Organizadores do Carnaval em todo o Brasil olham com atenção para uma proposta legislativa que pode impactar significativamente os patrocínios das festas em 2026. A preocupação se dá em relação às novas restrições sobre a publicidade de empresas de aposta esportiva, que atualmente são fortes patrocinadoras de eventos culturais, incluindo os principais carnavais do país.

desfile
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Nos últimos anos, as chamadas "bets" têm se aproximado de grandes eventos populares como forma de conquistar visibilidade e fortalecer sua relação com o público. A estratégia é associar dois dos maiores símbolos da cultura popular brasileira: Carnaval e futebol.

Segundo dados publicados pela plataforma autorizada KTO, o futebol representa cerca de 90% do volume de aposta esportiva realizada a cada mês no Brasil. Associar os dois eventos é, portanto, um território fértil para a presença das empresas do setor nos maiores festejos do país.

Em 2025, as principais festas de Carnaval nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda receberam apoio direto ou indireto dessas empresas. Em Olinda, por exemplo, a prefeitura confirmou ter recebido R$ 1,67 milhão de uma plataforma.

A mesma empresa patrocinou trios elétricos em Salvador e blocos em São Paulo, como os megablocos liderados por Léo Santana e Timbalada. No Rio, a Marquês de Sapucaí recebeu uma plataforma de apostas oficial do Carnaval carioca, que promoveu ações exclusivas como o samba super e a super-roda de samba durante os desfiles.

Senado restringe propaganda de aposta esportiva

A razão para a crescente tensão no setor de eventos culturais vem do Projeto de Lei 2.985/2023, aprovado no Senado Federal em maio, que agora segue em discussão na Câmara dos Deputados. O texto estabelece uma série de restrições à propaganda de aposta esportiva de quota fixa.

Segundo a proposta aprovada, ações publicitárias que envolvam a participação de atletas, artistas, comunicadores e influenciadores estão entre as práticas proibidas, salvo algumas exceções específicas, como ex-atletas com mais de cinco anos de aposentadoria.

Entre outros pontos que constam no projeto está a proibição de “apresentar ao público peças publicitárias que mostrem as apostas como socialmente atraentes, como forma de promoção do êxito pessoal, alternativa a emprego, solução para problemas financeiros, fonte de renda adicional, forma de investimento financeiro, garantia ou promessa de retorno financeiro”.

As exibições de odds ao vivo nas transmissões de eventos, assim como a publicidade nos estádios, também são vetadas pelo texto. Publicidades na televisão, rádio, streaming, redes sociais e internet também ficam restritas a horários específicos.

Por outro lado, o projeto também permite a exibição da marca dos patrocinadores e operadores de apostas nas chamadas para transmissões de eventos esportivos entre 21h e 6h, desde que essas não contenham “convite, incentivo ou promessa de ganhos relacionados às apostas”, nem façam referência a cotações, bônus promocionais ou probabilidades. Essa exceção, no entanto, aparece limitada ao contexto esportivo e à mídia de transmissão de jogos.

Carnaval ainda não impactado

Até o momento, as festividades permanecem fora do escopo direto da regulamentação. Isso ocorre porque podem ser oferecidas apostas apenas em eventos esportivos definidos na legislação vigente, excluindo possibilidades como Carnaval, BBB e cerimônia do Oscar.

Isso significa que não é permitido, por exemplo, oferecer odds em bets autorizadas para apostas sobre qual escola de samba vencerá o desfile do Grupo Especial ou sobre outros resultados relacionados ao Carnaval.

Ainda assim, existe a possibilidade que o texto em debate na Câmara sofra alterações que ampliem as restrições de publicidade para além do ambiente esportivo. Como muitas campanhas de marketing associadas ao Carnaval utilizam celebridades, influenciadores e ações promocionais com forte apelo popular, há o risco de que essas práticas passem a ser vetadas, prejudicando financeiramente a realização dos eventos.