Por Naomi Prado e Will Ferreira
Mais uma escola do Grupo Especial apresentou o samba-enredo para o carnaval 2026. No último domingo, o Império de Casa Verde executou pela primeira vez para quem acompanha o universo do carnaval paulistano a canção que embalará o desfile de “Império dos Balangandãs: Joias negras Afro-Brasileiras”, assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza e que abrirá o sábado de carnaval no Anhembi. A obra é composta por Diogo Nogueira, Arlindinho Cruz, Evandro Bocão, Darlan Alves, Fabiano Sorriso e André Diniz. Presente nos principais eventos das escolas de samba paulistanas, o CARNAVALESCO entrevistou alguns dos principais nomes relacionados ao desfile do Império de Casa Verde para a próxima temporada, que aproveitou para fazer a Festa dos Pilotos da próxima temporada.

Elenco unido
Um dos compositores do samba-enredo do Império de Casa Verde é Fabiano Sorriso, que também é integrante do carro de som do Tigre Guerreiro. Em um grupo repleto de artistas nacionalmente conhecidos, ele destacou que tal equipe está há alguns anos contribuindo com a azul e branca: “Estamos nesse projeto desde 2022 e eu tenho que dar todos os parabéns ao meu vice-presidente Fabinho LS, com o aval do nosso presidente Alexandre Furtado. Para 2026, a gente fez uma reformulação – embora mantendo a base. Na parceria, temos André Diniz, Evandro Bocão, eu e Darlan – e, para 2026, vieram Diogo Nogueira e Arlindinho para incrementar esse momento especial”, relembrou.
Trechos marcantes
Quando perguntado qual a parte favorita do samba que ele próprio compôs, Fabiano preferiu exaltar o conjunto da obra: “Na realidade, eu gosto de todas as partes do samba. É um samba que representa as mulheres, todas as baianas pretas. Dada frase do samba é muito representativa. É uma homenagem a todas essas mulheres pretas que se vestiam de ouro com a sua ancestralidade para conquistar nada mais, nada menos que sua liberdade”, comentou.
Em outro momento, o compositor deixou escapar que uma das partes da canção, graças ao trabalho da Barcelona do Samba, comandada por Robson Campos – citado com o apelido pelo qual é popularmente conhecido: “Eu tenho que dar parabéns ao nosso mestre Zoinho, que fez esse arranjo no refrão do meio no dia em que apresentamos o samba. Ele teve essa sacada maravilhosa, eu confesso que não veio na minha mente e essas palmas ficaram excelentes e sincronizadas. Hoje, o mestre já fez aqui umas bossas e eu acredito que ele vai levar para a pista – e será a cereja do bolo do nosso samba”, destacou.
Voltando à sinopse
Ao falar da sinopse do enredo e da concepção de tais pontos no Império de Casa Verde, dois nomes são sempre lembrados: Tiago Freitas e Leandro Barboza, enredista e carnavalesco da agremiação, respectivamente. Em entrevista ao PodCarnavalesco SP, ambos falaram da conceção do enredo em questão:
No lançamento do samba-enredo, o carnavalesco aproveitou para exaltar o parceiro: “O Tiago é o meu parceiro de trabalho e de vida. Estamos desenvolvendo esse trabalho com muita energia, pois é um enredo que toca muito, tem todo esse axé”, destacou.
Outro detalhe revelado pelo carnavalesco é o desfecho da apresentação – e, por consequência, da obra apresentada: “Fecharemos o nosso desfile com o grito de liberdade das mulheres pretas, junto com a Tia Ciata, nossa matriarca do samba. Será um final de muito axé”, afirmou.
Tiago, por sua vez, preferiu relembrar quem deu a inspiração para que a temática fosse abordada: “Esse enredo veio de um grande amigo nosso, o Rodney William, um grande estudioso da cultura afro-brasileira. Ele nos sugeriu falar sobre as mulheres negras, sobre as joias de crioula, os balangandãs de Salvador. E essa sugestão foi muito importante para a gente nessa virada que nós queríamos dar em relação aos nossos enredos, falando sobre negritude e de empoderamento feminino”, exaltou.
O enredista também aproveitou para destrinchar os caminhos que balizaram todo o trabalho da agremiação: “É um enredo que tem como missão celebrar as mulheres que são joias negras afro-brasileiras. O samba de 2026 veio depois da nossa sinopse e, depois, da nossa pesquisa. Nós conseguimos desenvolver todo esse aspecto centrado no protagonismo dessas mulheres negras”, comentou.
Elogios de componentes
Rogério Figueira, popularmente conhecido como Tiguês, diretor de carnaval do Império de Casa Verde, trouxe um fato importante em relação à aceitação da comunidade quanto à canção do Tigre Guerreiro para o carnaval de 2026: “Nós achamos o samba uma pancada – tanto que caiu muito rápido no gosto do povo. Ontem nós tivemos uma apresentação na coirmã Camisa 12 e nós ainda não tínhamos cantado e apresentado o samba na nossa quadra, então não cantamos lá – mas a nossa comunidade cantou à capela ali mesmo. É um samba que teve uma aceitação muito boa não só pelo público do Império de Casa Verde, pelo nosso componente, mas pelo público do carnaval em geral. Acredito que a gente retornou aos trilhos – já que deixamos escapar um pouquinho no ano passado”, destacou.
O evento citado por Tiguês é a apresentação do samba-enredo da Camisa 12, escola do Grupo de Acesso I do carnaval paulistano – e que também teve cobertura do CARNAVALESCO.
Um dos intérpretes oficiais do Império de Casa Verde, Tiago Nascimento, estreando no microfone principal do Tigre Guerreiro em 2026 ao lado de Tinga, comparou a canção com duas outras grandes obras imperianas: “Temos um grande samba. Acredito que o Império de Casa Verde vem com um grande samba, um samba potente. Costumo dizer que ele tem a malemolência do ‘Império dos Tambores’ com a potência do samba da Fafá de Belém – dois sambas que o Império de Casa Verde levou para a avenida e que a comunidade gostou muito. Os compositores foram muito felizes em trazer essa essência novamente para o Império de Casa Verde! O que a galera sentiu aqui hoje, nesse primeiro contato, nós já pudemos perceber que o samba tem uma força muito grande. Com isso, vamos levar um grande samba para a avenida, com certeza”, comemorou.
Evento e protótipos
Como quase sempre acontece com escolas de samba, a agremiação não se limitou apenas a apresentar o próprio samba-enredo. A noite começou com a formatura da Barcelona do Samba, que se apresentou aos presentes. Logo depois, a ala musical executou o hino do Império de Casa Verde e sambas-exaltação da escola. O pavilhão de enredo, defendido pelo segundo casal, foi trocado – e, logo na sequência, a azul e branca da Zona Norte apresentou os protótipos das fantasias para o desfile de 2026.
Leandro revelou que a agremiação mudou um pouco alguns processos em relação às indumentárias: “A gente dividiu a escola em quatro setores e resolvemos diminuir um pouco o número de alas, aumentando a quantidade de fantasias e pessoas. Sendo assim, as alas terão até 80 pessoas. Teremos um visual muito maior”, comemorou.
Perguntado sobre quais são as fantasias favoritas dele, o carnavalesco elencou duas: “O público terá um carinho todo especial com a Ala das Baianas e com a nossa primeira ala. O Império, esse ano, está maravilhoso! É um dos anos mais bonitos do Império. E, além disso, estamos investindo toda a nossa energia e toda a nossa força nesse trabalho”, afirmou.
Por fim, o profissional ainda destacou que as famosas alegorias imperianas “Em 2025, sentimos um pouco de mudança no Império em termos de alegoria. Mas, em 2026, todos verão alegorias grandes e de grandes impactos. A gente vai trabalhar com muito visual nas alegorias, com o lado humano. Vai ter muito grupo cênico e faremos um grande carnaval”, finalizou.