O ciclo do carnaval 2025 teve um desafio bastante grande para a Imperatriz da Paulicéia. A escola do Grupo de Acesso II teve uma baixa importanteíssima não apenas para a escola, mas para toda a comunidade: no final do mês de maio de 2024, a quadra da agremiação foi interditada. Já em junho de 2025, foi realizado o evento que marcou o lançamento do enredo da agremiação para 2026 já no espaço – deixando claro que todas as dificuldades foram superadas. Para saber mais a respeito de toda a situação envolvendo a quadra, o CARNAVALESCO conversou com dois nomes importantes da gestão da Princesinha da Zona Leste no lançamento de “Congá, o altar sagrado da minha fé”, enredo da agremiação para 2026.
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Início dos desafios
Como já disse, no final de maio de 2024, a quadra da Imperatriz da Pauliceia foi interditada. A própria agregação noticiou o caso por meio de uma nota nas redes sociais da instituição:
Maralice Lazarini, presidente da instituição, explica de maneira mais coloquial o que aconteceu: “Uma promotora veio bater na gente porque a gente não tinha alvará – e ela não estava errada, a gente realmente não tinha alvará. É muito difícil tirar alvará na cidade de São Paulo: estima-se que 87% dos estabelecimentos comerciais (todos eles, até mesmo shopping e estádios, por exemplo), não tem alvará. Estamos há três anos tentando – antes mesmo dela bater na nossa porta”, comunicou, trazendo um dado importante sobre edificações em solo paulistano.
O processo para obtenção do alvará, entretanto, é bem anterior à interdição: “A gente já tinha dado entrada, nós tivemos uma negativa e, aí, pediram mais alguns documentos. Quando veio essa negativa, ela pediu para a gente entrar novamente com o processo. Mas lei a gente não discute, a gente cumpre. Nós interditamos a nossa quadra e, agora, demos a entrada no alvará de maneira total – e cumprimos todas as exigências. É por isso que a casa está liberada, porque o alvará está com tudo certo”, comemorou.
Vale destacar que, de acordo com o próprio presidente, a quadra foi reaberta apenas no mês de dezembro – ou seja, o encerramento momentâneo das atividades no local tomou boa parte do ciclo carnavalesco para o desfile de 2025.
Reflexão
O presidente também destacou outro departamento envolvido em todo o processo além da Coordenadoria de Controle e Uso de Imóveis (CONTRU), citado na nota oficial: “Nós temos também o aval do CGPATRI [Coordenadoria de Gestão do Patrimônio Imobiliário, ligado à Prefeitura], nós temos uma posse regular do terreno. E, agora, nós estamos, na realidade, esperando só o alvará definitivo. Ele sai depois de um tempo. Mas, agora, está tudo regularizado”, afirmou.
A mandatária da Princesinha da Zona Leste, em todo o momento, mostrou bastante pés no chão para comentar o ocorrido: “Eu não posso reclamar e falar que nós fomos perseguidos. Pela lei, ela está certa, sim. A lei só foi um pouco pesada para as pessoas. Os shoppings estão abertos, os supermercados estão abertos. Qualquer lugar que você chegar e não tiver determinado número de saídas de emergência como nós temos aqui, é irregular. A partir de hoje, agora que a gente sofreu com isso, já chega em um lugar e fala que determinados locais Não possuo as mesmas instalações que construímos. Eu não posso reclamar, também, porque realmente a promotora estava dentro da lei – mas, agora, estamos cumprindo o que todas as leis pedem”, refletiu.
Espaço importante
Inaugurada em 2021, a quadra da instituição, localizada na divisa da Vila Nova Savoia com a Vila Talarico, no distrito da Vila Matilde, se tornou o símbolo de uma escola que teve uma ascensão meteórica no carnaval paulistano, sendo campeã de todos os grupos da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) de 2019 até 2022, até voltar ao Anhembi, no ano de 2023. A agremiação se se estabilizou nos grupos da Liga-SP, permanecendo no Grupo de Acesso II desde então.
Ao começar a falar da quadra, Maralice destacou o papel social de uma escola de samba: “Eu acho que o carnaval recebe muito da sociedade – inclusive do governo. E o carnaval tem que oferecer algo em troca. Aqui, a gente tem trabalho social o ano todo, a gente atende crianças o ano todo, a gente atende famílias. A nossa obrigação é devolver alguma coisa para essa sociedade – em especial para a nossa comunidade em especial. A quadra é importante para a comunidade, sim”, destacou.
Em entrevista ao PodCarnavalesco SP, Ariê Suyane, ex-rainha de bateria do Swing da Pauliceia (bateria da agremiação), falou sobre alguns projetos que ela própria acampou – além, é claro, da passagem pela agremiação:
Para a escola, em especial, o presidente destacou o quanto a quadra ajuda até mesmo a trazer novos componentes: “A Imperatriz não tem uma comunidade formada, então a quadra acabou nos ajudando a formar essa comunidade. A gente abre a porta e o pessoal chega. Nós estamos conseguindo consolidar uma comunidade por causa do tanto que o ano passado foi muito complicado para a gente”, relatou.
Citando outras agremiações, Maralice finaliza: A gente, enquanto não estava regularizado, não abriu. É muito importante porque é um ponto de encontro, é um local para chamar de nosso. A Imperatriz existe aqui. É a mesma coisa que as escolas tradicionais no Grupo Especial – vou falar do Vai-Vai, vai e do Camisa Verde e Branco, que são escolas muito consolidadas. No Grupo de Acesso I temos Nenê de Vila Matilde, Independente… são escolas muito grandes. Até no nosso grupo, mesmo, tem Unidos do Peruche, tem Morro da Casa Verde, Imperador do Ipiranga… tem agremiações muito grandes. A gente é uma escola que chegou e que veio agora. A quadra é muito importante. A quadra é onde a gente consegue reunir forças para levar o carnaval para a rua”, comentou.
É importante destacar a situação de algumas das agremiações mencionadas com as respectivas quadras. Por conta da construção da futura estação 14 Bis-Saracura, da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, o Vai-Vai teve que sair da quadra histórica da agremiação, nas Cinco Esquinas da Bela Vista – formada pelo entroncamento das ruas São Vicente, doutor Lourenço Granato e Cardeal Leme. O terreiro da Nenê de Vila Matilde é nacionalmente conhecido por ser o primeiro coberto no país.
Visão compartilhada
A visão de Maralice é compartilhada por Percio Junior, popularmente conhecido como Batata, diretor de carnaval da Imperatriz da Pauliceia: “A quadra é fundamental para a gente. É fundamental porque a quadra é onde você faz todo o treino. E é onde você consegue fazer com que as pessoas realmente abracem o projeto. Abraça o senso de competitividade, já que o carnaval é isso. Não dá para fugir muito da competitividade cerca que e abraçar o carnaval. É necessário pensar no negócio, é o treino. Treina, treina, e treina. para, no dia do jogo, você estar preparado. A quadra é fundamental”, detalhou.
Para ele, a insegurança em relação à quadra acaba sendo um grande desafio a ser superado: “E a quadra sempre foi o nosso ponto forte. Como nós tivemos esses problemas, tudo isso atrapalhou muito a gente no ano passado, porque você fica nessa incerteza. Você vai se adaptando, fazendo ensaios e eventos fora, faz tudo fora daqui e sai umas pequenas rotinas da comunidade”, acrescentou.
Batata complementa: “A comunidade está acostumada com uma rotina. Quando você sai e faz uma mudança (às vezes nem precisa ser muito brusca), as pessoas, às vezes, demoram para se adaptar – e você não consegue se adaptar algumas vezes. Em cada hora você está fazendo algo em algum lugar, de algum jeito. A quadra é fundamental, fundamental mesmo para o nosso plano dar certo lá na frente”, finalizou.