Em todo e qualquer evento em que os Dragões da Real tenha algum tipo de participação (seja como organizadora ou como convidada), uma figura se destaca. Um homem alto e que impõe respeito, mas que também sabe comandar por meio da simpatia e que sabe que não existe nada mais diplomático que um sorriso, um aperto de mão e uma palavra acolhedora. Trata-se de Rogério Félix, diretor de Harmonia da agremiação. Durante a Superfeijoada que comemorou os 25 anos de agremiação não foi diferente. E, nela, o profissional falou sobre diversos temas pertinentes não apenas à entidade da Vila Anastácio, mas, também, assuntos que são caros ao carnaval paulistano como um todo.

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Foto: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Primeiro, uma feijoada

Quando a reportagem chegou ao evento, logo apresentamos alguns nomes importantes da Dragões para realizar entrevistas. Com cerca de seis mil pessoas presentes, nada mais natural que a tarefa demore um pouco. Foi escolhido, ir a um local em que, tradicionalmente, os barracões da Fábrica do Samba se tornam mais vazios: uma antessala entre o espaço em que são montadas as alegorias e a recepção do espaço de cada escola. Para a Superfeijoada, a agremiação utilizou tal espaço para servir a refeição – eram alguns espalhados para a festividade.

Em tal antessala, quem coordenava os presentes era Rogério Félix. Ele orientava, aconselhava, apontava, pegava mais talheres, ajudava na chegada das panelas, chamava quem queria fazer o prato, organizava a fila. Tal cena, como dito anteriormente, é bastante comum em eventos de agremiação.

Rogério, por sinal, destacou a importância do evento para a comunidade: “A Superfeijoada é um encontro onde a nossa comunidade, junto com seus familiares e amigos, participam. sintam bem de servir a comunidade no dia do desfile A feijoada, para nós, é um marco.

Citando sempre as inovações trazidas pelos Dragões para o carnaval paulistano (algo pelo qual a escola muito se orgulha), Rogério lembrou como a agremiação serviu à comunidade mesmo em tempos bastante complicados no planeta: “Assim como algumas entidades, nós não paramos: durante a pandemia, por exemplo, nós fizemos feijoada. As pessoas passando de carro dentro da nossa quadra e receberam o kit da feijoada. Assim nós fizemos festas juninas, também. Da mesma forma nós fizemos uma final de feijoada. samba-enredo – na qual as pessoas assistem de dentro do carro. A responsabilidade de sempre oferecer algo novo para a nossa comunidade é a nossa raiz, queremos fazer um lugar de gente feliz e entregar isso para todos”, comentou.

Dos grandes eventos organizados por escolas de samba no país, os Dragões iniciaram as tradições da Superfeijoada com um público bem menor: “A Dragões é uma escola que sempre tenta se reinventar. Nosso slogan, ‘lugar de gente feliz’, nos cobra demais. São 24 horas de cobrança, esse slogan fica na nossa cabeça. Sempre nos perguntamos o que nós vamos fazer para deixar a nossa comunidade feliz. Lá atrás, quando nós começamos essa feijoada, há 15 ou 16 anos, já era muito feliz. divertido. Comemoramos quando teve a primeira – acho que tivemos 34 ou 36 pessoas. Nós comemoramos semanas por termos feitos uma feijoada, para você ter ideia Hoje a gente recebe quase quatro mil pessoas só para comer – e depois, juntando com o público do show, é uma responsabilidade muito grande.

Nome consagrado

Muitas se surpreenderam quando Rogério Félix, em 2010, assinou com os Dragões da Real. Já consagrado à época, ele relembrou a própria trajetória para começar a explicar tal situação: “Foi bastante eu conseguir convencer as pessoas que eu ia fazer os Dragões. Contando um pouco da minha trajetória, nasci para o samba na Leandro de Itaquera, escola para a qual eu devo muito ensinamentos. Passei por Mocidade Alegre, tive uma passagem muito gostosa pela Tom Maior tive uma passagem rápida pela Unidos de Vila Maria (com o Mercadoria), uma passagem rápida também pelo Peruche, no projeto de carnaval. Eu já Tinha algumas passagens nesse sentido. Eu tinha saído da Tom Maior, tinha feito um ano sabático, no qual eu queria estudar um pouco mais”, lembrou.

O momento do convite foi relembrado logo depois: “Aí, o Tomate, que não era presidente ainda, era vice-presidente, me chamou para conversar e me fez o convite. pouco. Eles abriram o aprendizado e foi assim que nasceu a minha paixão em 2010 junto com os Dragões E, assim, a gente veio só crescendo, com toda a comunidade respondendo aos projetos propostos”, destacou.

Mais uma inovação

O CARNAVALESCO deu destaque para o trabalho realizado pela Dragões da Real em relação ao quesito Evolução . Se a Harmonia da agremiação já é reconhecidamente forte, a completa liberdade para que a comunidade brincasse o samba chamou atenção desde os ensaios técnicos. Em principal responsável por tal característica, Rogério fez questão de compartilhar os louros do reconhecimento: “Esse projeto não é só meu. Eu gosto de ser justo com todos os projetos que eu encampo. Para começar: o Jorge Freitas é um presente para o carnaval de São Paulo. E, para mim, é um presente na minha vida. Não sou pago para falar isso, quero deixar claro. Eu sei que teve muita gente que falou que, quando ele viesse para cá, que a gente iria brigar. Mas a verdade que a gente nunca nem discordou de ideias. Pude ver como a conexão é tão de alma quando a gente começou a sentar para fazer trabalhos É muito gratificante trabalhar com o Jorge Freitas”, comentou.

Ele não foi o único relatado, entretanto: “E o Tomate é um cara que não deixa ninguém quieto. Você para e um segundo e ele fica dizendo que quer novidade mil vezes. Tudo isso somado com o Jorge Freitas, um trabalho que eu já vi o Jorge fazer no Rosas de Ouro. Quando ele chegou, a gente começou a fazer um trabalho e a ideia era soltar a escola. Queríamos fazer um trabalho nesse aspecto. As pessoas se incomodavam um pouco porque não é todo mundo que vê um carnavalesco no meio da quadra, interagindo. Achavam que ele estava fazendo a parte da Harmonia. Quando, na realidade, é justamente o contrário: a gente está fazendo todo o mundo junto, senta junto”, explicou.

O caminho para que tal Evolução bastante leve também fosse possível foi destrinchado: “Esse projeto é de toda a escola, muito na mão do Jorge Freitas. O Jorge Freitas, junto com a Harmonia, junto com os coordenadores, ensaiou todas as alas no ensaio – o que inclui todos também ensaios específicos. Foram feitos esses trabalhos, principalmente para que as pessoas experimentassem soltas, para que as pessoas divertidas brincassem. A ideia é que eles se divertissem. Esse projeto não para aí. Vamos buscar uma forma dele ficar mais nítido ainda na avenida, com fantasia e tudo – como aconteceu nos ensaios técnicos. A gente está fazendo um estudo para que ele aconteça desse jeito. Tudo isso para que, simplesmente, as pessoas olhem e falem que querem vir brincar de carnaval com a gente desse jeito”.

Ensinamentos de crianças

Como não poderia deixar de ser, Rogério Félix já trabalhou com diversas pessoas que carregam consigo boa parte da história do carnaval paulistano. O profissional se mostrou extremamente grato a cada um deles: “Eu sou uma pessoa que sei cabelo branco. Eu sou herança de ensinamentos de Mercadoria, Buiu, Edson da Leandro, o próprio seo Leandro, Elaine da Mocidade… tanta gente. Bebi muito do berço da Mocidade, por exemplo. Acho fundamental respeitar os mais velhos, os que vieram antes e os que conquistaram antes. Não ouvir Jorge Freitas é ser simplesmente louco. Se eu tenho a oportunidade de ver um grande campeão, que sabe fazer, meu pensamento é parar, sentir e aprender”, refletiu.