Por Gustavo Lima e Lucas Sampaio
Na noite do último sábado, a Dragões da Real escolheu o samba-enredo que irá embalar o desfile do Carnaval 2026. A decisão aconteceu na “Caverna do Dragão”, sede da escola localizada na Vila Anastácio, Zona Oeste de São Paulo. A grande final reuniu duas parcerias: o samba 2, de autoria solo de Pedroca, e o samba 4. A disputa foi acirrada pela alta qualidade das obras, mas o samba abraçado pela quadra se consagrou campeão. A parceria de Renne Campos, Márcio Bijú e Alemão do Pandeiro foi a segunda a se apresentar e fez a festa da comunidade. No anúncio oficial, o presidente Tomate agradeceu a todos os concorrentes e ressaltou a importância dos concursos de samba-enredo no carnaval paulistano. Após o grito de guerra do intérprete Renê Sobral, a quadra explodiu ao som do samba vencedor. Com o tema “Guerreiras Icamiabas – Uma lendária história de força e resistência”, a Dragões da Real será a terceira escola a desfilar na sexta-feira de carnaval.
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Os desafios de uma parceria curta
Nos dias de hoje, não é comum uma parceria vencedora contar com apenas três compositores. Curiosamente, a outra obra finalista também tinha autoria reduzida, com apenas um compositor. De acordo com Márcio Bijú, a força de vontade foi fundamental para o sucesso.
“O desafio é esse: pouca gente para fazer e três compositores que realmente se dedicam a escrever o samba, que se prontificam a confeccionar bandeira e a fazer absolutamente tudo. Foi um processo desafiador demais, mas feito com muito amor, entrega e emoção”, afirmou.
Renne Campos, agora oficialmente o maior campeão de sambas na história da Dragões, comemorou exaltando os companheiros:
“A parte de composição é até mais fácil, porque você tem ideias mais compactas. Além de compositores, somos três amigos do peito, e isso facilita muito o processo. Temos um propósito dividido em três pessoas. Ele não é feito em onze, dez ou oito. Essa foi a nossa premissa este ano na disputa da Dragões”, destacou.
Já Alemão do Pandeiro ressaltou o aspecto técnico: “Às vezes, é melhor ter poucas pessoas pensando – assim há menos debates e todos caminham para o mesmo rumo. Três boas cabeças bem-intencionadas conseguem ajeitar melhor as ideias e desenvolver um samba que, graças a Deus, alcançou tamanha qualidade”, declarou.
Uma obra valente
Pela primeira vez em sua história, a Dragões da Real levará um enredo indígena à avenida. O samba vencedor traz diversas palavras da língua tupi.
Renne Campos destacou alguns trechos: “É um samba esplêndido, muito completo. Eu sou apaixonado por várias partes. Quando ele fala de ‘Onça Silva’, por exemplo, é uma sacada superinteligente. A própria saída do samba, o refrão do meio, é muito valente. O ‘Aruê Angá’, que é um falso refrão, tem uma melodia interessante também. É um samba maduro, que muda o contexto do que a Dragões já fez”, refletiu.
Márcio Bijú elogiou a chegada de Alemão do Pandeiro à parceria: “Esse processo foi muito interessante. Ano passado estávamos em dois, e agora o Alemão chegou para somar. Um cara iluminado. Quando o enredo foi anunciado, o Renne já trouxe a ideia inicial do samba, que é o ‘cunhaê’. Depois desenvolvemos juntos e veio o ‘Juremê, Juremá’, que foi fortíssimo. Cada um contribuiu com uma parte importante, e o samba aconteceu”, contou.
Escolha correta e uma nova característica
O presidente Tomate exaltou a qualidade dos dois sambas finalistas e destacou a decisão da comunidade: “Sem demagogia nenhuma, tínhamos dois sambaços na final. De linhas diferentes, mas riquíssimos em letra e melodia. Este ano optamos por uma linha distinta do que a Dragões vinha apresentando nos últimos anos. Eu tenho certeza de que, com qualquer um dos dois, a escola estaria muito bem servida. Mas, quando demos o grito para o público e vimos a reação, tivemos certeza de que a escolha foi correta. A Dragões vai cantar e abraçar tudo o que esta diretoria e a comunidade fizerem. Se Deus quiser, em 2026 teremos um resultado ainda melhor”, afirmou.
Samba ideal para exaltar as Guerreiras Icamiabas
O carnavalesco Jorge Freitas também celebrou a escolha. Ele ressaltou a fidelidade da letra ao enredo e a força da mensagem:
“Temos a certeza de que escolhemos uma grande obra que vai empolgar nossa comunidade e o público. Esse samba será um grito de resistência pela preservação da Amazônia e pelo empoderamento feminino. As Guerreiras Icamiabas, através de sua ancestralidade, lutarão por essa preservação. Vamos transformar o Anhembi em palco de voz para nossas mulheres guerreiras”, destacou.
Como músico, Freitas analisou a melodia: “É uma melodia empolgante, com frases métricas que não caem em nenhum momento. Tem o descanso do respiro e volta com toda a energia. As palavras são muito bem colocadas e cumprem os critérios de julgamento. O fundamental é ter uma melodia pulsante que faça o componente transferir emoção para a arquibancada. Temos um samba com linha poética perfeita e narrativa bem contada”, completou.
Grande final com vencedor de alto nível
O intérprete Renê Sobral enalteceu a participação da comunidade: “A final foi grandiosa. Quando colocamos o público para cantar, vimos que eles cantaram muito bem os dois sambas, mas o vencedor tinha mais força. A comunidade cantou o samba inteiro, não só o refrão, e isso mostrou que o povo abraçou a obra”, ressaltou.
Sobral também destacou a riqueza do samba: “Não é um samba clichê, não tem oba-oba. É histórico, educativo e traz entrelinhas políticas, de empoderamento feminino e proteção da natureza. Quanto mais você canta, mais ele remete à Amazônia. Arrepia muito!”, afirmou.
Apresentações
Os finalistas se apresentaram na ordem dos números. O samba 2, de Pedroca, levou grande torcida com bexigões em preto e vermelho, além de uma encenação coreográfica indígena à frente dos apoiadores. O palco foi comandado pelo intérprete Luiz Felipe e contou com efeitos pirotécnicos.
O samba 4, campeão da noite, mobilizou ainda mais a quadra. Torcedores levaram bexigões laranjas e integrantes coreográficos. No palco, os intérpretes Fredy Vianna, Emerson Dias, Carlos Jr. e a cantora Keila Regina levantaram o público. O refrão principal é explosivo e já desponta como promessa para fazer história em 2026.
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