Por Naomi Prado e Will Ferreira
O domingo (14 de setembro) frio na Bela Vista, Centro de São Paulo, teve muita agitação popular e cultural no meio da rua. Instituição mais conhecida do histórico e boêmio bairro, o Vai-Vai realizou a final da eliminatória de samba-enredo da Saracura e elegeu o samba 06 do concurso, de autoria de Danni Almeida, Vagner Almeida, Marcinho Zona Sul, Anderson Bueno, Thiago de Xangô, Mário Lúcio, Luciano Bicudo, João 10, Xavier, Cris Viana e Tião, para embalar o enredo “Em cartaz: A saga vencedora de um povo heróico no apogeu da vedete da Paulicéia”, desenvolvido por uma Comissão de Carnaval. A agremiação será a sexta a se apresentar na sexta-feira de carnaval (13 de fevereiro), no Grupo Especial da cidade.
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Sempre presente em eventos importantes para escolas de samba, o CARNAVALESCO esteve presente na final da eliminatória alvinegra, realizada na rua Rui Barbosa, no coração do Bixiga (região boêmia que não existe mais de maneira oficial nos mapas da cidade de São Paulo e é sempre exaltado pela agremiação., sendo absorvido pelo bairro da Bela Vista), e entrevistou alguns nomes para o desenvolvimento do desfile vaivaiense em 2026.
Retornado às conquistas
Um dos compositores campeões da eliminatória da agremiação, Marcinho Zona Sul resumiu o sentimento de muitos da parceria vencedora: “Cada vitória tem um gosto diferente. Essa já é a minha quarta vitória na escola, mas esse ano, especialmente, o nosso samba foi aclamado pela comunidade. Tem um gostinho diferente, porque a comunidade do Vai-Vai está precisando dessa energia e dessa união”, destacou.
Era perceptível o quanto o samba em questão, de fato, tinha a preferência da comunidade – ele foi o mais cantado enquanto se apresentava e teve boa recepção do público tão logo foi anunciado enquanto campeão, por exemplo. Em redes sociais e aplicativos de mensagens, muitos também falavam sobre a preferência por tal obra.
Marcinho, por sinal, foi o campeão das eliminatórias internas do Vai-Vai também nos anos de 2024 (“Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulista”), 2014 (“Nas chamas da Vai-Vai, 50 anos de Paulínia”) e 2006 (“São Vicente aqui começou o Brasil”).
Também na parceria vencedora em 2026 e 2024, Danni Almeida, outro compositor, começou a entrevista com a reportagem destacando um ponto de partida que trouxe algumas questões para os poetas: “Nós ficamos com uma dúvida no início: se iria ser um samba mais geográfico, sobre a cidade em si. Apesar disso, fomos para outras vertentes: falamos da luta do povo, da cidade e do pessoal que construiu a cidade”, destacou.
Danni aproveitou para elogiar a equipe responsável pela produção do desfile: “Acredito que é um enredo bem interessante e posso atestar a qualidade da sinopse. Foi tranquilo para escrevemos: nos encontramos umas três vezes e já fechamos a melodia junto com bastante parte da letra. Conversamos com a Comissão de Carnaval para ver se a gente estava no caminho certo e fomos felizes”, comemorou.
A equipe em si
Vale destacar que a Comissão de Carnaval do Vai-Vai para 2026 é composta por quatro nomes: Marcus Tibechrani, Tati Gregório, Renato Anveres e Gleuson Pinheiro. Em entrevista para o CARNAVALESCO no evento ”Carnaval de São Paulo como patrimônio: cidade, política, sociedade”, o último citado destacou a função de cada um deles no projeto: “A Tati é a enredista do Vai-Vai, assim como ela era nos carnavais anteriores, é uma continuação do trabalho – logo, a responsabilidade é dela nessa narrativa em questão. Eu e o Renato Anveres somos os responsáveis pelas alegorias – ele já era participava da direção de barracão, já tinha uma função de cuidar da realização, sobretudo, das estruturas dos carros alegóricos. Eu estou entrando para ser o responsável pelo projeto, desenvolvimento e todo o trabalho que se refere às alegorias, especificamente. Por fim, Marcus Tibechrani, o Marcão, cuida das fantasias. Essa é a divisão atual do trabalho”, detalhou.
Enredista aprova samba
Citada pelo companheiro de Comissão de Carnaval, Tati Gregório “Nós estamos muito felizes com as obras apresentadas! Percebemos que as parcerias conseguiram captar a mensagem da sinopse e a mensagem do enredo – em especial, é claro, o samba campeão”, pontuou.
A diversidade de finalista também foi comemorada pela profissional: “A gente teve, apesar de diferentes, sambas que condizem muito com o enredo, que condizem muito com a sinopse e que tem a cara do Vai-Vai. Viemos para uma final com três sambas muito bons, com três sambas de qualidade. Estamos muito felizes com o resultado desse processo de samba-enredo”, disse.
Mudanças
Em entrevista, Clarício Gonçalves, presidente do Vai-Vai, começou reafirmando o quanto a eliminatória teve alto nível: “Eu posso dizer que, dentro dessas três obras, eu agradeço primeiro a todos os compositores que fizeram alguma canção. É lógico que, dessas obras ficaram três – e, graças a Deus, todas elas estavam dentro do contexto, dentro da sinopse – e é claro que o samba campeão teve um destaque extra”, afirmou.
Pouco depois, ele fez menção a uma novidade em uma escola quase centenária: “Quem decidiu, pela primeira vez, foram os nossos jurados: é um modelo diferente, cada um representando a nossa comunidade. E, esse ano, teve um diferencial: nós ouvimos todas as alas e todo mundo opinou em relação ao samba que tem preferência. Eu acredito e digo com certeza: a voz do povo é a voz de Deus. Tenho certeza que a nossa escola foi a melhor”, comentou.
Perguntado sobre mais detalhes dessa ‘primeira vez’, o mandatário vaivaiense foi mais detalhista: “Nesta nova dinâmica que fizemos nesse ano, votaram pessoas de cada setor da escola. O diferencial que tivemos é fazer com que todos os diretores de alas e diretores de departamentos, que são lideranças, consultassem o seu grupo e vissem qual samba foi de sua preferência. Eles fizeram uma votação entre eles que, depois, foi ouvida por meio do voto de um jurado na nossa apuração final. É lógico que, dentro desse contexto, a comissão de carnaval, junto com os jurados, fez uma análise para verificar se todas as canções estavam dentro da sinopse. Depois dessa dinâmica, tenho certeza que venceu a melhor canção”, explicou.
Números para ratificar
Luiz Felipe, intérprete da Saracura, foi mais um a destacar o quanto gostou das obras finalistas e do samba campeão, mas utilizou alguns dados para se basear: “Recebemos quinze sambas, desses quinze ficaram cinco e, desses cinco, passaram os três melhores. Nossa safra de samba-enredo foi boa – melhor que o do ano anterior, diga-se. A nossa intenção é sempre essa. Estamos com três obras de nível Vai-Vai. Mas, como dizia Beth Carvalho: samba-enredo só ganha um”, finalizou.
Mais que a final
Desde a metade da tarde de domingo até o meio da noite, o Vai-Vai deu uma mostra do quanto pode mudar completamente a rotina do Centro de São Paulo. O evento foi inteiramente realizado na rua Rui Barbosa, espaço dominado por restaurantes e bares. O público, é claro, curioso, começou a tomar todo o local – tornando a festa ainda mais popular.
A primeira atração foi o pagode da ala dos compositores do Vai-Vai, seguidos pelo esquenta da bateria e com shows de segmentos – como casais de mestre-sala e porta-bandeira, destaques e comissão de frente, sempre embalados pelo sem fim de sambas-enredo e sambas-exaltação históricos da Saracura.
Também houve tempo para Rosiane Pinheiro, nova madrinha da Pegada de Macaco, bateria da agremiação, ser apresentada à comunidade; bem como para todos os presentes se despedirem de “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, samba vaivaiense de 2025; e para a troca do pavilhão de enredo acontecer.