Em 2026, o tradicional carro de som deixará de cruzar a Marquês de Sapucaí. A decisão, anunciada pelo presidente da Liesa, Gabriel David, prevê que intérpretes e equipes de harmonia passem a receber o retorno do áudio por fones de ouvido e/ou as caixas de som, sem o veículo que por décadas guiou canto e bateria. Em entrevista ao CARNAVALESCO, intérpretes e mestres de bateria repercutiram a novidade: para uns, é a chance de dar mais liberdade de movimento e ampliar o espetáculo; para outros, um desafio para manter a conexão com o público e o retorno da bateria.
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Surpresa e expectativa
A notícia pegou muita gente de surpresa. “Quero ver, na prática, como é que vai ser… Está sendo uma baita surpresa para mim”, confessou Pixulé, intérprete do Tuiuti, que ainda não conhece a novidade em detalhes. Pitty de Menezes, intérprete da Imperatriz, também não sabia do teste já realizado na Sapucaí. “É muito difícil emitir uma opinião sobre algo que você não experimentou. Não tem como dizer que o chocolate é amargo ou não é amargo se a gente não experimenta. Se for bom, a gente vai ficar muito feliz. Só vai engrandecer o carnaval”, declarou o cantor.

O primeiro teste do novo formato foi feito pela Beija-Flor, atual campeã do carnaval, na Sapucaí. A experiência contou com a participação da bateria “Soberana” e da nova dupla de intérpretes da escola nilopolitana, Nino e Jéssica, mas não foi acompanhada pela maioria dos mestres e cantores do Grupo Especial, que aguardam novos testes para conhecer a nova proposta de som de perto.
Para Casagrande, é preciso ampliar o processo. “A ideia é sensacional, agora a gente tem que ver o funcionamento. Estamos esperando a reunião com todos os mestres de bateria para apresentar o projeto”, disse. Na mesma linha, Mestre Fafá, da Grande Rio, defendeu que sejam feitos mais testes com a participação de mestres, diretores musicais e cantores, de forma que todos se adaptem à novidade. “Se for benéfico, não só para as baterias, como para o espetáculo, eu acho super ok. Acredito que seja uma novidade positiva, torço muito para que dê certo”, declarou.

Recepção: entre entusiasmo e cautela
O fim do carro de som foi recebido com entusiasmo pela nova dupla de intérpretes da Beija-Flor. “É maravilhoso! O carnaval precisa de inovação”, resumiu Nino. Jéssica, sua parceira de microfone, vê potencial na iniciativa e destacou o aspecto positivo da mudança para os profissionais das escolas e o público. “Acho que vai dar uma amplitude muito boa para as escolas. Quando a gente passa na avenida, a gente só enxerga um lado e não conseguimos interagir com o outro lado”, elogiou a mudança.

Outros preferem adotar uma postura de espera. “Só de estar mudando, para mim, é muito importante. Tudo que é novo assusta. Temos que viver aquilo para saber como vai ser na hora de trabalhar”, ponderou Vitinho, que estará à frente da “Tabajara do Samba”, bateria da Portela. Mestre Ciça reforça que o sucesso depende de testes prévios. “Vamos fazer testes antes dos ensaios técnicos. Se der certo, vai ser um espetáculo a mais”, afirmou.

Posicionamento da equipe de harmonia
A mudança pode alterar a dinâmica entre intérprete e bateria. Para Fafá, o novo formato vai “deixar cantor e harmonias bem livres para se locomover”. Nino vê um ganho prático: “O carro dava uma certa aglomeração e estresse por causa do som”.

Por outro lado, há quem prefira, de antemão, manter a formação tradicional. “O pessoal da ala musical tem que vir sempre atrás da bateria, porque a bateria é que vai conduzir a gente”, defende Pixulé. Rodney acredita que, na prática, a posição será a mesma. “Possivelmente, será atrás da bateria. Acredito nisso”, disse o mestre de bateria da Beija-Flor.
Retorno no ouvido: ajustes e possibilidades
O retorno no ouvido é visto como solução técnica por alguns e como desafio por outros. “Gostei bastante. Acho que vai ser um retorno bem melhor para a gente”, afirma Jéssica, que já canta com fone. Ciça avalia que o sucesso do novo sistema depende de um retorno eficiente para a bateria. “A preocupação é o retorno da bateria, mas acho que vai ter um bom retorno para a gente”, disse.

Já Pixulé teme perder a interação com o público. “Eu gosto de ouvir o que a arquibancada está ouvindo. Sou um cara do povo, tá ligado? O fone de ouvido pode trazer uma perda da performance, ainda mais com esse enredo do Tuiuti, o Pixulé vai ser um Eleguá na avenida”, declarou o cantor.

Gustavo Oliveira, do Salgueiro, lembra que nem todos os ritmistas têm experiência com a tecnologia. “Tem muito ritmista que não tem muita experiência de tocar com fone de ouvido. Isso às vezes pode gerar um desconforto e atrapalha a questão rítmica da bateria”, alertou o mestre da Furiosa do Salgueiro, que divide a função ao lado do irmão Guilherme Oliveira.

O que vem pela frente
Com a mudança já confirmada para 2026, a expectativa agora é por uma agenda de reuniões e testes envolvendo mestres de bateria e intérpretes de todas as escolas do Grupo Especial. A previsão é que os testes comecem nos desfiles que celembram o Dia Nacional do Samba, no último fim de semana de novembro, na Cidade do Samba. Além deles, haverá os ensaios técnicos, sendo dois treinos por escola, na Marquês de Sapucaí.