode seguir’ – até chegarmos ao resultado final”, explicou.
Sobre o tema de Santo Antônio, o artista revelou que sempre quis homenagear o santo, mas decidiu engrandecer a narrativa trazendo também elementos das religiões de matriz africana. “Eu já tinha vontade de falar de Santo Antônio. O Pai Léo, do Departamento Cultural, também expressou essa vontade. Nós tínhamos alguns textos, rascunhos, e batemos o martelo. Mas não queríamos ficar apenas no catolicismo. Foi então que surgiu a ideia de trazer um ponto de umbanda, o ponto de Santo Antônio de Batalha, para destrinchar o enredo em cima dele. A história vem disso, narrada pelo Exu da Lira, que conta primeiro a devoção dele e depois a história de Santo Antônio dentro do catolicismo”, esclareceu.
Obra fácil de trabalhar
O estreante mestre Léo Bonfim opinou que se trata de um samba-enredo grandioso, com a possibilidade de explorar diversos arranjos. “É um sambaço! Temos o privilégio de contar com compositores que acompanham a escola há anos. Ano após ano, o Morro vem dando uma pedrada. Este ano não foi diferente: é um baita samba, fácil de trabalhar, bastante melódico. Já começamos a preparar novidades: mostramos hoje um spoiler com uma macumba; depois, vamos trazer uma parada no rodeio e um trecho mais forrozeado. Outra parada na parte de cima do samba também irá acontecer. Vai ter muita nuance melódica e muita coisa boa para apresentar”, concluiu.