Por Allan Duffes, Guibsom Romão, Matheus Vinícius e Marcos Marinho
A Portela definiu na manhã deste sábado o hino oficial que vai embalar seu desfile no Carnaval 2026. Por volta das 5h40, foi anunciada a vitória do samba-enredo da parceria de Valtinho Botafogo, Raphael Gravino, Gabriel Simões, Braga, Cacau Oliveira, Miguel Cunha e Dona Madalena. “O Mistério do Príncipe do Bará — A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande” é o enredo que a águia de Oswaldo Cruz e Madureira levará para Marquês de Sapucaí, quando será a terceira escola a cruzar a Avenida no domingo de carnaval, em um desfile que homenageará o Príncipe Custódio, figura histórica e espiritual da cultura afro-gaúcha do século 19. O projeto artístico terá assinatura do carnavalesco André Rodrigues. Em recuperação de uma cirurgia, o intérprete Gilsinho não participou da final. * OUÇA AQUI O SAMBA DA PORTELA

Um dos nomes vencedores da disputa da Portela, Valtinho Botafogo celebrou com emoção a vitória e lembrou das dificuldades enfrentadas pela parceria ao longo do caminho.
“Aqui é minha casa! Eu fiquei tanto tempo sem ganhar… Eu tive que reformular toda a parceria. Eu tive duas perdas na minha parceria, perdas que me deixaram um sentimento de tristeza. Mas a gente se abraçou e refez o processo. Foram anos tentando, tentando, tentando, e hoje eu me sinto abençoado. Este ano eu me dediquei à Portela, à sinopse, à explanação, a todos. Achei que este seria o meu ano. Esta é a minha terceira vitória na Portela. Muito feliz por ganhar em uma escola que é difícil, que tem uma ala de compositores com grandes nomes. Me sinto orgulhoso de estar aqui. Tenho certeza de que a gente vai pra avenida com um grande samba e com essa nova diretoria. A Portela tem que ser protagonista, tem que estar brigando”.
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Estreante em finais de samba na Portela, Raphael Gravino comemorou o título ao lado dos amigos de longa caminhada.
“Cheguei na minha primeira final, com grandes amigos, grandes parceiros. Graças a Deus conseguimos o êxito que estávamos procurando há muito tempo. A Portela merece ter um samba do quilate que ela tem hoje. Eu só sei agradecer. Muito obrigado, Portela. A minha parte favorita é ‘A chama não se apagará’. É autoexplicativo!”
Também vindo da Filhos da Águia, escola mirim da Portela, Gabriel Simões viveu uma noite inesquecível e não conteve as lágrimas ao falar sobre a conquista.
“É uma emoção indescritível, um sonho de infância. Eu, assim como meu parceiro Raphael Gravino, começamos fazendo samba na Escola Mirim. Tivemos a oportunidade de assinar composições lá e hoje estamos aqui vencendo na Escola Mãe. É uma conquista que parecia distante, mas que hoje se realiza. É a escola da minha mãe, da minha avó… estou muito emocionado, muito feliz. É, com certeza, a maior conquista da minha vida. O que mais mexe comigo é o refrão, principalmente o verso ‘A Portela Reunida Carregada no dendê’. Esse trecho traz a ideia de família, de união, da Portela quente na avenida com a essência do Bará. Isso me toca profundamente. Estou realizado por mim e pelos meus parceiros”.
‘Pode esperar uma gestão com uma equipe muito competitiva’
O presidente da Portela, Junior Escafura, viveu intensamente a noite de escolha do hino oficial para 2026. Em suas palavras, a emoção da vitória veio acompanhada do sentimento de reconstrução e da certeza de que a escola está em um novo momento.
“É um misto de ansiedade, de emoção, de realização. Mas eu acho que o mais importante é a escola estar feliz, saber que a gente está caminhando, tentando fazer o melhor pela Portela”.
Escafura destacou que o samba escolhido reflete o desejo da comunidade e reforçou a proposta de uma gestão participativa e competitiva.

“Ganhou o samba que a escola queria. O samba que os componentes escolherem, esse vai é o hino oficial da Portela para o 2026. Pode esperar muito trabalho. Uma gestão com uma equipe muito competitiva, para entregar o Carnaval que o portelense deseja e a Portela precisa fazer.”
O presidente lembrou que os protótipos apresentados pelo carnavalesco André Rodrigues foram recebidos com entusiasmo e que essa reação positiva funciona como combustível para a diretoria.
“As fantasias foram muito elogiadas. Fizemos uma apresentação bastante festejada, principalmente pelo portelense. O portelense, estando feliz, é um combustível a mais para que possamos trabalhar e saber que estamos no caminho certo. O portelense quer uma Portela luxuosa, imponente, porque é assim que se faz a Portela. E nós vamos preparar uma Portela desse jeito”.
Nilce Fran: ‘Desfile à altura da Portela’
A vice-presidente, Nilce Fran, emocionou-se ao falar sobre a gestão e os preparativos: “Hoje meu coração está emocionado e feliz. Não foi fácil chegar até aqui, mas ver a Portela linda, confiante e feliz é um sonho se realizando. Estamos cuidando muito bem da comunidade e do barracão para que a Portela possa fazer um desfile à altura dela”.
Sobre o carnavalesco e a ancestralidade do enredo: “O André Rodrigues já entendeu a força da história de Custódio, um homem que semeou religiosidade e respeito pela ancestralidade. A Portela virá arrebatadora, linda e feliz em 2026”.
Julinho Fonseca: ‘Tudo é dividido em parceria’
Responsável pela harmonia da escola, Julinho Fonseca explicou como será a preparação da comunidade após a escolha do hino e ressaltou a importância da sintonia entre os segmentos da Portela.
“Depois que escolhe o samba, nós damos uma parada, até para acertar alguns ajustes, algumas frases mal acabadas, e passamos tudo para a comunidade. Começamos com ensaio de quadra, ensaio de canto, onde acertamos toda a parte vocal, para depois levar para a rua e testar a evolução”.
Julinho também destacou a parceria com o diretor de carnaval, Junior Schall, lembrando que a relação de confiança entre os dois vem de longa data.
“Talvez muita gente não saiba, mas nós somos amigos de infância. É uma relação de direção de carnaval com direção de harmonia, mas também de vida. Nós crescemos juntos no mesmo bairro e dividimos tudo, toda a logística, todo o chão da Portela. Graças a Deus vamos permanecer por muito tempo nessa amizade e nessa parceria”.
Marlon e Squel: ‘Uma coreografia em 360 graus’
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela, Marlon e Squel, celebrou os resultados de 2025 e falou sobre os planos para o Carnaval 2026. Ele destacou a evolução da dupla ao longo dos anos e a expectativa para o próximo desfile:
“A gente conseguiu os 40 pontos, era o que almejávamos. Todo ano de estreia é complicado, mas no segundo ano conseguimos mostrar nosso trabalho com mais maturidade e sincronismo. O terceiro ano, 2026, vem exatamente com essa intenção. É uma dança mais tradicional, mesclando jovialidade e aquilo que acreditamos ser importante. Podem esperar uma coreografia ousada, técnica e emotiva, que envolva jurado e público. Vai ser mais um ano especial”.
Squel ressaltou a importância da continuidade e da preparação para manter o nível de excelência: “Uma nota 40 representa algo muito positivo. Para o próximo ano, é continuar se olhando, trabalhando e estudando para ajudar a escola a conquistar a 23ª estrela”.
A dupla ainda explicou como vai adaptar a apresentação para novas perspectivas com as cabines espelhadas: “Tudo que é novo assusta, mas é um desafio que estamos prontos para enfrentar. A nossa entrada coreográfica já está pensada para uma apresentação de 360 graus. Vamos manter essa coreografia para todas as cabines, pensando no público e no jurado”.
“Vamos trabalhar em 360, não será uma apresentação única. Precisamos adaptar o trabalho para todas as possibilidades da cabine”.
Mestre Vitinho: ‘maior bateria da Sapucaí’
O mestre de bateria, Vitinho, celebrou o enredo e a quantidade de ritmistas que estarão na avenida em 2026: “Desde que saiu o enredo da Portela dei graças a Deus, porque é muito bom falar da nossa cultura. Quando tenho um enredo que fala dos nossos ancestrais, é uma grande responsabilidade e felicidade estudar mais e conhecer nossa história. Já comecei a estudar e tenho muitas ideias para os arranjos. Estou satisfeito”.
Sobre a bateria, ele revelou surpresa e entusiasmo: “Estou muito surpreso com o que estou vivendo. Entrei com alguma dúvida, mas o novo sempre traz isso. A família Portela está acreditando no meu trabalho. Hoje estamos com 320 ritmistas liberados para desfilar, a maior bateria da Sapucaí, fora os que estão na lista de espera. É o primeiro trabalho meu com tanta gente de qualidade. Tenho que ter muito cuidado com o que vou escolher, porque todos são de excelência”.
Junior Schall: ‘A maior safra de todas as escolas’
Junior Schall, diretor de carnaval, fez um balanço do trabalho em 2025 e projetou o Carnaval 2026: “Passamos por uma eleição e estamos há pouco mais de quatro meses da administração de Júnior Escafura, Nilce Fran e Vilma Nascimento. É muito promissor termos quatro sambas de quilate elevado na final, garantindo uma disputa de alto nível. Estamos com a maior safra de todas as escolas, com 36 anos de história, abrangendo obras do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul”.
Ele falou também sobre a previsão de início dos ensaios de rua. “No início de novembro, o portelense terá uma boa surpresa com os ensaios de rua nos terreiros de Madureira, conduzidos junto da nossa comunidade. É fundamental para energia, técnica e para toda a escola”.
Enredistas explicam pesquisa
O enredista João Vitor Silveira detalhou o processo de pesquisa e desenvolvimento do enredo da Portela para 2026: “Pesquisamos muito, contando inclusive com o auxílio da professora Fernanda, para estruturar o enredo. Unimos a história do Príncipe Custódio, o negrinho do pastoreiro e o Bará, criando uma narrativa que revela a negritude do Rio Grande do Sul, mostrando sua riqueza cultural e histórica para o país e para o mundo”.
Já Marcelo Macedo destacou a importância da representação da comunidade do Sul e o papel histórico da escola: “Estamos muito felizes e emocionados com o reconhecimento da comunidade do Sul. Por muito tempo, essas pessoas foram invisibilizadas, e agora se veem representadas pela Portela. Isso reflete a tradição da escola como linha de frente no enfrentamento ao racismo no Brasil, mostrando respeito e valorização da cultura negra em todas as regiões do país”.
Como passaram os sambas na final
Parceria de Valtinho Botafogo: A disputa foi aberta com a parceria de Valtinho Botafogo e cia., sob interpretação de Pitty de Menezes. A apresentação foi intensa devido à animação da quadra, além do apoio da torcida dos compositores. O refrão principal cativou especialmente pelo verso “Portela carregada no dendê”. Além disso, o trecho “Alupo, meu senhor, alupô / Vai ter xirê no toque do tambor” envolve o público no segundo refrão. A segunda parte apresenta uma construção melódica interessante, inclusive na mudança de tom entre os versos: “DO SAMBA, A MAJESTADE EM CADA ORI / YALORIXÁ DE TODO AXÉ”. Outros versos que dão mais força ao samba são: “O PAMPA É TERRA NEGRA EM SUA ESSÊNCIA” e “ENQUANTO HOUVER UM PASTOREIO / A CHAMA NÃO SE APAGARÁ / NÃO HÁ DEMANDA / QUE O POVO PRETO NÃO POSSA ENFRENTAR!”.
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Parceria de Daiane Molet: A parceria gaúcha de Daiane Molet e cia. foi interpretada por Igor Sorriso. Um dos destaques do samba é a ponte para o refrão principal, que empolga o público, especialmente pelo bis com “VOA… COM A PORTELA AO APOGEU / LUZ DA TUA VELA A ILUMINAR E COROAR O POVO TEU!”. Já o refrão principal ganha força com o verso aguerrido “É GENTE PRETA DO RIO GRANDE DO SUL”. Na primeira parte, há um trecho cuja métrica e melodia geram certa confusão entre os versos: “ABRAÇA O RINCÃO, DESTINO DO IFÁ / BAILA A COROA, BATE FOLHA E TAMBOR / CUSTÓDIO PELEIA É ACHEGO DA COR”. Porém, a sequência “DESATA A DIFERENÇA, AMARRA O ENTREVERO / A NEGRITUDE FIRMA PONTO NO CRUZEIRO / ALUPO! (ALUPO)” tem uma condução que chama atenção positivamente, e a repetição de “Alupo” contribui para a animação do público portelense presente.
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Parceria de Toninho Geraes: A composição de Toninho Geraes foi a terceira a se apresentar nesta madrugada e foi interpretada por Tinga. O refrão principal é motivador com os versos “NA LUTA POR IGUALDADE / REENCONTRAR A HISTÓRIA / AVANTE PORTELENSE PRA VITÓRIA”. É interessante o uso de “Upa, negrinho”, repetido no início, pois faz referência à música cantada por Elis Regina com o mesmo título. A introdução da segunda parte do samba, “COMEÇO, MEIO E COMEÇO, / POIS A VIDA É CÍCLICA / O MEIO DÁ O PREÇO, E O NEGRO PAGA A DÍVIDA”, é impactante, e a sequência mantém a qualidade. Apesar do impacto textual dos versos, os refrões do meio tendem a apresentar uma leve queda de rendimento. Cabe destacar que os portelenses se mantiveram animados durante toda a apresentação da parceria.
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Parceria de Cecília Cruz: O último samba a se apresentar nesta madrugada foi composto pela parceria liderada por Cecília Cruz e interpretado por Pixulé. Um trecho que se destaca na primeira parte do samba é: “MANDINGUEIRO, UM BRUXO / CUSTÓDIO JOAQUIM, AFRO-GAÚCHO”. Já o refrão do meio possui potencial “chiclete”, por ser curto e fácil de decorar. Outra sequência de versos de impacto é: “SEM MEDO, REMENDA O VELHO ENREDO / A VELA ACESA DE ETERNO FULGOR / ILUMINA TEUS IGUAIS / A CHAMA NÃO VAI SE APAGAR JAMAIS”, embora pudesse terminar em uma crescente para o refrão principal. Por sua vez, o refrão principal se destaca pelo jogo ágil de palavras com “axé”, “sul” e “azul”, além de conectar Madureira ao Rio Grande do Sul. Por fim, a parceria não conseguiu levantar o público para além da própria torcida.
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