Por Gustavo Lima e Will Ferreira
Das temáticas mais celebradas do carnaval de São Paulo em 2026, “A Bruxa Está Solta – Senhoras do Saber Renascem na Colorado”, enredo assinado pelo carnavalesco David Eslavick e pelo enredista Thiago Morganti, ganhou, oficialmente, o samba-enredo para desfilar na Colorado do Brás. Segunda escola a desfilar na primeira noite do Grupo Especial (não por acaso, uma sexta-feira 13), a canção da escola foi apresentada à comunidade e ao mundo do samba pela primeira vez neste domingo (24 de agosto), na Associação Portuguesa de Desportos, no bairro do Canindé, e tem assinatura de Léo do Cavaco, Thiago Meiners, Cláudio Mattos, Sukata, André Valencio, Vitor Roblanco e Tubino. Com muito investimento em dança, arte e teatralização, o evento teve a presença do CARNAVALESCO, que traz a palavra de importantes nomes da escola do Centro de São Paulo.
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Fora da caixinha
Desde quando foi anunciado, o enredo da Colorado do Brás para 2026 chamou atenção pela originalidade. Tal característica foi, à priori, um desafio para os compositores – mas, depois, eles identificaram o quanto as bruxas engrandeceram a canção. Léo do Cavaco, um dos compositores da obra e intérprete da instituição, explica: “Confesso que para gente foi um desafio, mas no bom sentido. Na minha concepção é um grande enredo, completamente diferente de tudo que a gente vinha experimentando aqui na escola”, comentou.
A internet, novamente, foi uma grande aliada dos compositores, de acordo com Léo: “Foi um processo tranquilo, é a mesma parceria do ano passado. Entraram mais dois parceiros esse e fizemos os sambas em duas, três reuniões online, porque uma parte da parceria mora no Rio, eu estou em São Paulo e tem o Tubino que é de Porto Alegre. A escola deu todo o respaldo e acho que o resultado ficou maravilhoso”, destacou, aproveitando já para falar da dinâmica de criação da composição.
André Valêncio, outro compositor da parceria, celebrou o resultado final e a confiança da escola nos autores: “É uma parceria grande, graças a Deus! A gente fica feliz de a escola acreditar nas nossas composições. É um trabalho que vem sendo feito há um tempo. Nós fazemos os sambas da Colorado há alguns anos, também já disputamos e tivemos derrotas e vitórias. A escola confiou na nossa capacidade e deu essa oportunidade para a gente. É uma obra linda que todos saíram felizes”, comentou.
O desafio de escrever um samba-enredo sobre bruxas também foi descrito por André: “Já teve outros temas de terror no Rio de Janeiro – que foram aclamados, inclusive. Quando você foge um pouco dos temas afro dos temas ou mais religiosos, é um desafio maior – mas a gente se identificou bastante e conseguimos fazer uma obra bem bacana”, comemorou.
Preferências e ajustes
Para Léo do Cavaco, estar na composição e no microfone principal da agremiação ajuda o carro de som da Colorado do Brás: “Ser um dos compositores ajuda muito na questão de poder já construir o samba para a minha voz. Não que se tivessem eliminatórias não daria certo, porque também aparecem grandes sambas. Mas, nesse caso, a gente faz pensando não só na escola, mas para eu cantar em uma região que seja confortável e para não ter que mudar muito o jeito de trabalhar a obra”, comentou.
O compositor e intérprete aproveitou para falar qual a parte favorita dele do samba-enredo: “Eu gosto do samba inteiro, acho que é um samba muito forte, mas eu tenho certeza que o refrão vai pegar bastante. ‘Vem ver, vai ferver o caldeirão, tem magia nesse chão, onde a bruxa é rainha, Rio Vermelho é fogo de enfeitiçar pra Colorado afastar as armadilhas’. Acho que isso vai grudar na comunidade e no povo do samba”, comentou.
Mais que satisfação
Nada mais natural que a encomenda do samba-enredo traga felicidade para a escola que efetuou tal ação. Em relação à canção da Colorado do Brás para 2026, porém, os compositores foram além. Jairo Roizen, um dos diretores de carnaval da agremiação, explica: Esse é meu décimo carnaval na Colorado e eu sempre fiquei feliz com os nossos sambas. Mas esse é diferente e especial. Ontem, quando o Léo me mandou a versão final da gravação, aconteceu algo que não ocorria comigo há muito tempo: eu chorei ouvindo”, emocionou-se o dirigente.
De acordo com o diretor, inclusive, há uma semelhança entre a temática e a agremiação: “Estou com uma expectativa muito alta para esse carnaval, e para o que esse samba vai proporcionar para a história da Colorado do Brás. É uma agremiação tradicional de 50 anos, mas que passou por momentos não muito bons. Já teve momentos de ser injustiçada e ser caçada, como se fosse uma bruxa. Já ouvi pessoas perguntando como a Colorado chegou em tal colocação ou até mesmo quem era a escola, mas esse samba vai proporcionar algo diferente para a história dessa escola de 50 anos”, refletiu.
Sintonia
Antônio Carlos Borges, popularmente conhecido como Ká, presidente da Colorado do Brás, destacou o compositor que também faz parte do corpo da agremiação para elogiar a obra: “Eu gostei muito desse samba, o Léo teve a delicadeza de, mais uma vez (porque no ano passado já tinha sido assim), ter a percepção, o cuidado, o carinho e me ouviu. Os erros pontuais que eu destaquei foram abraçados e respeitados. Por mais que eu não seja compositor, eu sou sambista, tenho ouvido e ele respeita muito esse meu lado”, revelou.
Como não poderia deixar de ser, o principal mandatário da escola aposta na obra: “É um samba que vai crescer muito. Esse pontapé foi dado e pode esperar que vai ser muito funcional e vai ter uma repercussão muito legal. Eu tenho certeza absoluta”, destacou.
Mais elogios
Outros nomes importantes da agremiação elogiaram a obra da escola. David Eslavick, carnavalesco da instituição, tinha altas expectativas – e todas elas foram cumpridas: “Eu estava muito ansioso pelo samba. Acho que deveria ser uma obra que me arrepiasse, que mexesse comigo e que eu pudesse realmente identificar que estava passando tudo que eu queria contar na avenida. Graças a Deus eles conseguiram alcançar tudo com uma riqueza de detalhes. Os compositores tiveram a felicidade de retratar fielmente como será a nossa história. Eu estou curtindo demais. É um samba que vai mexer com todo mundo, assim como mexeu comigo”, comemorou.
Responsável pela Ritmo Resposta, bateria da agremiação, mestre Acerola de Angola destacou as vantagens que a ausência de eliminatórias traz para a escola de samba: “Mais um ano com o samba muito bom. Parece que a escola aderiu ao processo de fazer o samba fechado – que a gente chama de encomendado. Ficou muito legal, é o que a gente gosta e é o que a gente quer. Faz de novo, mexe na letra para ficar cada vez melhor… o samba ficou do jeito que a gente queria! Pode esperar que a Colorado do Brás vai ter uma das melhores obras do carnaval”, finalizou.
Atrações diversas
Com almoço servido entre 13h (horário em que os portões na Portuguesa foram abertos) e 16h, o evento teve dois shows para esquentar a comunidade. Primeiro, o cantor sertanejo Cícero Lima; depois, o grupo de pagode Amigos da Colorado – com Ká, presidente da agremiação, no vocal e no tantã.
O show da bateria começou logo na sequência, com o esquenta da Ritmo Responsa – bateria da agremiação. Alguns novos nomes de impacto na agremiação também foram apresentados: Fabi Frota, nova musa e destaque da escola, foi uma delas. Depois, a nova corte da bateria, com Talita Guastelli como rainha e Bruna Costa como madrinha, também foi apresentada. Ao som de grandes sambas da agremiação, segmentos como o quadro de casais de mestre-sala e porta-bandeira e passistas se apresentaram.
Ao longo de todo o evento, chamou atenção a quantidade de momentos em que a Colorado do Brás apostou na arte para entreter e se fazer compreendida. O ponto alto de tal ato foi o anúncio do samba-enredo – que teve, de maneira integrada, uma apresentação na temática da agremiação, repleta de bruxas, inteiramente concebida por Paula Gasparini, coreógrafa da comissão-de-frente da agremiação.