Por Lucas Sampaio e Naomi Prado
A encruzilhada da Ipiranga com a Avenida São João fez bater mais forte o coração da Nenê de Vila Matilde, que realizou uma final de samba-enredo memorável no último domingo, em preparação para o Carnaval de 2026. A obra que apresentará o enredo “Encruzas: Nenê de Corpo e Alma no Coração de São Paulo” foi composta pelos autores Leandro Neguinho, Victor Rangel, Guerra, Deco, Herval, Daniel Paixão, Jonathan Tenório, Gigi da Estiva e Rene Barbosa. A final aconteceu exatamente no local que inspira o enredo, em um palco montado em frente ao clássico Bar Brahma, que teve participação ativa na organização do evento. A parceria da Nenê de Vila Matilde com o bar busca contar a história do “coração” de São Paulo no Anhembi.
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A comunidade da Zona Leste marcou presença no centro da capital e vibrou essa união como se estivesse em sua própria quadra. A escola apresentou seu tradicional repertório, com a participação de seus segmentos e a presença especial do lendário intérprete Baby. A festa da Azul e Branco também contou com a participação da coirmã Vai-Vai, que abriu a noite em uma demonstração de harmonia entre dois dos mais tradicionais pavilhões da folia paulistana. As três parcerias finalistas se apresentaram por meia hora cada, diante não apenas de suas torcidas, mas também de um público que foi se juntando para viver uma experiência única no coração de São Paulo. O CARNAVALESCO conversou com representantes do projeto da Nenê de Vila Matilde para 2026, trazendo um panorama sobre o hino escolhido e o que o mundo do samba pode esperar neste ciclo.
Homenagem a São Paulo na caneta carioca
A parceria vencedora, de número 77 no concurso, é inédita no carnaval de São Paulo. Os compositores cariocas ousaram ao criar uma obra que homenageia a capital do outro lado da Via Dutra. Um dos responsáveis pela construção da obra, Jonathan Tenório, celebrou a vitória: “É uma felicidade enorme ter ganhado essa disputa, principalmente por ser meu primeiro ano como compositor e o primeiro ano dessa parceria no carnaval de São Paulo”.
Herval Neto, outro integrante do grupo, destacou o trabalho coletivo e dedicou a conquista à mãe: “Cada integrante da parceria colaborou um pouco. Nós temos um grupo que faz samba para algumas escolas e é a primeira vez que estou colocando samba aqui na Nenê, na verdade é a nossa primeira vez em São Paulo. É uma felicidade incrível e eu queria dedicar essa conquista para minha mãe, que sofreu um acidente nesta quinta-feira. Essa vitória é para ela”.
Maior rigor em busca da nota máxima
Considerando as notas do último carnaval, o carnavalesco Danilo Dantas ressaltou a importância do processo de escolha do hino que embalará a Águia da Zona Leste em 2026:
“Com o critério de julgamento cada vez mais rígido em São Paulo, não temos muita escolha senão encontrar o samba que mais se adequa ao enredo, tanto na melodia quanto, principalmente, na letra. Ano passado fomos penalizados nesse quesito, então tivemos muito cuidado. Das pessoas que analisaram, todas ligadas à direção da escola, esse foi o samba mais escolhido. Como carnavalesco, tenho que respeitar a decisão da escola”.
Ele também destacou como a obra se encaixa no processo de montagem do desfile: “Acho que esse samba já captou de imediato o espírito do enredo. Quando fala da mais famosa esquina do país, quando cita a Sampa, quando exalta São Paulo, a maior cidade do país, ele se conecta diretamente com o meu desfile. Na verdade, é um complemento: samba e enredo caminham juntos para dar certo”.
Para 2026, a Nenê aposta em uma nova voz para liderar o time de canto. O intérprete oficial Alessandro Tiganá comentou sobre sua estreia e o contentamento com o hino escolhido:
“Eu só tenho a agradecer e dizer à comunidade que não vai faltar empenho e dedicação. Se tiver que dar cambalhota na Avenida, eu vou dar para que tenhamos sucesso e o resultado desejado. Quanto ao samba para 2026, podem ter certeza de que darei o máximo. O samba 77 foi o campeão e é o que a comunidade escolheu. Não podemos entregar menos do que ela exige. A obra conta lindamente o enredo proposto pelo nosso carnavalesco e vamos com tudo para o Anhembi”.
Sonho de voltar ao Grupo Especial
O presidente Rinaldo Andrade, o Mantega, falou sobre a importância do quesito samba-enredo e a esperança da Nenê de Vila Matilde em retornar à elite do carnaval paulistano:
“A Nenê tem feito carnavais incontestáveis e, no último, fomos mal julgados justamente no samba-enredo. Se não fosse isso, estaríamos no Grupo Especial. Mas estamos lutando. O que faremos? Um grande carnaval novamente. Vamos apresentar um desfile bem defendido, dentro dos critérios de julgamento, e torcer para não errar. As escolas entram com nota 10 e vão perdendo ao longo do desfile. Nossa meta é não errar, fazer um grande espetáculo e sermos campeões, respeitando as demais escolas. O carnaval de São Paulo está em alto nível, muito competitivo, e esperamos alcançar a vitória”.
O dirigente também explicou a dinâmica da escolha do hino: “Nós temos um grupo de diretores que entende os critérios de julgamento. Em um concurso de samba-enredo, letra e melodia precisam estar adequadas ao enredo. Esse samba se mostrou mais alinhado, na minha opinião e na da maioria da diretoria. Não houve acordo, foi direto: pega a pasta, vê o resultado e acabou. Todas as alas e setores da escola estiveram representados. Foi o samba que escolhemos, e é com ele que vamos para a Avenida”.