Aos 69 anos, Moacyr da Silva Pinto faz parte do seleto grupo dos grandes mestres de bateria da história do carnaval. São mais de três décadas na função, um título pela Estácio, dois pela Viradouro, inúmeros desfiles inesquecíveis e o absoluto respeito e admiração do mundo do samba. Se ainda poderia faltar algo nesta carreira, tornar-se enredo de uma escola de samba cumpre, com louvor, a coroação de uma brilhante trajetória, sobretudo, na escola onde ele segue exercendo seu trabalho como mestre de bateria. Ciça ainda se surpreende com a homenagem que a Unidos da Viradouro está lhe proporcionando e com o carinho que tem recebido após ser anunciado como enredo para o próximo carnaval, sendo abraçado pelos componentes da escola e pelos sambistas em geral. Tido como “durão” por alguns, mestre Ciça é só sorriso ao falar sobre este momento da sua vida.
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Se o dia do anúncio como enredo foi de extrema surpresa e emoção para o mestre, a noite dos enredos, realizada no último dia 8, repetiu a dose e balançou o coração de Ciça ao exibir acontecimentos de sua carreira desde garoto.
“Aquele dia foi uma emoção quase idêntica ao anúncio do enredo. Vendo mais conteúdo, eu criança, fiquei emocionado no palco a ponto de até me atrapalhar um pouco. Não poderia atrasar, pois eram 12 minutos de apresentação. No final, nem ouvi o apito direito com tanta gente gritando meu nome, mas segui assim mesmo. Sexta agora tivemos a apresentação de protótipos e foi mais uma emoção, é uma atrás da outra, é um reconhecimento a alguém que está há quase 50 anos no carnaval. Às vezes a gente é cabeça dura, querer que os outros mestres sejam como eu, não nesse negócio de rei da paradinha, pois paradinha todo mundo faz, mas na atitude, no comprometimento, na responsabilidade que o mestre de bateria tem que ter. Mas é esse jeito que me fez chegar até aqui depois de tantos anos”, declarou.
Ele segue sua rotina de chegar cedo à quadra, jogar seu carteado, bater papo com os amigos, mas agora com o assédio de quem é a estrela do carnaval da Viradouro. Abraços, pedidos para fotos, reconhecimento que emociona o mestre.
“O tratamento mudou para caramba. Até algumas pessoas que pudessem ter dúvida em relação a mim já falam com carinho comigo. A cada dia é uma emoção diferente: dentro da quadra, na rua, onde eu menos espero alguém chega e fala ‘olha o enredo aí’. É muito bacana esse reconhecimento. Eu estou orgulhoso de mim, valeu a pena esse tempo todo, é sensacional”, ressalta.
Ciça vive uma particularidade rara: ser homenageado enquanto ainda é profissional da escola, e participará do processo de escolha do samba-enredo que contará sua vida na Marquês de Sapucaí. Em relação a esse processo, ele fala sobre a dificuldade de dosar a emoção ao ver sua vida retratada nas obras e a razão necessária para realizar a melhor escolha técnica para a Viradouro.
“Essa dificuldade já está acontecendo. Não vou citar qual, mas tem uma letra que, quando vi, pensei: isso aqui é minha vida, bate forte. Mas às vezes vem pra quadra e passa totalmente fora, não pega a escola, não serve para o desfile. O samba tem que ter uma melodia muito forte. Eu gosto muito de melodia, é o que muitas vezes torna um grande samba. Estamos analisando. Estou até deixando pra ouvir mais aqui na quadra com a bateria, porque se ficar ouvindo muito acabo gostando demais se mexer comigo. Tem melodia que mexeu bastante, mas tenho certeza de que a escola vai escolher certinho. Estou aí pra colaborar. A Viradouro é uma escola que acerta na escolha do samba-enredo e não será diferente”.
O mestre fez um panorama inicial da eliminatória, que terá 25 sambas, uma parceria se retirou da disputa, e está na fase de apresentação das chaves.
“Na primeira semana se apresentaram nove sambas. Desses nove, passaram três que são muito bons e podem servir à escola. Claro que, numa safra com 25 sambas, teremos ótimos sambas e outros nem tão bons, mas temos coisas boas na disputa. Dia 30 vai melhorar, teremos uma visão melhor, pois acabarão as chaves e todos os sambas irão se apresentar. A safra está numa boa média. Acho que a escola tem uns sete sambas para brigar. Só irão três pra final, mas esses possuem condição de fazer bonito na avenida”, disse, confiante em mais um excelente samba da vermelho e branco.
Após tantas décadas de contribuição ao samba e envolvido na consagração de ter sua vida contada em breve no sambódromo, o sambista reflete sobre sua sequência na carreira. Quer pensar com calma após o desfile, mas não se vê fora do carnaval. “Quando acabar esse carnaval eu vou fazer 70 anos, está na mão de Deus. Hoje eu não sei o que vai ser da minha vida. Lógico, preciso ter uma autocrítica para a função que eu exerço. Tem uma rapaziada nova muito boa, mas eu tenho os ritmistas na mão, meus diretores de bateria são fechados comigo. Vamos ver como será o desfile, a performance. Acredito muito na escola. Posso dizer que quero continuar no carnaval, com certeza, mas vamos ver o que irá acontecer.”, afirmou.
A Viradouro contará a vida de Ciça na Sapucaí no dia 16 de fevereiro, segunda-feira, sendo a terceira escola a desfilar na noite. Se o mestre continuará exercendo sua função por mais alguns anos ele ainda não sabe, mas seu nome, após 2026, estará definitivamente cravado na história do carnaval. Pra cima, Ciça!