A Unidos de Vila Isabel realizou, na última sexta-feira, mais uma etapa de sua eliminatória de sambas-enredo para o Carnaval 2026. O enredo “Macumbembê, Samborembá. Sonhei que um sambista sonhou a África”, idealizado por Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos estreantes na agremiação, gerou uma excelente safra com obras de muita categoria. Tal qualidade foi vista na quadra em ótimas apresentações, com ao menos três sambas de grande destaque na noite. Abaixo, o CARNAVALESCO apresenta a análise de cada obra na disputa.
* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp
Parceria de André Diniz: Abrindo a noite, o samba da parceria de André Diniz e Evandro Bocão teve Wander Pires à frente do palco. Uma obra de construção melódica impecável, que rendeu muito bem na quadra sob a condução de Wander, mostrando grande adesão do público presente. A apresentação teve vários trechos marcantes, como o refrão central “um ogã alabê, macumbeiro; a fumaça do cachimbo, preto-velho soprou; encanto da gira, da roda de bamba; poesia da curimba, batuqueiro e cantador”, além dos versos “de todos os tons, a Vila negra ê; de todos os sons, a negra Vila é”. A inversão de palavras deixa o trecho fluido e com efeito de refrão no canto dos componentes e da torcida. Um samba que parte com bastante força na disputa.
Parceria de Ricardo Mendonça: O samba da parceria de Ricardo Mendonça, Diego Nicolau, Deco Augusto, Guilherme Karraz, Marcão, Vitor Marques, Miguel Dibo e Gigi da Estiva foi defendido por Charles Silva e Evandro Malandro. Uma obra com diversos versos em tons maiores, como o refrão de cabeça, todo em tom maior, que puxou o canto para cima — um desafio cumprido com competência pela dupla de intérpretes. Mais um samba de muita beleza e com passagens inspiradas, como em “o azul Vila Isabel de lindos traços, no painel que me refaço, são rabiscos de saberes”. A obra foi bem recebida pela quadra, com uma torcida numerosa e afinada. Outra apresentação de ótimo nível.
Parceria de Cláudio Mattos: A parceria de Cláudio Mattos, Ribeirinho, Markinho da Vila, Didi Tupinambá, Américo, R. Zimmermann, Robson Bastos, Domingos PS e Carlinhos Niterói teve seu samba defendido por Igor Vianna. A obra levou um bom número de torcedores que fizeram uma bonita festa com bandeiras e balões, mas o canto foi perdendo força ao longo da apresentação. Apesar disso, tecnicamente, o samba teve bom rendimento, sustentado por Igor. O refrão central se destacou pela força, com os versos “chama o alabê-nilu, que o tambor também é escola, como dizem naquela história, na curimba não cabe só um, sobe fumaça, cachimbo está aceso, na gira do seu terreiro, é ogã de Xangô e D’Oxum”.
Parceria de PC Feital: A parceria de PC Feital, Gustavinho Oliveira, Thales Nunes, Danilo Garcia, Gabriel Simões, Hugo Oliveira, Telmo Augusto e Washington Motta teve Rafael Tinguinha como intérprete. Sentindo-se em casa, o cantor brilhou e contribuiu para mais uma grande apresentação da noite. Os dois refrões são pulsantes e passaram muito bem, sobretudo o de cabeça: “Toca macumba, aqui é casa de bamba, toca macumba, é o povo do samba a cantar, é Heitor o sonho que eu sonhei, em Vila Isabel é lei: jamais deixar de sonhar”. A primeira parte se inicia de maneira lírica, com versos que dialogam com Heitor dos Prazeres como em uma conversa direta: “Prazeres, há muito tempo estou querendo te encontrar, pra dizer que eu me vejo refletida em seu olhar”. Apesar de em menor número, a torcida cantou forte durante toda a passagem. No início da última rodada, os intérpretes não acompanharam os versos iniciais por acharem que a apresentação havia terminado, mas o deslize não comprometeu o resultado geral.
Parceria de Moacyr Luz: A parceria de Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Inácio Rios, Márcio André Filho, João Martins, Dani Baga e Igor Federal foi defendida por Bruno Ribas. Um samba mais enxuto, que fluiu bem, mas sem desempenho arrebatador devido a pequenos momentos de travamento, como na transição para a segunda parte: “Lá vai saudade, o morro na velha moldura, da minha África em miniatura, do tio Hilário e o parceiro Noel”, trecho em que a melodia apresenta uma virada mais brusca. A parte final, com o falso refrão “Macumbembê, samborembá, ‘sonho de um sonho’, seu moço, a luz que vem de Dakar, Macumbembê, samborembá, samba é macumba e macumba é samba”, seguida do bis em “ôôôôôôôô”, foi o ponto alto da apresentação, embalado por uma torcida afiada.
Parceria de Juju Ferreirah: O samba de Juju Ferreirah, Laudicéa Rodrigues, Maria Clara, Euza Borges, Eliza Barro e Silvinha Melonio foi defendido por Clara Vidal, Ladjane Motta e Julia Castro. Maria Clara encerrou a noite com uma passagem agradável de um samba bastante melódico, que teve uma bonita segunda parte com versos como “faz! Vem de mãos dadas com as cabrochas que nos tornam mais, chama a rua e pinta o sonho eterno de direito e paz, tia Ciata te educou, no sagrado iniciou, Obanisê Kaô! Okê arô”. O refrão de cabeça passou de forma fluida, mas o trecho central, que traz mudança de versos na repetição, se destacou ainda mais: “Macumba macumbembê no samba samborembá, gira a saia da baiana quero ver kizombear, macumba macumbembê no samba samborembá, vim fazer a aliança, sou o povo da esperança, quero ver kizombear”. Um belo fechamento para mais uma etapa de alto nível.