Por Luan Costa, Matheus Morais, Juliana Henrik e Marcos Marinho
A Unidos de Vila Isabel consagrou a parceria de André Diniz e Evandro Bocão, além de Arlindinho que deve entrar na assinatura da obra, como a vencedora do concurso de samba-enredo do Carnaval 2026. O momento escolhido foi muito especial. Em acordo entre direção e ala dos compositores, um vídeo feito pelo patrono Capitão Guimarães, anunciou a vitória, por aclamação, ou seja, os sambas não precisaram de apresentaram na grande final. No próximo carnaval, a Vila Isabel levará para a avenida o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um sambista sonhou a África”, desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, com pesquisa de Vinicius Natal. A proposta presta homenagem à arte, à ancestralidade e ao samba, reverenciando a memória de Heitor dos Prazeres, um dos grandes ícones da cultura popular brasileira. * OUÇA AQUI O SAMBA-ENREDO DA VILA
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“Essa vitória significa tudo. É a minha escola de coração, essa oportunidade de falar dos que se foram. Nós estamos lembrando de todos que já se foram da escola, e isso é muito importante. Eles são a força que a escola tem. Sou muito agradecido, muito obrigado a toda a comunidade que abraçou o samba. Isso é o mais legal: Vila Isabel, vamos que vamos! Ganhei 13 sambas na minha escola, e esse samba é puro sentimento. É lembrar dos que se foram e também a alegria da escola. Na primeira vez que alguns ouviram, choraram. Então quer dizer que a gente está muito, muito feliz”, disse Evandro Bocão, ao CARNAVALESCO.

“É a vigésima vitória. Toda vez que a gente ganha eu falo: ‘cada uma é uma emoção diferente’. Esse samba tomou uma proporção enorme, a gente foi cantando e se assustando. Já na audição, eu nem percebi, estava lendo, e o Bocão falou: ‘cara, eles ficaram enlouquecidos com o samba’. E quando bateu na rede, foi incrível: é um samba anti-hater, tem duzentas mensagens e nenhuma contra. Inexplicável”, comentou André Diniz.
Galeria de fotos: final de samba da Vila Isabel para o Carnaval 2026
Ao CARNAVALESCO, André Diniz falou da presença de Arlindinho na parceria. “Eu queria comentar também uma coisa: o samba é só do Evandro e do André. A gente quis fazer um manifesto contra essas parcerias de 20, 15 pessoas. Chegou a hora do compositor voltar a ser compositor. Nós combinamos que não traríamos um ônibus, e não trouxemos. Nossa torcida foi espontânea. Quem abraçou foi a escola e a comunidade, que entravam em contato com a gente. E isso foi muito legal. Muita gente me chamou para entrar nesse samba, amigos de longa data, e eu recusei. Até o Arlindinho estava na minha casa, trabalhando no samba do Império de Casa Verde. Quando eu disse que não dava, ele pediu: ‘posso cantar um negócio que eu fiz?’. E aí ele mostrou aquele trecho de ‘todos os tons, a Vila negra’. Eu falei: ‘você acabou de entrar, só não vou anunciar agora porque preciso pedir desculpa a todos os outros que recusei’. Se a escola permitir, a partir de amanhã o Arlindinho também estará com a gente nesse samba”, revelou Diniz.
‘Um movimento em torno de um grande enredo’
Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora destacaram a força da mobilização que a Vila Isabel tem vivido desde o anúncio do enredo.
“Olha, a gente está um pouco impressionado, na verdade. Quem está aqui dentro vê festa, mas quando dá um pulo ali fora a porta da quadra está lotada, todo mundo querendo entrar. Isso é muito importante e muito bonito pra gente. É um movimento em torno de um grande enredo, que fala de Heitor dos Prazeres, do Carnaval de rua, da formação da África Pequena, da África em miniatura, como Heitor chamava. É a história da nossa cidade, do Carnaval carioca, das escolas de samba… e todo mundo quer participar. É um resultado que nos deixa muito felizes, fruto do nosso trabalho diário”, disse Haddad.
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Já Leonardo Bora ressaltou: “É difícil mensurar alegria, mas o Gabriel definiu bem esse sentimento: é muito bonito ver um enredo trabalhado com tanto cuidado, carinho e respeito. Pode parecer algo forçado, mas é justamente o contrário, é caloroso, próximo. Isso gerou uma safra de sambas maravilhosa. Quando tem samba, tem gente, tem alegria, tem vida. Estamos vendo uma final histórica: lotação máxima, todo mundo comentando a beleza do momento da Vila Isabel. Dá até um certo espanto diante de tanta força, mas ficamos muito felizes, porque é sinal de que o pré-carnaval está sendo construído com cuidado e foco. Vamos levar isso até fevereiro”.
Reencontro com Vinícius Natal
A dupla de carnavalescos também celebrou a volta da parceria com o enredista Vinícius Natal. Leonardo Bora comentou: “É um trabalho muito orgânico, porque o Vini é um grande amigo, um irmão, um parceiro não só de trabalho, mas de vida no carnaval. Ele foi parte integrante da primeira comissão de carnaval da qual nós também fizemos parte, em 2013, no Santa Marta. É uma amizade profunda. Não é apenas o contato com um pesquisador, mas com um amigo. O trabalho acontece de forma natural, horizontal, já que nós três somos apaixonados pelo carnaval e estudiosos das escolas de samba. Esse reencontro chega em um momento de mudança nas nossas vidas, mas é como se a conversa nunca tivesse sido interrompida. É uma alegria enorme construir essa narrativa com o Vini, que é neto da dona Ivanísia, uma compositora fundamental para a história da Vila Isabel”.
Impacto do samba campeão
A escolha do samba, segundo os carnavalescos, também influencia diretamente no projeto estético e dramatúrgico que será levado para a avenida. Gabriel explicou: “Sempre acontece. Em toda a nossa trajetória como carnavalescos, desde o Santa Marta até agora na Vila, o samba influencia diretamente. Quando o compositor pensa na estrutura narrativa e na melodia, nós já estamos desenvolvendo fantasias, roteiro, alegorias. Quando aparece uma imagem poética forte no samba, levamos para as alegorias e fantasias. É uma troca. Existe a interpretação do compositor e a nossa do enredo, e esse diálogo é fundamental. Se for necessário adaptar algo para se encaixar melhor ao samba campeão, fazemos sem problema”.
Preparativos para 2026
Bora adiantou que o trabalho no barracão segue em ritmo acelerado: “Toda mudança exige adaptação, mas encontramos na Vila uma escola extremamente organizada e estruturada, seja na comissão de Carnaval, direção de barracão, direção de fantasias ou direção artística. A equipe é muito coesa, o cronograma está sendo cumprido, os protótipos de fantasias estão prontos, as alegorias seguem nas etapas planejadas. O torcedor vila-isabelense pode ter certeza: a escola vem muito competitiva para brigar pelo título”.
‘Difícil tirar esse caneco da Vila esse ano’
O diretor de carnaval, Moisés Carvalho, destacou que a nova fase da escola começou ainda no lançamento do enredo e ressaltou a força do projeto para 2026. “Na verdade, a vinda do Gabriel Haddad e do Bora, junto com o encontro do Vinícius Natal, que já estava na escola, um querido, amigo, parceiro, acabou trazendo esse resgate que a gente sempre buscava. O presidente sempre falava: ‘precisamos de um enredo que fale da história da Vila, com a cara da Vila’.
Segundo Moisés, a escola vinha se destacando tecnicamente nos últimos carnavais, mas ainda não encontrava a mesma força em samba e enredo. Esse quadro, na avaliação dele, mudou a partir do anúncio do enredo deste ano. “A gente sempre batia na trave na parte de samba e de enredo. Tecnicamente, a Vila sempre vinha muito bem, mas faltava essa força. Acho que com a chegada do Gabriel, do Bora, com a junção do Vinícius e a escolha desse enredo, tudo mudou. Na verdade, isso aconteceu desde o dia do lançamento lá na Pedra do Sal. A gente sentiu aquela energia”.
Para o diretor, até mesmo a final, que terminou em aclamação, seguiu esse espírito inovador e orgânico.
“O samba do André Diniz brilhou numa safra excelente. O cara, junto com Bocão e Arlindinho, quando acerta a mão, sai fora da curva. E aí pensamos: ‘o que vamos fazer na final? Não tem mais o que inventar’. Foi uma coisa orgânica. Conversamos com o presidente, com a ala de compositores, todos aceitaram a dinâmica. E deu no que deu”.
Moisés afirma não ter dúvidas de que a escola entra na temporada de 2026 muito fortalecida e com um samba à altura de sua tradição.
“Tenho certeza que a Vila vem muito bem, tecnicamente forte, com um samba que eu não via aqui desde 2013. Posso estar sendo otimista ou puxa-saco, mas não lembro de, nos últimos anos, um samba gerar tanta unanimidade e comoção no carnaval carioca. A comunidade já fez a parte dela. Não tem mais vaga pra ninguém: nem em carro, nem em chão, nem em destaque. Está tudo preenchido. Vamos vir fortes no ensaio técnico e no desfile. Acho difícil tirar esse caneco da Vila esse ano”.
‘Escola está olhando para dentro de si’
Pesquisador e enredista do projeto, Vinícius Natal falou sobre o ambiente vivido pela Vila Isabel neste momento. “A expectativa é a melhor possível. Estamos vivendo um clima que há muito tempo a gente não vivia. É um clima que a escola está olhando para dentro dela mesma. A escola está se reencontrando na sua própria história e com suas raízes do samba. É um clima maravilhoso. Estamos trabalhando bastante no barracão e na quadra, e de degrau em degrau, em busca do campeonato que a gente tanto sonha”.
Reencontro com Bora-Haddad
Vinícius também comemorou a retomada da parceria com os carnavalescos. “O Léo e o Gabi são amigos de longa data. Nós trabalhamos durante muito tempo juntos, desde o último grupo da Intendente Magalhães até o Especial. Voltar a trabalhar junto é muito bacana porque a gente tem uma afinidade muito grande. Acho que quando isso acontece, é meio caminho andado para o sucesso acontecer”.
Força do samba na narrativa
Para Vinícius, o samba é peça-chave na consolidação do enredo na avenida: “O samba é fundamental. Eu sempre costumo falar que o enredo tem várias camadas de entendimento. A mesma camada de entendimento que o público vai ter assistindo é um pouco diferente do que o jurado vai ter, que é diferente do que os compositores terão. O enredo é a soma dessas diferentes formas dele ser entendido. E o samba é a trilha sonora. Não existe escola de samba sem samba. Então, o samba é fundamental para o sucesso da história que será contada”.
Retorno de Raphael e Dandara
Outro destaque para 2026 é o retorno do casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael e Dandara. “O convite surgiu de forma natural. A escola vinha querendo renovar alguns quesitos e temos a ligação com a escola, somos de casa já. Ficamos muito honrados e felizes, e aceitamos esse desafio. Voltar para casa tem o seu peso, mas está sendo um lindo desafio”, disse porta-bandeira.
Raphael destacou o amadurecimento da dupla neste retorno: “Nós dois vivemos momentos diferentes na Vila Isabel e, agora, estamos mais amadurecidos para essa parceria, que vem se solidificando a cada dia. Estamos nos conhecendo mais, trazendo mais tradição na nossa dança e mostrando o que Raphael e Dandara têm a oferecer”.
Dandara complementou: “A gente, em momentos diferentes, viveu eras de transição na escola. Hoje acredito que a escola está mais estruturada e organizada, com uma diretoria e presidência que estão buscando o campeonato. Buscando estar onde a Vila Isabel merece estar. É lindo chegar nesse momento e continuar construindo essa história de sucesso”.
A porta-bandeira também destacou o alinhamento do casal com a proposta artística da escola: “É um ano em que o carnaval está se transformando, estamos entendendo como vai ser o julgamento e como vai ser todo o trabalho para 2026. Já estamos trabalhando junto com eles e com toda a escola para entender essa nova proposta de julgamento e construir o trabalho. Espero que a gente possa entender bem o que está sendo pedido e executar da melhor forma para que a escola venha à altura do que esse ano representa para a Vila”.
‘O samba impulsionou muito a escola’
O intérprete oficial da Vila Isabel, Tinga, relembrou o título de 2013 e comparou com a expectativa para 2026, destacando a força do samba na trajetória da escola.
“Em 2013 a gente tinha um grande samba, como em 2012 também, e a Vila Isabel em 2013 tínhamos certeza que se fizéssemos um grande desfile, a gente poderia ganhar o Carnaval, com respeito sempre a todas as coirmãs, que todas vão para a Sapucaí para ganhar o carnaval. Mas a Vila Isabel conseguiu fazer um grande desfile. O samba impulsionou muito a escola, a Sapucaí toda cantava o samba da Vila e eu acho que 2026 não vai ser muito diferente disso não. O carnaval tem uma magia muito grande, a gente pensa que vai acontecer uma coisa, chega na hora não acontece ou vice-versa. Mas eu tenho certeza que a gente está muito feliz desde que saiu o enredo. E hoje a gente tem um grande samba. Posso dizer que os compositores entenderam o samba da escola, entenderam que o samba do André Diniz era o samba da escola. Está tudo acontecendo perfeitamente, só todo mundo unido em busca desse título tão sonhado que não vem desde 2013, mas a gente vai trabalhar bastante para chegar no nosso objetivo”.

Questionado sobre o papel do samba de 2026 nos ensaios e na preparação para o desfile, Tinga ressaltou a importância do trabalho da comunidade para levar a escola ao pódio.
“É ensaiando. Se Deus quiser, a comunidade vai ensaiar forte. E ela está feliz, com o samba, com o enredo, é trabalhar bastante para chegar quase à perfeição, para a gente poder chegar lá no dia e dar o nosso recado, e, se Deus quiser, ser consagrado campeão do carnaval”.
‘Toda a nossa comunidade queria muito esse samba’
O mestre de bateria da Vila Isabel, Macaco Branco, celebrou a escolha do samba de André Diniz como uma aclamação histórica da comunidade.
“Ah, foi uma aclamação! Toda a nossa comunidade queria muito esse samba, que é um samba que emociona todo mundo que é Vila Isabel. É um samba que está vindo para ficar na história e tenho certeza que isso vai ajudar muito a Vila Isabel para a briga do título de 2026. A Vila Isabel está em êxtase com a escolha. A quadra toda veio abaixo e não tem consagração maior do que a nossa comunidade escolher o samba. É uma coisa inédita no carnaval, uma aclamação de um samba assim numa final. É uma aclamação de um dos melhores sambas da história da Unidos de Vila Isabel”.
Macaco Branco também comentou sobre a relação do enredo com a musicalidade afro, ressaltando a importância de Heitor dos Prazeres como referência histórica e cultural.
“O enredo pede muito o Afro. Um samba que tem muito a ver com o Afro. Heitor dos Prazeres foi um cara que implantou muito as músicas antigas Afros nas rádios nacionais, lançando discos, em uma época quando existia muita censura. A galera não respeitava muito a nossa religião de matrizes africanas e ele foi um cara que foi uma resistência dentro de uma época. Ele fez o carnaval ser o que é hoje, contribuiu na fundação da Mangueira, da Portela, da Deixa Falar, que hoje é Estácio, e da Vizinha Faladeira. Ele é um cara que inventou o pavilhão de escola de samba. Ele é um cara que ajudou a implantar, foi o primeiro cara a ganhar um concurso de samba de enredo. É um cara que tem todo o gabarito e merece toda essa homenagem da nossa Vila Isabel”.
Sobre a sonoridade da bateria para o próximo carnaval, o mestre revelou a intenção de unificar os instrumentos para celebrar a memória de Heitor dos Prazeres.
“Todos os instrumentos da Vila Isabel vão ser um único tambor para poder saudar e consagrar Heitor dos Prazeres em tintas e tambores, vambora”.
Musas da comunidade
Além da decisão do samba, a escola fez a final do concurso Musa da Comunidade de 2026. As finalistas são Yasmin Lima, Juliana Moraes e Ciça Ferreira foram escolhidas para integrarem o grupo.